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Geral

Pragas da goiabeira

Fernando Mendes Pereira e Sergio Antonio Bortoli - 24 de novembro de 2015 - 05:06

A cultura da goiabeira, Psidium guajava L., nas diferentes fases de seu desenvolvimento, é atacada por alguns insetos-pragas responsáveis por diversos tipos de danos qualiquantitativos. Esses insetos devem ser controlados para que se evitem prejuízos, algumas vezes, de grandes proporções. Mariconi & Soubihe Sobrinho (1961) registraram, em todo o território nacional, mais de cem espécies de insetos em goiabeira, relacionando as mais importantes em função do dano potencial que elas são capazes de provocar. Serão citadas neste capítulo as principais pragas da cultura da goiabeira, em ordem de surgimento nas várias épocas do ano, procurando-se, assim, facilitar uma esquematização para o tratamento fitossanitário.

1. BROCA-DAS-MIRTÁCEAS

1.1 Descrição
A lagarta da broca-das-mirtáceas (Fig. 1), conhecida também como broca-da-goiabeira, Timocratica albella Zeller, 1839 (Lepidoptera: Stenomatidae), quando completamente desenvolvida, mede de 25 a 35 mm de comprimento e tem coloração violeta, com pequenas manchas no dorso do corpo, sendo o primeiro segmento torácico amarelado. A mariposa mede de 40 a 45 mm de envergadura, o corpo e as asas possuem coloração branca e a região ventral das asas levemente alaranjada ou amarelada (Mariconi & Soubihe Sobrinho, 1961).

1.2 Hospedeiros
A broca-das-mirtáceas ataca, além da goiabeira, ameixeira, ameixeira-preta, ameixeira-do-japão, abacateiro, amendoeira, araçazeiro-do-pará, araçazeiro-vermelho, cabeluda, cafeeiro, cambucazeiro, casuarina, caquizeiro, cangalheiro, castanheira, carvalho, damasqueiro, eucaliptos, jaboticabeira, jambeiro, jambeiro-vermelho, macieira, marmeleiro, pereira, pessegueiro e pitangueira (Mariconi & Soubihe Sobrinho, 1961; Silva et al., 1968).

1.3 Comportamento e danos
As lagartas atacam o tronco (Fig. 2) e os ramos, onde constroem galerias curtas que podem, a princípio, ser horizontais e, posteriormente, ascendentes. De março a abril, nota-se, nos locais atacados, grande quantidade de excrementos e pedaços de casca interligados com fios de seda, o que caracteriza o ataque das lagartas na planta (Medina, 1988). Retirando-se essa cobertura, observa-se que a casca foi carcomida, sendo esse dano bastante significativo, uma vez que a goiabeira não reconstitui a casca danificada. O processo de pupação tem lugar na própria planta. Com o auxílio de dois ganchos pós-abdominais, a crisálida mantém-se presa na galeria, de cabeça para baixo. Normalmente, os adultos aparecem em janeiro e fevereiro.

1.4 Controle
Segundo Gonzaga Neto & Soares (1994), o controle dessa praga pode ser feito de maneira preventiva, ao primeiro sinal de ataque, efetuando-se pulverizações com inseticidas fosforados. Tal procedimento deve ser evitado, uma vez que as aplicações em área total podem provocar graves desequilíbrios, sendo, muitas vezes, mais danosas do que o ataque da praga-alvo. O controle, quando necessário, deve ser efetuado em meados do ano, época em que se torna mais fácil observar os sintomas. Desse modo, a superfície do tronco deve ser raspada, com escova ou luvas grossas, de forma a expor o inseto que, caso encontrado, deve ser destruído. Após, efetua-se o pincelamento do tronco e pernadas principais com uma solução de carbaril e fungicida cúprico (20% p.c.) (Pereira & Martinez Júnior, 1986).
Nos pomares modernos, implantados com tecnologia adequada, esta praga vem mostrando uma incidência muito baixa, podendo, inclusive, ser considerada secundária.

