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Puccinelli diz que vai para a "gerência do sacrifício
O primeiro discurso de André Puccinelli (PMDB) já como governador foi marcado pelo destaque às metas administrativas e por críticas veladas ao atual Executivo estadual. Após efetuar o juramento e assinar o termo de posse, o peemedebista usou da palavra para comentar a atual situação de Mato Grosso do Sul, afirmando que, em um primeiro momento, seu governo será voltado para coordenar a gerência do sacrifício.
Puccinelli afirmou que a realização de sacrifícios é uma questão de sobrevivência, referindo-se aos R$ 6,4 bilhões de dívida que o Estado tem com a União, e aos cerca de R$ 1 bilhão de compromissos a curto prazo. De acordo com o novo governador, o déficit operacional do Estado chega a R$ 1 milhão ao dia.
Os compromissos financeiros fazem parte da primeira agenda de ações que Puccinelli listou. Durante seu discurso, o governador afirmou que pretende pautar sua relação com o governo federal com a repactuação das dívidas do Estado e da Lei Kandir, que nos últimos dez anos tirou R$ 1,5 bilhão do Estado.
O governador também listou o desenvolvimento econômico como uma meta de sua gestão. Nessa área, a agroenergia será um dos enfoques do Estado nos próximos anos. O petróleo vai acabar, e Mato Grosso do Sul tem condições de liderar a agricultura de energia, gerando oportunidade de emprego e expansão de renda, discursou Puccinelli.
A desburocratização dos procedimentos para futuros investidores também foi anunciada pelo governador, que também mostrou preocupação com o meio ambiente. O desenvolvimento sustentável sem passivo ambiental é palavra de ordem, para preservar os recursos necessários para o presente e vitais no futuro, sublinhou.
Médico por profissão, Puccinelli também disse que a saúde estadual precisa acabar com a ambulancionterapia (envio de pacientes de baixa gravidade do interior para tratamento nos grandes centros urbanos), contando com o apoio dos prefeitos para este fim; e que visa dar à educação o enfoque de preparar os estudantes para o mercado de trabalho.
Dois setores mereceram um puxão de orelhas do novo governador. Ao comentar os programas sociais mantidos pela atual administração estadual, Puccinelli disse que a generosidade do Estado não deve gerar sensação de paralisação, pondo a perder o maior patrimônio do Estado, que é a capacidade de luta do povo. Quanto à segurança pública, além de prometer a integração das polícias, o novo governador prometeu pulso firme para garantir o direito de ir e vir das pessoas de bem.
Apesar do tom técnico e crítico das palavras, Puccinelli também demonstrou emoção durante sua fala, embargando a voz em pelo menos duas ocasiões. Ao começar o discurso, o governador abordou o povo de Mato Grosso do Sul, que considerou uma gente brava, resistente como cerne de aroeira, palavras que lhe encheram os olhos de lágrimas.
Prometendo lutar até o fim com fé e vencer com trabalho, Puccinelli também se emocionou ao parafrasear a Madre Teresa de Calcutá, que dizia ter o coração nas mãos. Em Mato Grosso do Sul, no coração da gente, afirmou, recorrendo ao lema de suas campanhas à prefeitura de Campo Grande e, em 2006, ao governo estadual.
Depois de deixar a Assembléia, Puccinelli seguiu em um carro acompanhado do presidente do Legislativo estadual, Londres Machado, e da primeira-dama, Beth Puccinelli, até a Governadoria, onde recebeu a faixa governamental das mãos de Zeca do PT, diante de um grupo formado por cerca de 300 pessoas. O gesto, alardeado pelo governador que sai, coloca fim a uma gestão de pelo oito anos e abrindo as portas do governo do Estado a principal rival do PT no Estado na última década que venceu as eleições deste ano no primeiro turno.