A ministra Marina Silva foi demitida por suas qualidades.

Sua demissão foi uma vitória do mercado. Até porque, para os que pretendem um crescimento a qualquer custo, são sempre empecilhos a serem removidos os que enxergam altos custos em um desenvolvimento a qualquer preço.

A ministra Marina Silva não foi demitida por seus defeitos.

Sua demissão foi uma vitória daqueles que não querem o crédito agropecuário atrelado à comprovação da regularidade ambiental e fundiária. Daqueles que entenderam o recado:

- É proibido desmatar!

Marina bateu-se contra o ex-ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, pela não-legalização da safra de soja transgênica. Lutou até contra governadores de seu partido, como Zeca do PT, que sonhava com cana-de-açúcar e destilarias no Pantanal. Trombou com a ministra Dilma Rousseff, que desejava – e obteve – hidrelétricas no rio Madeira. Divulgou, sem maquiagens, os desmatamentos na Amazônia. Ousou criar 24 milhões de hectares de novas áreas de conservação. E, pecados dos pecados, blasfemou contra o bezerro de ouro, chamado biocombustível:

- O Brasil não quer ser a OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) dos biocombustíveis. Nossa economia depende 50% de nossa biodiversidade. Quem destruiria sua galinha dos ovos de ouro? – indagou, como suplicasse.

Foi sua última pergunta.

O governo respondeu, como respondem os governos quando se metem em enrascadas.
Melhor seria ter sido franco, claro e direto. Poderia até, para enganar a macacada, parodiar nosso compatriota Carlos Drummond de Andrade, que percebia as coisas:


No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

(E eu a removí).

De minha parte, parodiaria Ulysses Guimarães:

Voa, Marina,

Voa em direção ao Sol

Porque és luz!

Um forte abraço e até sexta que vem.





Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.