2. COLEOBROCA

2.1 Descrição
O inseto adulto da coleobroca, Trachyderes thoracicus Oliv., 1790 (Coleoptera: Cerambycidae), é um besouro de dimensões muito variáveis (de 20 a 34 mm de comprimento e de 7 a 12 mm de largura); coloração geral verde-escura e região inferior do corpo castanho-escura, coberta de pubescência alaranjada; antenas longas, de 11 artículos, os três primeiros de coloração preta e a extremidade distal, do quarto ao décimo artículo, também, quase preta, sendo as demais porções e todo o 11° segmento castanho-avermelhados. O pronoto é robusto, com cerdas amarelas, exceto nas porções superiores e na carena transversal, sendo o escutelo escurecido. Os élitros apresentam-se com espinho apical no bordo externo, podendo ser vestigial em alguns exemplares. As pernas são robustas, de coloração preta e com os fêmures dilatados (Gallo et al., l988). As larvas apresentam coloração branco-suja e cápsula cefálica castanho-clara, podendo atingir 50 mm de comprimento e 5 mm de largura.

2.2 Hospedeiros
Segundo Silva et al. (1968), a coleobroca, além da goiabeira, pode atacar as seguintes espécies de vegetais: abacateiro, acácia-comum, acácia-negra, alecrim, ameixeira, angico, angico-do-campo, caquizeiro, casuarina, cerejeira, citros, eucaliptos, figueira, "flamboyant", jaboticabeira, macieira, marmeleiro, pereira, pessegueiro e videira.

2.3 Comportamento e danos
As fêmeas fazem suas posturas nos ramos, de onde, após cerca de dez dias, eclodem as larvas, que se alimentam de uma parte da madeira desintegrada por suas mandíbulas; a outra parte, sob a forma de serrragem, é expelida pelos orifícios abertos, de espaço a espaço, no tronco e nos ramos grossos; o período larval abrange, aproximadamente, 11 meses.
Uma vez atingido seu completo desenvolvimento, a larva prepara, no interior do ramo-tronco, a câmara pupal, onde se transforma em pupa. De coloração semelhante à da larva, a pupa prepara, também, uma galeria para a saída do adulto. Em condições normais, o período pupal dura um ou dois meses e o ciclo evolutivo completo, cerca de um ano (Gallo et al., 1988).
O ataque dessa praga é fácil de ser reconhecido pela presença de serragem no solo, junto ao tronco, a qual é expelida através dos orifícios produzidos pelas larvas. Em caso de ataque mais severo, observa-se um avermelhamento das folhas, em função do enfraquecimento e destruição do tecido condutor de seiva. Se a coleobroca não for controlada, pode ocorrer a morte da planta, pela destruição completa das cascas do tronco e dos ramos primários.

2.4 Controle
Para o controle da coleobroca, pode-se injetar de l a 2 ml de solução de carbaril nos orifícios, devendo esta prática, se possível, ser associada à poda e à destruição dos ramos infestados (Pereira & Martinez Júnior, 1986).

3. BESOURO-AMARELO

3.1 Descrição
O adulto do besouro-amarelo (Fig. 3), Costalimaita ferruginea vulgata Lefevre, 1985 (Coleoptera: Chrysomelidae), tem forma quase elíptica, mede de 5,0 a 6,5 mm de comprimento e de 3,0 a 3,5 mm de largura; apresenta cabeça e corpo amarelos e brilhantes e região ventral alaranjada. Os élitros, com pequenos pontos circulares, escuros, quase invisíveis a olho nu, são alinhados em carreiras longitudinais (l6 a 18 linhas por élitro) (Carnauba et al., l970).

3.2 Hospedeiros
Segundo Silva et al. (1968) e Carnauba et al. (1970), abacateiro, algodoeiro, bananeira, cajueiro, capim-marmelada, eucaliptos, feijoeiro, jambeiro, jaboticabeira, juazeiro, macieira, mangueira, manacá e videira são hospedeiros dessa praga.

