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Recado do Cheida - Seca anunciada

*Luis Eduardo Cheida - 08 de dezembro de 2006 - 07:10

O forte sol de verão secou o açude onde moravam duas rãs. Desesperadas, entreolharam-se e partiram em busca de outro alagado. Encontrando um poço profundo, cheio d’água, uma disse à outra:

- E aí, vamos descer?

A outra respondeu:

- E se de novo a água secar, como vamos subir?

Prudência é fator de sobrevivência.

A ANA, Agência Nacional de Águas, entregou ontem ao Presidente da República, mais do que um estudo, uma profecia. Trata-se do Atlas Nordeste, previsões científicas que sentenciam o colapso no fornecimento de água para abastecimento humano em 70% das cidades com mais de 5 mil habitantes, no semi-árido nordestino. São 10 estados atingidos, incluindo Minas Gerais, com mais de 40 milhões de pessoas que não terão água após o ano de 2025. Diagnóstico de fazer suar (se ainda houver matéria prima) de medo os mais destemidos compatriotas.

Entretanto, para que não se chegue a esta verdadeira catástrofe, o Atlas Nordeste propõe um conjunto de 546 obras, com investimentos de R$ 3,6 bilhões. Estas obras destinam-se à restabelecer a água necessária para uso humano, impedindo que o caos maior se estabeleça. A demanda por água para a indústria e agricultura irrigada, exige mais que o dobro dos recursos.

A transposição do Rio São Francisco, que pretende o envio de água para Pernambuco, Ceará, Paraiba e Rio Grande do Norte, por módicos R$ 4,6 bilhões, não se inclui nesta proposta. Porém, somada, minimiza o drama.

Os dois investimentos, portanto, integralizam pouco mais de R$ 8 bilhões. Dinheiro de pinga, considerando-se o Orçamento da União e que o desencaixe deverá ser feito no espaço de uma década. Menos de R$ 1 bilhão ao ano.

Deixar secar custará centenas de vezes mais que isso. A todos nós.

O presidente, nos áureos tempos do “Terra, Trabalho e Liberdade”, gostava de dizer que o problema do Nordeste não era a seca, e sim a cerca. Referia-se ao latifúndio, que tomava a terra com água e deixava o duro chão de areia para os desvalidos. Como ironia da história, agora, cortar o arame farpado que cerca o orçamento público e, neste Brasil desigual, despejar água onde se precisa dela, não é decisão de latifundiário. É do presidente. Só dele. Por compromissos com a consciência e, à partir dos estudos da ANA, com a prudência.

Prudência é fator de sobrevivência.

As duas rãs, que não pularam no poço, agradecem.

Um forte abraço e até sexta que vem.



*Luiz Eduardo Cheida é médico e deputado estadual eleito no Paraná. Foi Prefeito de Londrina (1992 – 1996), Secretário de Meio Ambiente do Paraná e Membro titular do CONAMA (2003 – 2006).

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