Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Quinta, 28 de Março de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Raspar a cabeça em cirurgias pode não ser necessário

Agência Notisa - 24 de junho de 2004 - 10:18

Mobilizados pelo baixo sentimento de auto-estima que determinados pacientes apresentam quando submetidos à tricotomia (raspagem do cabelo) do couro cabeludo no pré-operatório neurocirúrgico, pesquisadores dos hospitais Angelina Caron e Infantil Pequeno Príncipe, no Paraná, e Regional Vale do Ribeira, de São Paulo, avaliaram 640 casos de neurocirurgia em que a equipe cirúrgica optou pela adoção da não tricotomia tradicional. Das sete infecções pós-operatórias encontradas, três foram em crianças com menos de nove anos e dos adultos — com idade entre 15 e 47 anos —, um tinha sofrido ferida aberta por duas horas antes da admissão no hospital com diagnóstico de hematoma subdural (sangue sob a "capa" que envolve o cérebro). A taxa de infecção encontrada, sem distinção de sexo é igual a de outras pesquisas científicas, sendo que o estudo investigou também os casos do Hospital Universitário Cajuru.

De acordo com artigo publicado nos Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 54 casos que não pudereram ser avaliados por mais de 30 dias após terem feito a cirurgia foram excluídos da análise. Do total dos 640 validados, então, 253 pacientes, vítimas de cirurgia de emergência, não haviam sido, obviamente, feito lavagem da cabeça no dia anterior à cirurgia. Com relação aos 387 pacientes eletivos (cirurgia sem ser de emergência) checados, Dvilevicius e colegas afirmam no texto que “na véspera da cirurgia, os pacientes foram submetidos à lavagem adequada do cabelo usando ‘shampoo’ (quando possível com princípio ativo à base de clorhexidine) ou sabonetes normais”. E todos os pacientes “na sala de cirurgia, após a indução anestésica e administração de antibiótico profilático (cefalotina 100 mg/kg/dia dividido de 6/6 h em pacientes abaixo de 30 kg e 1g endovenoso naqueles com peso acima de 30 kg, de 6/6 h), foram submetidos à vigorosa lavagem de todo o couro cabeludo com solução de PVP-I degermante por mais ou menos 10 minutos, sendo feito então enxágüe com água”.

Em meio aos vários procedimentos utilizados para evitar rigorosamente o contato dos fios de cabelo com o campo cirúrgico até o fechamento da ferida, as cirurgias analisadas retrospectivamente pelos médicos foram homogeneamente encerradas sendo que — dizem no texto — “no fechamento da pele, necessita-se da presença do auxiliar que pressionará as bordas da ferida, afastando com auxilio de instrumentos os fios de cabelo e assim facilitando a realização da sutura da pele, seja ela com pontos separados ou continua. Após a sutura da pele, vigorosa lavagem de toda a cabeça com água oxigenada (10 volumes) e soro fisiológico é feita para remoção de possíveis fragmentos de osso e sangue. Segue-se então a realização do curativo e enfaixamento da cabeça”.

Os resultados também não mostram diferenças com relação às idades dos pacientes que variaram entre 1 mês e 76 anos, mas nos casos de infecção nas crianças, elas haviam sido submetidas à derivação ventricular externa com infecção prévia e/ou disfunção de derivação interna. Entre os adultos, predominou a infecção da ferida cirúrgica no traumatismo crânio-encefálico (TCE), provavelmente devido à contaminação do paciente emergencial. De qualquer forma, para estes neuro-cirurgiões, os resultados são alentadores no sentido de se poder pensar em optar por um procedimento que minimize o sofrimento do paciente. Salientando que a tricotomia não é uma prática que impeça ou mesmo contribua para minimizar a infecção pós operatória, eles avisam que desejam “ num futuro próximo realizar um estudo mais amplo, randomizado, duplo-cego, com grupo controle com pacientes com tricotomia (realizada com máquina de tosquiar), ainda inédito na literatura, obtendo-se mais dados na comparação das duas técnicas” e complementam: “julgamos que não há necessidade imperativa para a realização da tricotomia nos procedimentos cranianos neurocirúrgicos, pois não mostraram em nossa análise, motivos teóricos ou práticos suficientes que justificassem sua feitura”.



Agência Notisa (jornalismo científico - scientific journalism)



SIGA-NOS NO Google News