3.3 Comportamento e danos
As larvas vivem no solo e os adultos atacam, de preferência, as folhas mais novas da goiabeira, deixando-as, quase sempre, cheias de orifícios (Fig. 4); atingem, também, os brotos e, muitas vezes, destroem a superfície dos frutos, deformando-os.
Os insetos na fase adulta são muito ariscos e ao perceberem a aproximação de pessoas, caem no solo ou em ramos mais baixos ou voam para outras plantas; quando são muitos, porém, quase não procuram se esconder ou fugir. O período em que o ataque é mais intenso ocorre quando surgem as brotações, estendendo-se até novembro.

3.4 Controle
O controle do besouro-amarelo pode ser feito, basicamente, através de inseticidas organofosforados, com ação de contato e ingestão (Medina, 1988), os quais não devem ser aplicados nas épocas de produção e colheita, obedecendo-se sempre ao período de carência característico de cada produto. Como exemplo, Piza Júnior & Kavati (1994) indicam o inseticida fenitrotion a 0,13-0,15% para controle desse besouro. Ainda segundo Bayer (1995) e Andrei (1996), os produtos fention (0,10%), triclorfon (0,30%) e paration metílico (0,10%) podem controlar eficientemente essa praga.

4. GORGULHO-DA-GOIABA

4.1 Descrição
O gorgulho-da-goiaba, Conotrachelus psidii Marshal, 1922 (Coleoptera: Curculionidae), é um pequeno besouro de, aproximadamente, 6,0 por 4,0 mm de largura (Pereira & Martinez Júnior, 1986), de coloração pardo-escura, com peças bucais cilíndricas e alongadas. A larva apresenta cabeça negra, corpo branco, enrugado transversalmente; mede, quando totalmente desenvolvida, 12,0 mm de comprimento por 4,0 mm de largura. As larvas do gorgulho, segundo Sampaio (1975), diferenciam-se muito das larvas das moscas-das-frutas, comumente encontradas nas goiabas, por serem menores (7 a 8 mm), vermiformes e bem afiladas na porção anterior do corpo. O ataque à polpa caracteriza-se por resultar numa podridão úmida e generalizada.

4.2 Hospedeiros
Além da goiabeira, Silva et al. (1968) citam, também, as sementes e os frutos do araçazeiro como hospedeiros do gorgulho-da-goiaba.

4.3 Comportamento e danos
Ao iniciarem a postura, as fêmeas procuram os frutos ainda bem verdes, cavando com o aparelho bucal mastigador, situado na extremidade do rostro, orifícios onde depositam os ovos, normalmente um por cavidade (Sampaio, 1975). O desenvolvimento deste local não acompanha o do restante do fruto, ficando bastante enegrecido e adquirindo, posteriormente, a forma de uma cicatriz circular, deprimida, com um ponto negro no centro (Fig. 5). Após a eclosão, a larva penetra no fruto onde se alimenta da semente, ficando a parte da polpa e as sementes destruídas com coloração escura, típica de deterioração (Fig. 6) e (Fig. 7). No fruto maduro, a larva do gorgulho não ataca a polpa, alimentando-se apenas do aglomerado de sementes e ocasionando uma podridão seca.
Portanto, além da depreciação externa do fruto, que o desqualifica para a exportação, internamente a larva provoca o seu apodrecimento. Após seu completo desenvolvimento, a larva deixa o fruto e aprofunda-se no solo, onde se transforma em pupa, permanecendo nesse estádio por cerca de três a quatro meses. Logo após as primeiras chuvas, em outubro ou novembro, o adulto abandona o solo, iniciando um novo ciclo (Orlando et al., 1974; Sampaio, l975).

