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Recado do Cheida: Minha prima querida

Luiz Eduardo Cheida* - 17 de maio de 2009 - 08:08

Esta semana recebi um e-mail chamando minha atenção para um poderoso artigo na Science American-Brasil. A remetente, uma galinha d´angola de razoável instrução, incitando-me à leitura, terminava a carta eletrônica assinando de forma surpreendente: sua prima.

- Que hora para brincadeiras! Desde quando tenho parentes em Angola? – salvei o endereço mas, irritado, deletei o resto.

Entretanto, as horas passam, o sangue esfria, a bronca arrefece... Resolvi investigar.

E, lá estava ele: um aparente despretensioso artigo sobre o que nos faz humanos. Um estudo sobre o genoma* humano, comparando-o ao genoma de nossos parentes mais próximos, os chimpanzés.

Já se sabe, embora alguns aceitem com visível contragosto, que estes animais e nós compartilhamos mais de 99% de nosso DNA. Das 3 bilhões de bases nitrogenadas (ou letras) que formam o genoma humano, 15 milhões (menos de 1%) modificaram-se nos últimos 6 milhões de anos, desde que homens e chimpanzés seguiram, cada um, o seu caminho a partir de um ancestral comum. Assim, nestes menos de 1% é onde estão as diferenças que nos fazem humanos. E, por isso mesmo, as partes do código genético que foram mais modificadas são as sequencias que mais moldaram a espécie humana. Provavelmente.

Uma destas sequencias, com apenas 118 letras, e que passou por rápida evolução, é conhecida como região 1 da aceleração Humana (Har1, em inglês). Esta Har1 parece ser parte de um gene ativo no cérebro. Exatamente a parte responsável por torná-lo diferente durante a evolução.

O cérebro humano, em tamanho, organização e complexidade, difere do cérebro do chimpanzé. Entretanto, quando esta região é comparada, no universo das 3 bilhões existentes, elas divergem em apenas 18 bases!

Então, como não bastasse e para nosso suplício, o estudo comparou chimpanzés a galinhas. Pasme! a diferença foi de apenas 2 bases...
Dessa forma, parece que a região do cérebro que, evolutivamente, nos distancia de chimpanzés e galinhas, é comandada, dentre as 3 bilhões de bases existentes, respectivamente, por tão somente 18 e 20 delas.

De forma razoável e humilde, e mais humilde que razoável, é humilde e razoável lembrar que, na evolução dos seres vivos, homens e galinhas descendem de um único ancestral, desde há 300 milhões de anos. E que, a estarem corretas as acertivas da Science American, por pouco não temos um cérebro de galinha.

- Minha prima! – cacarejei, isto é, gritei, de um pulo.

Tarde demais. Somos, de fato, parentes desde tempos imemoriais.

Esta semana, tomado por segundos de incontida ternura, só me dei conta de que enviava um e-mail quando, ao relê-lo, deparei-me com o suave, meigo e afetuoso cabeçalho:

Minha prima querida,

Inda que haja quem pense que somos a espécie mais importante do planeta, um forte abraço e até sexta que vem.

Retificando: a partir de agora, humanos e galinhas passam a ser as espécies mais importantes do planeta.

* Genoma é a constituição genética do indivíduo, formada por seus genes. Cada gene é um trecho do DNA.


Luiz Eduardo Cheida* é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.



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