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Político, Jacini já faz raio-x da segurança do Estado
O delegado da Polícia Federal Wantuir Jacini vai começar a despachar do prédio da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública logo após o Natal. Enquanto não é empossado como secretário o que só vai ocorrer em 1º de janeiro Jacini está se dedicando ao que chama de estudo de situação, um levantamento minucioso tanto da estrutura operacional da secretaria quanto dos resultados que podem ser medidos em números e relatórios.
Estou fazendo o estudo da área da segurança, estou me inteirando, com base nisso, vamos tomar as decisões, disse Jacini ao deixar a Sejusp no final da manhã de hoje.
A prática dos futuros secretários já despacharem dos prédios que vão ocupar a partir de janeiro faz parte do fair play que vem marcando a transição. Hoje, após a reunião com o atual secretário Raufi Marques, ficou acertado que Jacini e um assessor que trouxe da Polícia Federal terão uma sala no prédio da Sejusp. Na reunião que durou cerca de três horas, o novo secretário conheceu o organograma da secretaria e ouviu uma explanação sobre a parte operacional da secretaria.
Jacini vai comandar uma estrutura que envolve diretamente 9 mil policiais, bombeiros, peritos e agentes penitenciários. O número é alto, mas por trás dele esconde-se um déficit. Na Polícia Militar, por exemplo, há 5 mil policiais na ativa apenas dois terços do previsto pela lei (7.500).
Ele evitou falar em nomeações dos ocupantes de cargos-chave como o diretor-geral da Polícia Civil e os comandantes da PM e do Corpo de Bombeiros. Embora estivesse acompanhado do coronel Geraldo Orti, já apontado como o futuro comandante da PM, o futuro secretário insistiu em dizer que ainda não há definições. Orti foi o único graduado da Polícia Militar a participar da reunião com Raufi. Ele estava apenas na condição de comandante do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), disse.
O forte rumor da nomeação de Orti para o comando da PM é uma pista do que deve ser uma das principais diretrizes da nova secretaria: aumento do foco da Sejusp sobre a imensa e desprotegida faixa de fronteira com o Paraguai e a Bolívia. Embora a segurança das fronteiras esteja mais na alçada do governo federal, o sistema de segurança de Mato Grosso do Sul é diretamente afetado pela vizinhança com uma região conhecida por ser um território livre para o tráfico de drogas e armas e lavagem de dinheiro. Nas penitenciárias como Dourados, Ponta Porã e Corumbá, por exemplo, dois em cada três detentos tenha ido parar atrás das grades após serem detidos com drogas adquiridas em cidades como Capitán Bado e Pedro Juan Caballero (Paraguai) ou Puerto Suárez (Bolívia).
Wantuir Jacini chega gerando uma expectativa política de estreitamento dos laços com a Polícia Federal, principalmente no que se refere à inteligência policial. Ele próprio já diz que esta integração da PF com as polícias Civil e Militar se materializa, por exemplo, na sua nomeação. Sou delegado cedido da Polícia Federal, estou sendo cedido, essa integração já está havendo.
O novo secretário chegou aos quadros da Polícia Federal como agente em 1976. Quatro anos depois se tornou delegado. Ele já atuou em Mato Grosso do Sul quatro vezes, a última delas como superintendente da PF no Estado. Ele optou por continuar recebendo o salário de delegado da PF (R$ 15mil) mais uma gratificação de "não sei quanto" no período em que permanecer na secretaria.
O político - Embora chegue como quadro técnico, Jacini tem ligações antigas com o PMDB. Ele chegou a ser diretor-geral interino da PF em 1999, substituindo Vicente Chelotti.
Na ocasião da queda de Chelotti, um dos mais polêmicos diretores-gerais da história da PF, Jacini assumiu interinamente com forte apoio do PMDB para ser efetivado no cargo, mas esbarrou em fortes resistências dentro do Palácio do Planalto.
A queda-de-braço entre o então ministro da Justiça, Renan Calheiros, que apoiava Jacini, e o chefe da Casa Militar da Presidência, general Alberto Cardoso, que trabalhava por Zulmar Pimentel, motivou três meses de uma guerra de bastidores. A temperatura política ficou tão elevada por causa da nomeação que Jader Barbalho, então um poderoso cacique peemedebista no Senado, deu declarações públicas contra Cardoso.
O estica-e-puxa pelo cargo só terminou em 8 de junho daquele ano, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso nomeou João Batista Campelo para o comando da PF, na expectativa de acabar com o racha. A saída pela terceira via não funcionou. Renan sentiu-se desautorizado pela opção feita pelo presidente e pediu demissão do ministério.