4.4 Controle
O controle pode ser efetuado através de aplicações de inseticida organofosforado (fention a 0,10%) e deve ser iniciado quando os frutos ainda estão bem verdes, do tamanho de uma azeitona (Pereira & Martinez Júnior, 1986). Andrei (1996) cita o paration metílico a 0,10% para o combate a esse inseto. Pode-se, também, nesse mesmo estádio, utilizar o ensacamento dos frutos com papel apropriado e resistente à umidade. O inseticida triclorfon (0,30%), registrado para outras pragas da goiabeira (Bayer, 1995), também tem exercido bom efeito no controle desse gorgulho.

5. MOSCAS-DAS-FRUTAS
Segundo Gallo et al. (1988), as moscas-das-frutas, Anastrepha obliqua Macq., 1835, A. fraterculus Wied., 1830 e Ceratitis capitata Wied., 1824 (Diptera: Tephritidae), são as principais pragas que afetam a cultura da goiabeira.

5.1 Descrição

5.1.1 Anastrepha fraterculus e A. obliqua
Segundo Zucchi (1978), estas duas espécies são semelhantes morfológica e biologicamente, sendo a diferenciação entre elas feita pela análise dos ovipositores. As larvas de A. fraterculus e A. obliqua são do tipo vermiforme (Fig. 8), ápodes e possuem o corpo mais grosso na extremidade posterior. Completamente desenvolvidas, medem cerca de 12,0 mm de comprimento.
Os adultos (Fig. 9) medem de 5,0 a 7,5 mm de comprimento e 2,0 mm de largura máxima, e sua coloração predominante é amarelo-ocrácea. As asas são transparentes, medem de 5,8 a 7,5 mm de comprimento, com faixas amarelo-pardas, sendo quase todo o comprimento da asa ocupado por uma figura amarela, em forma de "S", estendida da base até o ápice; uma figura, em forma de "V" invertido, situa-se na borda posterior. Ambas as manchas são sombreadas de preto. A bainha do ovipositor mede de l,6 a 1,9 mm de comprimento e o ovipositor de 1,3 a 1,6 mm de comprimento (Orlando & Sampaio, 1973).

5.1.2 Ceratitis capitata
Os ovos dessa espécie de mosca, como os das espécies anteriores, são brancos, translúcidos e medem de 0,9 a 1,1 mm de comprimento e de 0,18 a 0,23 mm de largura, em sua região mediana. A face dorsal do córion é convexa e a ventral ligeiramente côncava. Ao eclodir, a larva mede cerca de 1,2 mm de comprimento e 0,2 mm de largura máxima; seu corpo é constituído de 12 segmentos, sendo o primeiro ("cabeça") indistinto na larva em repouso. Completamente desenvolvida, a larva mede de 7,0 a 9,0 mm de comprimento e de 1,7 a 2,0 mm de largura máxima; sua coloração é branca ou branco-amarelada e é desprovida de pernas; a região anterior do corpo é bastante afilada e o diâmetro aumenta progressivamente da cabeça até o sétimo segmento, permanecendo depois constante. O pupário tem a forma de um pequeno barril e mede de 2,7 a 4,8 mm de comprimento e de 1,6 a 2,4 mm de largura máxima. Quando adulta, a fêmea (Fig. 10) mede de 5,0 a 6,0 mm de comprimento e de l0,0 a 12,0 mm de envergadura. Os olhos compostos são grandes, com reflexos brilhantes. No vértice da cabeça, estão localizados três olhos simples (ocelos); as antenas são curtas, contendo três artículos, sendo o terceiro mais longo que os dois primeiros.
Visto pelo dorso, o tórax é branco-acinzentado, com manchas brilhantes de coloração preta e tamanhos diferentes. As asas são hialinas e possuem manchas e faixas amarelas, amarelo-acastanhadas e pretas. O abdômen, amarelo-esbranquiçado na região ventral (os líquidos ingeridos podem mascarar a coloração), é constituído de nove segmentos; no inseto em repouso, visto de dorso, normalmente são visíveis apenas seis segmentos (o primeiro é encoberto pelo escutelo e os dois últimos alojam-se no sétimo segmento). O nono e último segmento é o ovipositor, que se destina à perfuração dos frutos e à postura.
O macho difere da fêmea apenas por apresentar na cabeça, além de antenas, dois apêndices (macro-tríquias) bem distintos, visíveis a olho nu, terminados numa dilatação em forma de losango; o abdômen tem cinco segmentos aparentes e é desprovido de ovipositor (Mariconi & Soubihe Sobrinho, 1961).

