A população de Sete Quedas, a 467 quilômetros de Campo Grande, deu sua resposta à falta de opções de candidatos para a prefeitura: 43% invalidaram seus votos, sendo que 36% votaram nulo e o restante votou em branco. Os dados constam da apuração do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Na cidade a única candidatura foi a do atual prefeito, Sérgio Mendes (PDT), que permanecerá no cargo até 2012.

Em Ivinhema, outra cidade onde só houve apenas uma candidatura, mais um número considerável de votos inválidos: 28%. Também tiveram candidato único Angélica e Dois Irmãos do Buriti, mas nestes municípios a eleição teve bem menos anulação e votos em branco.

Temendo represálias, alguns eleitores de Sete Quedas evitaram comentar sobre o assunto, ao serem procurados pela equipe de reportagem, mas não escondem o descontentamento. “Não vamos falar porque estamos todos muito tristes”, disse um trabalhador rural.

Já a auxiliar de direção da escola estadual 13 de maio, Vilma Jales, 47 anos, lamentou o resultado e disse que “nem na campanha tem como a cidade crescer porque um único candidato apresenta as propostas e não há ninguém para contestar”. Por isso, ela decidiu votar em branco. Para ela, o resultado não dá vitória ao prefeito eleito. “Se for analisar o resultado ele foi derrotado porque teve 43% de rejeição”, observa.

A agente administrativa Nádia Roberto Rittel, 26 anos, diz que chegou a ouvir pessoas dizendo que votaria no candidato único porque ele iria ganhar. “Achei um absurdo porque votar nulo ou em branco é minha forma de protesto”, disse. E emendou: “perder voto é votar em que não sequer”.

A comerciante Maria de Fátima de Oliveira diz que votou para o candidato vencedor e, admite, sem muita reflexão. Ela afirma que proibiu os funcionários de discutirem política dentro do estabelecimento para não haver nenhum tipo de desconforto com os clientes que tivessem opiniões diferentes.

No município de Sete Quedas foram recebidos 6.131 votos, dos quais 2.192 nulos e 450 em branco. O prefeito reeleito, Sérgio Mendes (PDT), teve 3.489 votos, o que corresponde a 57% dos votos. O Campo Grande News tentou contato com o prefeito, pelo celular, mas até o fechamento da matéria ele não havia retornado.

Rejeição – O sociólogo Paulo Cabral analisa que os números permitem dizer que o candidato é uma liderança que polariza: ou seja, tem adesão de uma boa parcela da população, mas também tem grande rejeição. “Então de um lado se tem a impossibilidade de escolha e somado a isso está o elevado índice de rejeição”, explica, acrescentando que neste caso, sem adversários, a alternativa vista pelo eleitor acaba sendo invalidar o voto.

Cabral ressalta, ainda, que há uma contaminação dos resultados pelos eleitores que, apenas cumprindo a obrigação de votar, acabam “votando no automático” para quem já está vencendo – e no caso específico para o candidato único.

Ele defende o voto facultativo, para que os resultados sejam mais fiéis à escolha do povo, acabando com o viés. Para o pesquisador, se o voto não fosse obrigatório os postulantes também teriam de se esforçar mais em suas propostas. “Isso exigiria que os postulantes se desdobrassem muito mais”, diz.