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Geral

Recado do Cheida - Conselho de mãe

Luis Eduardo Cheida - 13 de abril de 2007 - 07:34

Quando a gente é pequeno, é fácil. É só gritar:

-Manhê, cadê minha meia?

E mãe, que tem essa mania besta de saber onde tudo está, larga a panela no fogo, entra no quarto e volta com a meia na mão. A panela continua no fogo, mas é você quem fica com cara de tacho.

E quando a mãe, vendo pelo canto do olho o seu jeito de sentar, descobre (mas não delata) que nasceu sua primeira espinha na bunda?

E quando ela saca, e só ela saca, que algum amor oculto esmagou seu coração com a unha, só porque você não quis comer o docinho que só ela sabe fazer?

Mãe sabe quase tudo. Sabe até o que se sabe que ela ainda não sabe.

Mas, quando a gente cresce e a mãe já não está mais, é a gente mesmo quem tem que responder muitas das coisas que era mais fácil perguntar.

Assim foi quando, debutando neste mês de março na Assembléia Legislativa, me perguntei, e perguntei às dezenas, para onde se dirigia sua excelência, o esgoto sanitário, daquela colenda casa de leis.

Não sei – disse o primeiro, sem prestar atenção.

Sei lá – disse o segundo, com certa indignação.

Pra que quer saber? – inquiriu o terceiro, sem nenhuma emoção.

Vai ver que é para o rio – supôs o quarto, com toda resignação.

Vou além: vai para o Rio Belém – confessou o último, para geral comoção.

Resolvi intervir:

Permita-me um aparte, nobre par?

Pois não?

É aqui mesmo onde se fazem as leis?

Pois sim?

Inclusive as leis ambientais?

Como não?

Todos pensamos, porém ninguém falou:

Se aqui fazemos as leis, se daqui cobramos dos cidadãos, é exatamente aqui onde deve nascer e vicejar a inspiração para que todos ajam de forma adequada.

Apoiado!

Foi quando ouvi de novo a conhecida voz da minha infância. A mesma que ralhava comigo quando eu queria achar a meia sem procurar. E junto com o cheirinho de sagu, ainda quente na tigela, chegou o conselho de minha mãe:

- Menino, quando você aponta o dedo para alguém, três dedos da sua própria mão estão apontados para você. Toma cuidado quando cobrar dos outros: você tem que estar fazendo pelo menos três vezes mais do que está mandando.

De fato, o esgoto sanitário da Assembléia Legislativa do Paraná ainda vai todo para o belo Rio Belém, que corta Curitiba. Mas, agora já se está resolvendo o problema. Tem outros dramas, mas este já está com a solução a caminho.

Daqui a pouco, vamos até poder fazer leis por aqui exigindo que os outros cumpram o que nós já estamos cumprindo. Uótimo!

Pelo menos esse era o conselho da minha mãe.

Um forte abraço a você e à sua mãe e até sexta que vem.


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Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Foi prefeito de Londrina, Secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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