5.2 Hospedeiros
Além da goiabeira, estas pragas podem ter os seguintes hospedeiros: abacateiro, ameixeira, araçazeiro, cajá-manga, cajá-mirim, cafeeiro, caquizeiro, caramboleira, citros, damasqueiro, figueira, genipapeiro, guabirobeira, jaboticabeira, jambeiro, macieira, mangueira, maracujazeiro, melancieira, meloeiro, morangueiro, nespereira, pepino, pereira, pessegueiro, pitangueira, ateira e videira (Silva et al., 1968; Kaiser et al., 1974; Espinosa, 1980; Fehn, 1981; Nascimento et al., 1982).

5.3 Comportamento e danos
Por meio do ovipositor, a fêmea perfura os frutos e efetua a postura. As larvas novas passam a viver dentro do fruto, podendo torná-lo imprestável para o consumo; a região atacada fica escura, normalmente repugnante à vista e ao olfato. Em citros (laranja), a fase larval é de l0 a l l dias a 28 °C e de 16 a 20 dias a 14 °C. Terminada a fase de ataque ao fruto, quando a larva completa seu desenvolvimento, ela abandona o hospedeiro, cai no solo, onde penetra alguns centímetros, transformando-se em pupa. O período pupal é de oito a nove dias a 28 °C e de 13 a 14 dias a 25 °C. Após, a pupa dá origem ao adulto. Para sair do solo, a mosca rompe o pupário e atravessa a pequena camada de terra, para vir à superfície, quando então abre as asas (Mariconi & Soubihe Sobrinho, 1961).

5.4 Controle
Para o controle das moscas-das-frutas, várias medidas são indicadas, desde a proteção dos frutos através do ensacamento (Fig. 11), como utilizado em culturas de goiaba para mesa, até a aplicação de produtos inseticidas, com iscas atrativas ou com pulverização em área total (Morgante, 1991), sendo que esta última prática pode acarretar prejuízos ao controle biológico natural. Nesse sentido, Rampazzo (1994) cita que o uso intensivo de agrotóxicos reduz drasticamente o número de parasitóides nos pomares de goiaba, afetando a eficiência do controle biológico natural, e que a ação dos parasitóides e predadores no controle natural de formas imaturas de moscas-das-frutas do gênero Anastrepha não é suficiente para regular a população desta praga. Ainda de acordo com o referido autor (Rampazzo, 1994), o parasitóide mais comum em goiaba é Doryctobracon areolatus (Hymenoptera: Braconidae), tendo sido citada também a espécie Asobara anastrephae (Hymenoptera: Braconidae), pela primeira vez, na região de Jaboticabal, SP, como parasitóide de Anastrepha, em goiaba.
Segundo Pereira & Martinez Júnior (1986), na cultura da goiabeira, a utilização de armadilhas é inviável, uma vez que a atração da mosca pelo fruto é mais forte do que a exercida pelas iscas artificiais ou mesmo naturais. As armadilhas são utilizadas mais para verificação da intensidade de infestação do que, propriamente, para eliminação das moscas.
A opção mais viável de controle é a pulverização de inseticidas em área total na planta, devendo estas aplicações ser iniciadas após o desenvolvimento dos frutos, porém antes do seu amadurecimento. Salientam ainda esses autores (Pereira & Martinez Júnior, 1986) que, como a colheita da goiaba se prolonga por mais de um mês, e neste período não podem ser aplicados inseticidas, em função de seu período de carência, há normalmente o aparecimento de maior porcentagem de frutos com moscas no final da colheita, pois estes geralmente não recebem proteção suficiente dos inseticidas.
Os produtos mais utilizados e que vêm mostrando bons resultados no controle das moscas-das-frutas são triclorfon (0,30%) e fention (0,10%), devendo-se incluir no programa de controle das moscas outros inseticidas, especialmente os de baixo período de carência, para evitar desequilíbrios biológicos. Foi comprovado aumento significativo da população de cochonilhas em pomares onde se faz uso contínuo de fention.

