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Recado do Cheida: um segredo

Luiz Eduardo Cheida* - 22 de dezembro de 2012 - 07:01

Vou te contar um segredo.

Por mais que eu fuce e escarafunche nas conclusões absolutas dos ecologistas, nos alfarrábios da academia, nas conversas dos bares e arrabaldes, nada encontro de mais forte, sobre os males ambientais, que a questão da solidariedade. Sua ausência é causa; sua presença é cura.

Se alguém diz:

- A grande causa da tragédia ambiental é o consumismo.

Eu penso:

- O consumo exagerado, que extrai, gasta, destrói, corrói e aniquila os recursos naturais é o oposto do compartilhamento. Só compartilha quem tem solidariedade.

Se o consumismo é doença, a solidariedade é cura.

Se alguém diz:

- O egoísmo coloca o homem como centro das coisas. Às demais espécies restam as sobras de uma natureza convertida aos interesses dessa espécie voraz. No egoísmo moram as causas dos problemas ambientais.

Eu penso:

- O egoísmo, excessivo e exclusivo amor a si mesmo, considera só o próprio bem e ignora os interesses alheios. Trata os demais como seres de segunda categoria. Para o egoísta, a natureza existe apenas para servi-lo. O egoísmo só é possível quando se descarta a solidariedade.

Se o egoísmo é doença, a solidariedade é cura.

Se alguém diz:

- Quem chancela as agressões ao mundo natural é o individualismo.

Eu penso:

- Para o individualista, o indivíduo é o valor mais elevado dentre todas as coisas. Assim, é inevitável que ele seja o objetivo de tudo o que existe.

Como, então, partilhar do sofrimento alheio? Como apoiar causas que são de interesse de outras espécies vivas? Como responsabilizar-se por um mundo biodiverso?

Na contra-mão do individualismo está a solidariedade, que estabelece laços; que vincula a pessoa a outras pessoas e a outras espécies. E, por isso mesmo, oferece sua cota-parte na manutenção da biodiversidade.

Se o individualismo é doença, a solidariedade é cura.

Se alguém diz:

- A acumulação, que trata a natureza como mercadoria, é quem a destrói.

Eu penso:

Quem acumula, amontoa, amplifica, acaba por ajuntar mais do que necessita. Como tudo provém da natureza, e ela é limitada e de recursos finitos, tirar mais que o necessário, acabará por exauri-la. É uma atitude irresponsável que, além de tudo, gera pobreza e exclusão, ambas também causas de distúrbios ambientais. A acumulação é o avesso da solidariedade, já que esta propõe a responsabilidade e o apoio recíproco entre os seres.

Se a acumulação é doença, a solidariedade é cura.

Se alguém diz:

- A competição é o mal de que padece este mundo desequilibrado.

Eu penso:

- A competição enseja disputa e a disputa, vitórias. De forma litigiosa nos relacionamos com o mundo natural: luta, desafio, rivalidade, disputa. É necessário vencer a natureza. É mesmo necessário vencer a natureza?

Os seres mais evoluídos há muito entenderam que o natural é partilhar. A solidariedade é o caminho óbvio da sobrevivência. As espécies que não entenderam isso há muito já se foram. Nós, humanos, ainda estamos aqui porque somos a mais recente dentre elas. Uma questão de tempo, caso continuemos agindo como adversários.

Laços, vínculos recíprocos, apoio ou adesão às causas dos outros, co-responsabilidade e partilha. Estes são princípios opostos à competição. São exatamente princípios de solidariedade.

Se a competição é doença, a solidariedade é cura.

Um mundo solidário: este é o segredo!

Faça tudo objetivando a solidariedade. Assim, ao invés de descartável, você se tornará imprescindível. E nem é preciso entender de ecologia.

Natal... não é nesta data que comemoramos o nascimento de quem viveu e morreu por um mundo solidário?

Um forte abraço, FELIZ NATAL a você e sua família, e até sexta que vem.




Luiz Eduardo Cheida* é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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