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Presas não usam preservativos e não sabem o que é DST

Agência Notisa - 18 de agosto de 2004 - 08:43

Idade média entre trinta anos, gravidez na adolescência, doenças sexualmente transmissíveis e, lamentavelmente, sem hábito de usar preservativo nas relações sexuais. Esse é o retrato da vida de mulheres encarceradas em penitenciárias no estado do Espírito Santo, segundo dados de uma pesquisa da universidade federal desse estado e da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, publicada na Revista de Saúde Pública (Vol.38, nº2).

O estudo, cujo objetivo era identificar o perfil sociodemográfico e as condições de saúde da população carcerária feminina do Espírito Santo, contou com a participação de 121 internas, que foram entrevistadas e submetidas a exames clínico-ginecológicos. A média de idade das participantes foi de 30,2 anos e a escolaridade média foi de 4,8 anos, sendo que mais da metade das encarceradas completou menos de quatro anos de estudo. Em relação à história penal, o envolvimento com o tráfico de drogas foi o delito mais observado, mas outros crimes, como homicídio e roubo, também foram freqüentes. As mulheres, segundo o texto, estavam convivendo no presídio desde há apenas um mês até em torno de 16 anos.

Todas as participantes já tinham atividade sexual anterior à prisão e também recebiam visita íntima no presídio. A idade média da primeira relação sexual foi de 15,2 anos, variando de nove a 27 anos. Das entrevistadas, 50,4% relataram ter tido alguma história de aborto, variando de um a oito abortos. Dentre as 107 que já haviam engravidado, a média de idade da primeira gestação foi de 17,3 anos.

Por outro lado, gravidez na adolescência foi um dado freqüentemente relatado: 31,8% engravidaram antes dos 15 anos e 60,7%, antes dos 17. A maioria das participantes, segundo o estudo, não usava nada para contracepção, apesar de receber seus parceiros sexuais para visitas íntimas semanais: “relataram nunca ou raramente ter usado preservativos, tanto como método contraceptivo quanto para prevenção de DST, 78,5% das mulheres”, dizem os pesquisadores no texto.

O estudo também destaca a ocorrência de doenças crônicas e infecciosas de diversos graus de severidade e de complexidade. Os usos regulares de álcool, maconha e cocaína foram relatados por cerca de 50% da população: ”não é raro encontrar, entre as recentemente encarceradas, a presença de tuberculose e hipertensão arterial não diagnosticadas e/ou não tratadas, bem como de infecção pelo HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST) em iguais condições”, explicam os pesquisadores.

Já na investigação da história clínica relatada pelas participantes ficou evidente para a equipe científica que o acesso dessas mulheres à orientação e a cuidados gerais de saúde já era deficiente antes do encarceramento. “Aproximadamente 50% delas nunca tinham realizado exame ginecológico de rotina; as condições precárias de vida, a baixa escolaridade e a falta de informação adequada contribuem para essa situação. No momento da entrevista, 21,2% das mulheres não sabiam o que era uma DST e nem como identificá-la”, dizem.

Para os pesquisadores, os resultados encontrados mostram a necessidade da implementação de atividades educativas, preventivas e terapêuticas durante o encarceramento: “esse segmento da população, que estatisticamente tem mais problemas de saúde do que a população geral, tem menor acesso aos serviços de atenção à saúde. O encarceramento pode representar um momento oportuno para se considerar novas estratégias de abordagem dessa população e se implementar políticas de assistência à saúde mais adequadas”, explica o estudo.

Na opinião da pesquisa, é importante que educadores entendam a vida dessas mulheres e dos fatores sociais que contribuem para o encarceramento, bem como de quais recursos e ferramentas seriam necessários para promover mudanças de comportamento: “serviços de saúde adequados devem ser implementados para que o controle de doenças e o acesso aos cuidados de saúde da mulher entre a população carcerária feminina tenham êxito”, concluem os pesquisadores.

Agência Notisa (jornalismo científico - scientific journalism)

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