E a notícia explodiu como foguetório de São João, padroeiro da cidade:

O planeta consome mil barris de petróleo por segundo!

A folha de jornal com a manchete entrou em Alto Alegre pela rua poeirenta, num mês de julho ventado.
Chegou, tangida pelo vento, numa procissão de saquinhos plásticos vazios, gravetos, folhas secas e outros pedaços de papéis.

A professorinha Mercêdes, na ausência de acontecimentos mais recentes, foi tratando de botar o papel empoeirado na roda dos alunos do Grupo Escolar.

- Sabem por que o planeta bebe tanto? – perguntou com a voz que eu tenho a maior saudade do mundo.

Diante dos estudantes, consternados por tanta beberagem, continuou:

- Embora existam formas menos estúpidas, o planeta bebe todo esse petróleo para que sua economia possa girar.

Mas, ali na simplicidade daquela sala de aula, um aluno não sabia o que era economia. Outro, desconhecia a palavra planeta. Mais um, imaginou que petróleo era a marca da pinga. Outro mais, entendeu que beber e girar era o
que o pai fazia quando brigava ca mãe.
Assim, o que era para ser uma contenda energética das mais atualizadas, virou uma verdadeira confusão.

Criança é criança. Assim, depois da aula, o desencontro chegou a passo de serelepe à mesa de jantar. E, como quem conta um conto, aumenta um ponto, a conversa entrou trocada, pela maçaneta da porta, e trocada saiu pela janela da sala.

Manhã seguinte, a cidade acordou na ressaca da polêmica sobre quem bebia mais.

O prefeito, ainda vesgo, ordenou:

- Assunto de pinga? Vão procurar o Nelson!

Nelson, pau d´água profissional e única autoridade civil sobre o tema, dormia na sombra de uma árvore, desde há dois dias, embolado à cachorrada da praça. E, foi coçando as suas e as pulgas da matilha, que deu o veredicto:

- Só conheci um que bebia tanto. Era Nenê Goela de Padre. Mas, esse eu mandei matar pra ficar sozinho neste campeonato do gole! – mentiu e voltou a dormir, depois de ajeitar um cachorro como travesseiro e outro como cobertor.

Assim, na sua inocência de cidade pequena, Alto Alegre achou que ficara sabendo o que nunca imaginara: que Nelson matara um concorrente e que existira mesmo, no mundo, quem bebesse mais do que ele.

Um forte abraço e até sexta que vem.

P.S: O planeta consome mil barris de petróleo por segundo; 50% da eletricidade gerada provém do carvão (o maior poluente atmosférico) e, perspectivas das mais otimistas sentenciam que, nos próximos 30 anos, a demanda por energia crescerá em 50%. A manter esse modelo energético, as conseqüências serão funestas.
É hora de acordar. Deixa o Nelson dormir.









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Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Foi prefeito de Londrina, Secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.