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Progresso científico nem sempre populariza a ciência

Agência Notisa - 13 de abril de 2005 - 07:59

Durante conferência no 4º Congresso Mundial de Centros de Ciência, o cosmólogo e astrofísico indiano, Jayant Narlikar, afirmou que centros de ciência são a melhor forma de sensibilizar a população.



Freqüentemente, o progresso científico e tecnológico é associado a um processo de racionalização do povo de um país. Quanto mais desenvolvido, menos supersticioso. Se tal conceito pudesse ser considerado uma regra, a Índia seria a exceção: passados 50 anos desde sua independência, o país modernizou-se, posssui centros de pesquisa de referência internacional mas, a despeito disso, a maioria da população continua enraizada ao passado. Esta é a avaliação do cosmólogo e astrofísico indiano Jayant Narlikar, presente ao 4º Congresso Mundial de Centro de Ciência. Segundo ele, o grande desafio da comunidade científica na Índia, hoje, é popularizar a ciência para combater superstições.



“Longe de serem mais modernos, os jovens são tão supersticiosos quanto seus pais”, lamentou Narkilar. O cientista citou como exemplo da realidade indiana a crença na astrologia. “A população consulta astrólogos antes de tomar qualquer tipo de decisão, como mudar de casa ou comprar um carro. Ministros adiam medidas e há casais que mudam a data de casamento por problemas em Marte ou Saturno”, exemplificou.



Centros versus crenças



Durante sua conferência, Narlikar procurou destacar a importância dos centros de ciência na popularização da ciência com base na experiência indiana. “O contato direto com a aplicação de uma ciência é o principal meio de estimular o interesse pelo assunto”, defende. Segundo o astrofísico, hoje existem quatro categorias de centros de ciência, de acordo com suas funções e atividades: planetários, museus exploratórios, museus de ciência e cidades-ciência.



Narlikar tomou como ponto de partida os planetários, cujo foco é o estudo dos astros. Ele explicou que, o que poderia se resumir a uma projeção de um céu estrelado e pequenas curiosidades sobre algumas constelações, sobretudo com o avanço tecnológico, pode se tornar uma verdadeira viagem pelo espaço. “Há vários fenômenos que podem ser demonstrados, de buracos negros a nascimentos de estrelas”, disse. Na prática, isso pode gerar um choque de conceitos.



Por sua vez, os museus exploratórios são como laboratórios de ciência em que os visitantes interagem com os objetos, realizando experiências e comprovando conceitos. Narlikar ressaltou a interatividade do ambiente. “É apenas quando brincamos com uma situação que compreendemos um conceito científico”, defendeu o cosmólogo. Para ele, esse tipo de museu poderia suprir inclusive uma lacuna na formação do ensino público. “Nas escolas indianas, as turmas possuem muitos alunos, o que, somado à falta de recursos, inviabiliza a realização de experimentos em sala de aula. Os exploratórios, nesse contexto, poderiam ser construídos em locais estratégicos de maneira que pudessem ser utilizados pelas escolas da região”, propôs.



Sobre o museu de ciência, Narlikar explicou que ele é mais complexo que o exploratório na medida em que oferece diferentes tipos de exposição. “É o local ideal para se traçar um panorama da história do desenvolvimento científico. Pode-se, até mesmo, mostrar o lado humano do cientista, nem sempre objetivo e racional: a ganância, a disputa pelo poder e a inveja”, afirmou. Ele defendeu ainda que esses museus se voltem aproveitem temas contemporâneos e cita como exemplo a tsunami, que poderia atrair grandes públicos.



Por fim, Narlikar definiu a cidade-ciência como uma espécie de parque de diversões, no qual o aprendizado é mais importante que o divertimento. Segundo ele, nesses locais pode-se montar um parque jurássico, com dinossauros em tamanho real, ou organizar uma mostra em que o vistiante percorra todo o corpo humano, acompanhando o fluxo sangüíneo. “Esse modelo pode ser um grande negócio como a Disney, mas voltado para a ciência”, resumiu.



Na opinião do pesquisador, os centros de ciência atuam na direção correta, pois não criticam as crenças diretamente, apenas mostram os fatos e deixam que as pessoas tirem suas próprias conclusões. “Recentemente ocorreu um eclipse parcial que poderia ser visto a olho nu. Fotos das ruas das cidades, tiradas durante o fenômeno mostravam uma cidade completamente vazia: todos estavam em casa. Acredita-se que demônios engolem a lua (ou o sol) e por isso as pessoas não saem de casa”. Pois uma simples visita a um planetário poderia mudar a visão de mundo de muitos cidadãos.“Como explicar o fato de que um foguete sai da Terra com uma rota precisa e chega em Marte na data prevista?”, interrogou.



Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

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