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Geral

Precisamos suplementar sódio durante o exercício prolongado?

Portal Educação Física - 22 de abril de 2016 - 11:00

A suplementação de sódio é uma prática amplamente utilizada por muitos atletas e praticantes de atividade física, principalmente por aqueles que praticam de modalidades prolongadas. Isso, pois, muitos acreditam que precisamos, a todo e qualquer custo, repor o sódio perdido no suor durante o exercício físico. Mas será que isso é benéfico? Será que é, sequer, necessário?

Essa recomendação sugere que um sujeito deva repor ao máximo as perdas de líquidos e eletrólitos pelo suor durante o exercício.

Existem várias matérias falando sobre o potencial exagero da recomendação sobre se a desidratação realmente piora o desempenho, uma vez que o desempenho esportivo (desempenho em tarefas contrarrelógio, ou seja, o quão rápido um sujeito corre uma maratona, por exemplo) não parece ser prejudicado com perdas de até 4% do peso corporal durante o exercício físico prolongado. Já foi publicado ainda sobre o fato de que, além de exagerada, essa recomendação pode ser perigosa para a saúde. Isso, pois, a ingestão de líquidos excessiva (estimada em > 3,5 L em provas de até 5h), pode predispor ao quadro de hiponatremia (definido pelas baixas concentrações de sódio no sangue).

Percebam que a referencia é a “líquidos” e não água. Isso quer dizer que seja este líquido qual for (água, isotônico, água de coco, suco, etc), se consumido excessivamente, pode predispor à hiponatremia, mesmo que ele contenha sódio em sua composição. Muitos argumentarão que isso decorre do fato dos isotônicos, sucos, etc, terem pouco sódio, não sendo capazes de repor as quantidades de sódio perdidas pelo suor durante o exercício. Isso é, de fato, verdade. Perdemos, em média, 1 g de sódio por litro de suor. Os isotônicos fornecem, no máximo, 0,5 g de sódio por litro; a água de coco 0,3 g de sódio por litro; e um suco de caixinha 0,04 g de sódio por litro.

Em vista disso, seria lógico pensarmos que a suplementação de sódio durante o exercício poderia ser eficaz em compensar suas perdas pelo suor, diminuindo as chances da ocorrência de hiponatremia. Talvez seja por isso que muitas pessoas façam essa suplementação, normalmente por meio de tabletes e sal ou até mesmo pacotinhos de sal de cozinha (aqueles que vemos em restaurantes).

O estudo de Hew-Butler et al (2006) testou essa hipótese. Neste estudo, atletas do Cape Town Triátlon Ironman foram divididos em 3 grupos: um grupo ingeriu em média 15 tabletes de sal, equivalentes a 3,6 g de sódio; um grupo placebo (15 tabletes); e um grupo sem suplementação. A ingestão de sódio e líquidos por meio isotônicos e alimentos ao longo da prova foi semelhante entre os grupos, bem como a perda de peso durante a prova (~ 3% do peso corporal inicial). Além disso, as concentrações sanguíneas de sódio estavam virtualmente iguais ao final da prova quanto comparadas ao início da prova nos três grupos. Ou seja, nem o exercício nem a suplementação de sódio alteraram as concentrações sanguíneas de sódio.

Este resultado parece se justificar por um simples motivo: na ausência da ingestão hídrica excessiva, as concentrações de sódio se mantêm dentro de valores ótimos durante o exercício físico, mesmo mediante a desidratação (perdas de até 4% do peso corporal). Isso já foi demonstrado inúmeras vezes, até mesmo durante exercícios ultraprolongados (provas de até 12-13 horas) (ver Hew-Butler 2007). Isso porque nosso organismo parece lançar mão de mecanismos neuroendócrinos que defendem a osmolaridade sanguínea, de modo a preservar a função das células, apesar da perda de água e sais pelo suor, seja o exercício o quão prolongado for.

Isso coloca em xeque a necessidade de se repor ou suplementar sódio mesmo durante exercícios físicos de ultraduração. Claro que nessas provas, alguma reposição de sódio por meio de alimentos e suplementos ocorrerá de forma natural, mas nunca serão capazes de repor totalmente o sódio perdido durante o exercício. Mesmo assim, as concentrações de sódio se mantêm dentro dos limites fisiológicos, desde que a ingestão hídrica não seja excessiva. Logo, nosso organismo, mais uma vez, traz provas do quão eficiente é em manter o equilíbrio dos nossos sistemas orgânicos mediante situações de estresse, de modo a preservar a sobrevivência. Nós é que, normalmente, costumamos subestima-lo.

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