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Quase 70% das prostitutas têm depressão
Um cotidiano de momentos difíceis, bem diferente do que a voz popular se encarregou de denominar como vida fácil. Para investigar a rotina de vida de prostitutas, pesquisadores da PUC-RS se reuniram e avaliaram o índice dessas mulheres que apresentam depressão. O resultado pode causar espanto: 67% das mulheres que exercem uma das mais antigas profissões do mundo apresentam sintomas depressivos.
O estudo, divulgado pela Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul, avaliou 97 mulheres, com idades variando entre 18 e 60 anos. Segundo os pesquisadores, a profissão que existe desde a Grécia Antiga é exercida em Porto Alegre nas mais diversas condições, desde bares, boates ou mesmo nas ruas. Existem poucos estudos relacionando sintomas ou transtornos depressivos e prostituição, e nenhum estudo realizado em Porto Alegre foi encontrado pelos autores, diz o texto.
Definida a amostra, os pesquisadores partiram para os dados que seriam avaliados tais como idade, escolaridade, prática religiosa, cor da pele, razão para manter a atividade, renda média mensal, intenção de parar de prostituir-se, uso de preservativos, doenças sexualmente e uso de drogas ilícitas. Para avaliar a presença dos sintomas depressivos, o estudo utilizou 21 perguntas, baseadas em sintomas que tivessem ocorrido na semana anterior.
De acordo com os resultados, o motivo de depressão das prostitutas pode estar bem longe de razões financeiras, visto que a renda média mensal das pesquisadas ficou em torno de mil reais, quantia alta, se comparada ao salário médio do brasileiro. Contudo, a maior razão apontada para continuar na atividade foi de causas econômicas, justificativa dada por mais de 90% das pesquisadas. E, apesar das razões econômicas, 86,6% das prostitutas têm intenção de parar com a atividade.
Outros dados importantes para as análises dão conta de que 48,5% das prostitutas pesquisadas já tiveram pelo menos um aborto, quase 30% já contraíram doença sexualmente transmissível e mais da metade delas possui companheiro fixo. Por outro lado, uma boa notícia: mais de 93% das prostitutas gaúchas estão usando camisinha em suas relações sexuais. A prevalência de 28,9% de doenças sexualmente transmissíveis ao longo da vida, número aparentemente reduzido dados os riscos inerentes à pratica profissional da amostra, pode ser parcialmente explicado pela taxa de 93,8% de utilização de preservativos encontrada, afirma o estudo.
Sobre isso, um estudo prévio feito com prostitutas da mesma cidade revelou que o preservativo serviria como um diferenciador de relacionamentos. A maioria das mulheres considera um sinal de fidelidade ao marido ou companheiro fixo a não utilização de preservativos com ele, e o preservativo simbolizaria a diferença entre a vida particular e a profissional, destaca o texto.
Entretanto, um dos dados mais relevantes para as conclusões, segundo os pesquisadores, foi a relação das prostitutas que apresentam sintomas depressivos 67% da amostra com o álcool, fumo e substâncias ilícitas. Entre o grupo das entrevistadas que apresentavam sintomas depressivos, mais de 70% delas faziam uso de álcool e 32,2% afirmaram praticar alguma religião. A prevalência de sintomatologia depressiva em 67% dos indivíduos da amostra chama a atenção, bem como a associação estatisticamente significativa entre a presença destes sintomas com uso de álcool, história de doenças sexualmente transmissíveis e ausência de prática religiosa, destaca a pesquisa.
O estudo observa que a prática religiosa acaba atuando como um fator de auxílio para as prostitutas, com relação ao desenvolvimento de sintomas depressivos. A prática religiosa aparece na amostra como um fator de proteção em relação à presença de sintomas depressivos, o que corresponde a achados de literatura em que a prática religiosa está associada com a redução de risco de transtornos depressivos ao longo da vida e a melhoria de qualidade de vida, esclarecem os pesquisadores.
Na opinião dos estudiosos, mais pesquisas envolvendo o cotidiano das prostitutas de Porto Alegre e de outras cidades brasileiras se fazem necessários. O estudo tem o objetivo de chamar a atenção para essa população de risco colocada à margem da sociedade, mas que, seguramente, necessita de atenção e investigações que complementem e enriqueçam os dados aqui relatados sobre este grupo sobre o qual pouco se sabe e se pesquisa em nosso meio, conclui o texto.
Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)