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Professora de MS explica o que é o Aqüífero Guarani

Regiane Schio (*) - 22 de maio de 2004 - 10:52

Nos últimos anos, uma das grandes preocupações ambientais tem sido a escassez da água. Uma preocupação que foi amenizada com a descoberta do Aqüífero Guarani, considerado a maior reserva de água doce e potável do mundo. Talvez o único com água potável a 2 mil metros de profundidade, uma vez que outros aqüíferos como Arábia Saudita, do Egito, da Líbia, da Austrália, da França (Paris) e do Arizona, nos Estados Unidos, similares geologicamente, apresentam altas taxas de salinidade, tornando-os impróprios para o consumo humano.

O Aqüífero Guarani localiza-se no centro-leste do continente Sul-Americano, abrangendo uma área próxima de 1,2 milhão de km². A área de distribuição se estende por quatro países: 840 mil km² no Brasil, 225 mil km² na Argentina, 71,7 mil km² no Paraguai e 58,5 mil km² no Uruguai.

No Brasil, o aqüífero ocorre em oito Estados: Mato Grosso do Sul (213,2 mil km²), Rio Grande do Sul (157,6 mil km²), São Paulo (155,8 mil km²), Paraná (131,3 mil km²), Goiás (55 mil km²), Minas Gerais (51,3 mil km²), Santa Catarina (49,2 km²) e Mato Grosso (26,4 mil km²).

A denominação Aqüífero Guarani é uma homenagem à nação Guarani, uma tribo indígena que habitava toda essa região nos primórdios do período colonial, e foi dada após um segundo acordo comercial entre os países, em que se localiza. Inicialmente havia recebido a denominação de Aqüífero Gigante do Mercosul. Na Argentina e no Uruguai, o aqüífero era reconhecido como Formação Taquarembó e, no Paraguai, como Formação Missiones.

A água do aqüífero é considerada potável em quase toda a sua extensão, sendo raros os pontos onde as suas águas apresentam, originalmente, teores de salinidade e enriquecimento em flúor acima do limite de potabilidade.

Isso se deve por vários fatores, dentre eles:

1) Presença de mineral, dióxido de silício (SiO²), que não reage com a água.

2) Diferente das demais unidades hidrogeológicas do planeta, os sedimentos que formam o Aqüífero Guarani não sofreram influência marinha. Devido a isso, existe a ausência de altos teores de salinidade.

3) Clima úmido existente a partir do período Cretáceo (há cerca de 135 milhões de anos), propiciando a recarga (infiltração) e a descarga de volumes significativos de águas, o que proporcionou a formação de grande volume, um "mar" de água doce, que se acumulou no subsolo.

4) Atualmente, as precipitações (chuva) variando de 1.000 a 2.400 mm anuais, fizeram com que esta região do continente Sul-Americano se transformasse, potencialmente, em uma das regiões mais ricas em recursos hídricos subterrâneos do mundo.

5) O ciclo de renovação das águas do aqüífero é relativamente muito mais curto do que o calculado para as demais unidades geológicas correlacionáveis nos outros continentes do globo terrestre, que além da influência marinha, apresentam um tempo para renovação de fluxo da água da ordem de dezenas de milhares de anos.

Apesar das características descritas, há uma significativa preocupação com relação às áreas de recarga, áreas consideradas mais vulneráveis, devendo ser objeto de programas de planejamento e gestão ambiental permanentes para se evitar a contaminação da água subterrânea e sobrexplotação do aqüífero com o conseqüente rebaixamento do lençol freático, o impacto nos corpos d'água superficiais e conseqüentemente no desenvolvimento socioeconômico e ambiental das regiões de que faz parte.

Muitos estudos devem ser desenvolvidos para possibilitar a utilização racional e o estabelecimento de estratégias de preservação eficientes. Até hoje, muitos poços vêm sendo perfurados para a exploração da água subterrânea, sem a devida preocupação com sua proteção, sendo cada caso ou problema tratado isoladamente.

Diante da demanda por água doce, faz-se necessário o entendimento amplo do sistema hídrico "Aqüífero Guarani" de forma a gerenciar e proteger este recurso. Para tanto, é necessário organizar os dados e informações existentes, de forma que seja possível integrar a utilização dos bancos de dados dos diversos países abrangidos pelo Aqüífero, permitindo identificar as áreas mais frágeis que deverão ser protegidas.

A divulgação dessas informações é ferramenta fundamental para a implementação e consolidação de um sistema de gestão adotado em nível nacional ou internacional, um desafio para todos os países contemplados pelo aqüífero.

(*) Regiane Schio é bióloga, especialista em Gestão Governamental pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e Mestre em Tecnologias Ambientais com ênfase em Saneamento Ambiental pela mesma instituição.

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