6. PSlLÍDEO

6.1 Descrição
Os psilídeos, Trizoida sp. (Hemiptera, Homoptera: Psyllidae), são insetos sugadores de seiva. O macho mede, em média, cerca de 2,0 mm de comprimento e apresenta coloração esverdeada, com as faces dorsais do tórax e do abdômen pretas. A fêmea possui coloração verde-amarelada e mede cerca de 2,4 mm de comprimento. Os ovos, de coloração branco-pérola, têm aproximadamente 0,3 mm de comprimento, 0,l mm de largura e possuem a extremidade anterior mais estreita que a posterior, onde aparece um pequeno pedúnculo, cuja função é fixá-los ao tecido vegetal. A ninfa possui coloração rósea, é coberta por secreção de cera esbranquiçada, apresenta formato achatado, corpo elíptico, antenas curtas e pernas pouco desenvolvidas.

6.2 Comportamento e danos
Normalmente, essa praga aparece principalmente de setembro a maio. As fêmeas efetuam a postura ao longo dos ramos, nos ponteiros e, também, nas folhas novas, com uma média, em laboratório, de l9 a 92 ovos por fêmea. O período de incubação dos ovos foi de sete a nove dias e o período larval entre 29 a 35 dias (Nakano & Silveira Neto, 1968).
As fêmeas, tanto as coletadas no campo como as obtidas em laboratório, não viveram mais de três dias após o acasalamento (Nakano & Silveira Neto, 1968). Ainda, segundo esses autores, as ninfas sugam a seiva dos bordos das folhas, as quais, devido às toxinas que nelas são injetadas, enrolam-se e deformam-se, adquirindo coloração amarelada ou avermelhada e, posteriormente, aspecto necrosado (Fig. 12) e (Fig. 13). Examinando-se o interior das partes das folhas enroladas, encontram-se as colônias de psilídeos recobertas por secreção cerosa, entre gotículas de substância açucarada e esbranquiçada excretada pelos insetos.

6.3 Controle
Há alguns anos, a preocupação dos produtores de goiaba com o psilídeo restringia-se aos meses de abril a junho. Hoje, porém, no manejo do pomar, a poda tem sido utilizada em diferentes épocas (praticamente durante o ano todo), dificultando o controle desse inseto, que vem se tornando uma das principais pragas da goiabeira. Para o controle dessa praga, podem ser utilizadas pulverizações com inseticidas organofosforados ou carbamatos. Piza Júnior & Kavati (1994) citam que os produtos fenitrotion (0,15%), fention (0,10%) e triclorfon (0,30%) encontravam-se em fase de registro para uso.

7.PERCEVEJO-DA-VERRUGOSE

7.1 Comportamento e danos
Segundo Pereira (1995), o percevejo-da-verrugose (Fig. 14) pode provocar danos significativos, uma vez que pode atacar desde botões florais até frutos desenvolvidos, porém, antes do início da maturação. Inicialmente, observam-se manchas aquosas, irregulares, com cerca de 1,0 mm de diâmetro e de coloração verde-escura, na superfície do fruto. Posteriormente, há uma reação do próprio fruto, ocorrendo a cicatrização dessas lesões. Os tecidos da porção central da lesão tornam-se necrosados e permanecem na superfície do fruto como um ponto duro, que atinge de 2 a 5 mm de diâmetro, podendo ser destacado manual ou naturalmente, permanecendo, porém, uma irregularidade na superfície do fruto afetado.
Essas lesões, dependendo da intensidade e da época de seu surgimento, podem se desprender do fruto ou permanecer, depreciando-o; caso coalesçam, podem acarretar grandes deformações e até a queda do fruto.

