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Plantonistas do hospital do Rio não esquecem o massacre

Agência Brasil/ Cristiane Ribeiro - 15 de abril de 2011 - 16:47

Pouco mais de uma semana depois do massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, a equipe do plantão da emergência nas quintas-feiras ainda não conseguiu esquecer as cenas da chegada das crianças baleadas ao Hospital Albert Schweitzer. O plantão de ontem (14), quando se completou uma semana da tragédia, foi muito movimentado, mas considerado normal pelos médicos, enfermeiros, auxiliares, maqueiros, recepcionistas e vigilantes da unidade.

No entanto, a equipe ainda não consegue conter a emoção ao lembrar do desgaste físico e mental que sofreu para atender as vítimas do atirador Wellington Menezes de Oliveira. As 24 crianças atingidas foram levadas para o Albert Schweitzer. Destas, nove já chegaram mortas.

Um maqueiro, que trabalha no hospital há quase dez anos e não quis se identificar, disse que, ao ver as crianças baleadas, teve vontade de gritar e perguntar a Deus o porquê de tanta crueldade. “Eu chorei muito e pedi a Deus que desse conforto às famílias daqueles meninos e meninas, e que Deus iluminasse os médicos para que eles salvassem os que estavam vivos”.

Na unidade, a única criança que permanece internada é o menino que aparece em vídeo caído no corredor da escola, agonizando de dor. Ele foi baleado no abdômen e, apesar de estar no Centro de Tratamento Intensivo, já respira sem aparelhos. Segundo o cirurgião vascular Márcio Feres, que chefiava o plantão da emergência naquele dia, o estado de saúde dele é grave, mas estável.

O médico disse que o menino levou um tiro na mão e um no rosto, com a bala saindo pela região temporal, além de ter sofrido fratura na clavícula por ferimento a bala. Outras crianças baleadas foram chegando, sem que a equipe entendesse o que estava acontecendo. “Não dava para imaginar o tamanho da coisa, porque as crianças estavam desacordadas. Somente a sexta ou sétima criança, a Renata, atingida na região lombar, é que estava consciente e me contou que elas estavam na escola e que um homem apareceu atirando.”

A notícia se espalhou rapidamente pelos oito andares do hospital e médicos e enfermeiros de todos os setores desceram para a emergência para ajudar no socorro aos feridos. Profissionais que estavam saindo do plantão também resolveram ficar no hospital.

“Usamos todas as salas de cirurgia, mas,como 90% dos ferimentos foram no crânio, e graves, os casos que precisavam de neurocirurgias foram transferidos para hospitais com essa especialidade, como o Adão Pereira Nunes, em Saracuruna, e o Hospital Geral da Polícia Militar. Mas, uma das crianças que foi para o hospital de Saracuruna já saiu do Albert com morte encefálica e chegou lá sem vida”, lembrou Márcio Feres.

Para ele, o momento mais difícil foi o da constatação da morte de nove crianças. “A emergência estava cheia com os feridos e, quando olhei no corredor, onde fica a minha sala, começaram a entrar macas com crianças. Foi a cena mais chocante que vi nos meus 32 anos de formado. Mas foi assim. A emoção foi muito grande. E aí eu comecei a examinar as crianças: a primeira morta, a segunda, morta, a terceira, morta. No final, tinha nove crianças mortas.\"

A auxiliar de enfermagem Sônia Mendes, que trabalha na sala de traumas da emergência do hospital, diz que ainda está com o pescoço doendo por causa da tensão naquele dia. “Aqui estamos acostumados a fazer os curativos mais complicados que se possa imaginar, mas o volume de ferimentos a bala que vimos num mesmo momento foi chocante\", lembrou Sônia, chorando.

Edição: Nádia Franco

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