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Recado do Cheida: A maldição

Luiz Eduardo Cheida - 01 de fevereiro de 2008 - 08:29

Uma explosão demográfica mandou para os arrabaldes de uma pequena cidade suíça, da noite para o dia, milhões de larvas do calibre de um dedo mindinho. Estas caminhantes de seis patas, cabeça preta e corpo branco, foram apelidadas de Laubkäfer.

Trafegava o ano de 1497 e os relatos da época assim descreveram o bicho:

Estas pragas penetram no solo no começo do inverno, atacam as raízes e nelas mergulham um dente mortífero, de tal modo que, ao voltar a primavera, as plantas em vez de brotar, mirram e secam.

No desespero de suas noites mal-dormidas, os agricultores conseguiram que as pragas fossem citadas perante o tribunal provençal. Na estrita observância das formalidades da justiça, mediante três editais consecutivos, ajustaram-lhes advogado e um bastante procurador. Em seguida, bombardearam-nas com uma ação de grosso calibre, mediante todas as formalidades requeridas.

O juiz, considerando que as ditas larvas eram criaturas de Deus e que, por isso mesmo, seria injusto privá-las da subsistência, condenou-as a uma região de florestas. Imaginava que, nestas novas instalações, os insetos, daí em diante, não tivessem mais pretexto para devastar terras alheias.
Assim foi feito.

Entretanto, as bestiagas não se curvaram à sentença e por ali permaneceram.
O juiz, contrariado, concedeu-lhes, então, um prazo de três dias para que abandonassem, definitivamente, o local.
Nada. Conforme passavam as horas, o número delas só fazia aumentar.

Foi então que o meritíssimo, constatando que seu ultimato não surtira o mínimo efeito, convocou o bispo que, em plenos poderes de seu sacro ofício, para cima dos animais, fulminou o seguinte anátema:

Em nome de Deus todo poderoso, de toda a corte celestial, da santa igreja divina, eu vos amaldiçôo, onde quer que estejais, e sereis malditas, vós e vossos descendentes, até que tenhais desaparecido de todos os lugares!

Não paira a menor dúvida de que o prelado, distante das convicções do juiz que as considerava criaturas de Deus, considerou o flagelo um instrumento do demônio e que, por assim ser, em frontal oposição à autoridade eclesiástica e, como bem disse, à corte celestial.

Seja como for, o fato é que os Laubkäfer, dias após a maldição do bispo, se foram tão rápido quanto vieram.

Acontecia assim, quando a inocência, casada com a ignorância, andava de mãos dadas pelo mundo.

Arréda!

Um forte abraço e até sexta que vem.

Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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