7.2 Controle
Não existem produtos registrados para o controle do percevejo-da-verrugose, porém, observa-se que os produtos utilizados para o besouro-amarelo, gorgulho e moscas-das-frutas podem promover bom controle desta praga.

8. LEPIDOBROCA
Há poucos anos, apareceu nos pomares da região de Jaboticabal, SP, uma lepidobroca, ora em fase de identificação, que broqueia os ramos da goiabeira (Fig.15) (Fig. 16) e (Fig. 17) e que vem causando sérios problemas às plantas, provocando seca e morte dos ramos. Seu aparecimento tem sido observado nos meses de abril e maio, quando tem ocorrido morte de muitos ramos. A extensão dos prejuízos e o potencial deste inseto como praga têm deixado os produtores preocupados (Pereira, 1995).
Até o momento, como medida de controle da lepidobroca, tem-se recomendado a poda, retirada e destruição da parte atacada, quando se dispõe de mão-de-obra e desde que esta prática não comprometa a planta. Pode-se, também, tentar a aplicação localizada de inseticidas, como para as brocas citadas anteriormente.

9. ÁCARO-DA-GOIABEIRA

9.1 Descrição e comportamento
O ácaro-da-goiabeira ou ácaro-branco, Polyphagotarsonemus latus Banks, 1904 (Acari: Tarsonemidae), apresenta coloração predominantemente branca em todas as fases de seu desenvolvimento. As fêmeas são amarelo-claras, com tegumento brilhante, medindo 0,17 mm de comprimento. A forma do corpo é elíptica na fêmea e mais ou menos hexagonal no macho. Os ovos são oblongos e pouco achatados, com pontuações brancas. As fêmeas fazem posturas isoladas, depositando seus ovos na superfície das folhas ou dos frutos novos. Põem, em média, de 25 a 30 ovos.
Dependendo das condições climáticas, o ciclo pode se completar em três a cinco dias, sendo constituído das fases de ovo, larva, "pupa" e adulto. O macho tem o hábito de carregar a "pupa" da fêmea aderida à parte posterior do seu corpo. Esta espécie ocorre em qualquer época do ano, porém, é no período de fevereiro a maio que se tem constatado maior incidência (Oliveira, 1994).

9.2 Danos
Atacam somente as partes novas da planta, infestando as folhas em formação, que se modificam, assumindo forma lanceolada, com as bordas ligeiramente arqueadas para baixo e a superfície inferior de aspecto corticoso.

10. OUTRAS PRAGAS
Neste item, são considerados os insetos que normalmente não causam danos econômicos à cultura da goiabeira, cujas populações têm sido mantidas abaixo do nível de controle, devido, principalmente, ao esquema de tratamento fitossanitário posto em prática para controle das pragas principais.

10.1 Cochonilhas
Vários gêneros de cochonilhas que atacam a goiabeira são citados, dentre eles Ceroplastes (Fig. 18), Coccus, Pulvinaria e Saissetia. As cochonilhas atacam brotos, folhas e ramos finos, sugando a seiva e depauperando a planta. Podem, também, expelir substâncias açucaradas que favorecem o aparecimento de "fumagina", a qual afeta negativamente o processo fotossintético da planta e, por conseguinte, seu desenvolvimento. Uma das espécies de cochonilhas mais comuns em goiabeira é a Ceroplastes floridensis Comst., 1881 (Hemiptera, Homoptera, Coccidae). As cochonilhas dessa espécie têm formato geral hemisférico e são revestidas de grande quantidade de cera de coloração branca. Sem o revestimento de cera, apresentam coloração parda. Formam colônias nos ramos mais finos, especialmente nas brotações novas, e, também, nas folhas. O seu controle pode ser feito através de catação ou poda e queima das partes infestadas. O controle químico pode ser feito mediante pulverização com óleos emulsionáveis associados a inseticidas fosforados, particularmente na época de reprodução do inseto. Cuidados especiais devem ser tomados com a aplicação desses óleos na época da florada (Gallo et al., 1988). Os produtos utilizados para controle das pragas principais têm controlado razoavelmente as cochonilhas.

10.2 Lagartas
São citadas mais de 25 espécies de lagartas de lepidópteros que atacam a goiabeira. Esses insetos podem causar danos em ramos, brotos, folhas e troncos.
As principais lagartas, com hábito desfolhador, são: Citheronia laocoon Cramer, 1777 (Lepidoptera: Saturnidae); Mimallo amilia StollCramer, 1870 (Lepidoptera: Mimallonidae); e Pyrrhopyge charybdis Westwood & Hewitson, l852 (Lepidoptera: Hesperiidae). Segundo citação de Gallo et al. (1988), as lagartas de C. laocoon são grandes, de coloração marrom e com pêlos desta mesma coloração; as larvas de M. amilia, quando no seu desenvolvimento máximo, chegam a medir 50 mm de comprimento, apresentam coloração cinza e têm o hábito de se proteger em um casulo formado de teia e folhas. As lagartas da espécie P. charybdis apresentam coloração esverdeada e cápsula cefálica marrom, atingindo cerca de 40 mm de comprimento. Essas lagartas podem ser controladas com triclorfon (0,30%), fention (0,10%) e fenitrotion (0,15%), além de paration metílico (Bayer, 1995; Andrei, 1996).

10.3 Percevejos
Segundo Piza Júnior & Kavati (1994), pelo menos três espécies de percevejos têm sido constatadas causando dano em goiabeira: Leptoglossus (Theognis) gonagra, L. stigma e L. fasciatus (Hemiptera: Coreidae). Estes insetos atacam os ponteiros, os botões florais e os frutos em todos os seus estádios de desenvolvimento. Os botões florais, quando picados, geralmente caem e os frutos mais desenvolvidos ficam "empedrados" no local onde o inseto faz a punctura para sua alimentação. A espécie mais comum, L. gonagra, na fase adulta, mede cerca de 20 mm de comprimento e tem coloração geral escura; suas pernas posteriores possuem tíbias com expansões laterais que lembram pequenas folhas, com manchas claras na porção interna; o adulto apresenta também listras alaranjadas na cabeça e uma linha transversal amarela na parte anterior do tórax (pronoto) (Mariconi & Soubihe Sobrinho, 1961; Gallo et al., 1988).

10.4 Tripes
Segundo Piza Júnior & Kavati (1994), a goiabeira pode ser atacada pelo tripes Selenothrips rubrocinctus, que provoca a formação de uma "crosta" de coloração ferruginosa na superfície dos frutos, depreciando o produto. Dos frutos, os insetos passam para os ramos em crescimento, onde podem causar danos severos ao desenvolvimento da planta. Segundo informações de Bayer (1995) e Andrei (1996), o único produto registrado para controle de tripes em goiabeira é o fention (0,10%).

10.5. Percevejo Tingidae
Uma espécie de percevejo (Hemiptera:Tingidae), ainda não identificada, apareceu nos últimos anos na região de Jaboticabal, SP, atacando folhas de goiabeira. Adultos e ninfas formam grandes colônias na página inferior da folha, onde, devido à intensa e contínua sucção de seiva, provocam amarelecimento (Fig. 19) e queda de folhas.

11. AGRADECIMENTO

Ao Dr. Carlos Amadeu Leite de Oliveira, Professor Titular do Departamento de Defesa Fitossanitária da FCAV-UNESP, Jaboticabal, SP, pela colaboração na parte relativa ao ácaro-da-goiabeira.

12. REFERÊNCIAS

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Por Ceinfo. Embrapa

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