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Piolhos não tem nada a ver com má higiene ou nível de renda

Unimedjp - 25 de abril de 2018 - 14:00

Há milhares de anos, a infestação por piolhos atinge a humanidade em todas as partes do mundo. Na volta às aulas, estes minúsculos insetos que vivem no couro cabeludo se transformam em vilões. Com a aglomeração diária de crianças, os piolhos encontram o ambiente ideal para se reproduzir.

Pesquisador do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), Julio Vianna Barbosa conscientiza de que o piolho é uma doença – a pediculose, causada pela infestação pelo inseto Pediculus humanus capitis. Criador do Disque-Piolho, serviço de atendimento telefônico que tira dúvidas sobre o tema, o pesquisador esclarece mitos e verdades sobre o assunto e defende que as ações educativas são a estratégia mais importante para o tratamento eficaz.

Abaixo, o pesquisador Julio Vianna explica um pouco mais sobre esses “pequenos seres caminhantes do couro cabeludo”. Confira:

A infestação por piolhos está relacionada à falta de higiene?
Esta é uma visão completamente errada. O piolho não está associado a baixa renda ou a falta de higiene. Pelo contrário, piolho gosta de cabelo limpo. Por isso, quem lava o cabelo diariamente também pode ter piolho. As crianças sofrem discriminação, ganham apelidos desagradáveis na escola, mas nosso papel é esclarecer que qualquer pessoa, independente de raça ou renda familiar, pode ser infestada. Prova disso é que a pediculose está descrita na Bíblia, 1.300 anos antes de Cristo.

É verdade que, ao contrário do que todos imaginam, o piolho não pula e nem voa? Como ele é transmitido?
Apesar de ser um inseto (artrópode), ele não tem asas e nem pernas adaptadas para o salto. A pulga pula, o mosquito voa – o piolho não voa e nem pula. Ele pode ser carregado pelo vento, porque é leve. Além disso, passa de uma cabeça para outra pelo contato direto. Isso explica a alta incidência e a prevalência em crianças em idade escolar, já que brincam juntos e compartilham os mesmos objetos, como escovas.

A coceira intensa é causada pela picada ou por outro motivo?
Os insetos têm artifícios para que o hospedeiro não perceba que está sendo parasitado. Com o piolho não é diferente. Na saliva dele existe uma substância que funciona como anestésico e outra que tem propriedades anticoagulantes. O anestésico não deixa que a pessoa sinta que está sendo picada e o anticoagulante não permite que o sangue coagule no abdômen do inseto. Como estas enzimas são estranhas ao organismo, quando ele acaba de fazer a hematofagia, que é a alimentação com sangue, acontece uma reação imunológica que causa a coceira. A coceira intensa pode causar feridas, que acabam funcionando como uma porta de entrada para infecções oportunistas, principalmente bacterianas.

Qual a eficácia de medicamentos como loções e xampus?
Com raríssimas exceções, os medicamentos disponíveis no mercado trazem em sua embalagem o pente fino. Se o produto funciona, por que esta cortesia? Nosso trabalho educacional tem o objetivo de mostrar que o que funciona mesmo é a velha receita da vovó. Passar o pente fino diariamente, como se escova os dentes. Este é o método mais eficaz, principalmente no caso de crianças em idade escolar devido ao contato contínuo com outras crianças infestadas. Uma boa saída é ensinar a criança a usar o pente fino durante o banho, porque neste momento o piolho é eliminado junto com a água corrente.

Muitos pais vêm utilizando um medicamento via oral para combater a infestação de piolho. Este medicamento é eficaz?
A medicação tem efeito sim. Porém, o FDA (Food & Drug Administration, órgão norte-americano responsável pela liberação de medicamentos e alimentos) não aprova seu uso no combate aos piolhos, mas para duas outras parasitoses. Os pais utilizam o medicamento por sua praticidade, imaginando que uma pílula será a solução do problema. Mas, como os outros medicamentos existentes no mercado, ele não tem efeito sobre as lêndeas (como são popularmente chamados os ovos do parasito) e permanece na circulação sangüínea. O piolho, quando faz a hematofagia, absorve junto com o sangue a composição da droga e acaba morrendo. O problema é que quando a criança se reinfesta o medicamento é novamente aplicado, o que pode acarretar uma superdosagem. Recomendo aos pais que não utilizem este medicamento, pois não é aprovado pelo FDA para a pediculose.

Antigamente, o uso de inseticidas era pratica comum. Isso ainda acontece?
Nós fazemos palestras de esclarecimento, vamos até as comunidades e escolas e o que percebemos é que, infelizmente, o uso de inseticidas ainda está em vigor. Os inseticidas são venenos e, como já disse, não têm efeito sobre as lêndeas. Se houver uma lesão no couro cabeludo, por exemplo uma ferida causada porque a criança coça freqüente e intensamente a cabeça, além de ser a porta para infecções oportunistas, esta ferida pode significar a entrada de substância tóxica na circulação se o inseticida for aplicado. Estes produtos não são recomendados sequer para uso animal.

A questão crucial dos medicamentos, então, é a ineficácia sobre as lêndeas?
O salto qualitativo da pediculose estaria na descoberta de um medicamento que tenha efeito sobre a lêndea. No processo evolutivo deste parasito, a fêmea desenvolveu uma substância que adere seu ovo ao fio de cabelo. Ou seja: ainda que o medicamento seja usado, ele não tem efeito sobre a lêndea. Caso exista um piolho em desenvolvimento, este vai eclodir em um espaço de uma semana. Por isso, é comum ouvir dos pais que o remédio ou inseticida não fez efeito.

Existe lêndea morta?
Também é comum ouvir dos pais que seu filho não tem piolho, tem lêndea morta. Isso é uma lenda. Quando uma lêndea aberta é encontrada, é sinal de que tem um piolho no couro cabeludo. Para complementar, é importante dizer que uma fêmea pode viver entre 30 a 45 dias e durante o seu período de vida faz uma postura de cerca de 10 ovos por dia.

Muitas pessoas acreditam que a tintura de cabelo funciona como repelente para os piolhos e que, no caso de já existir uma infestação, pode eliminá-los. Isto é correto?
É claro que na tintura existem componentes tóxicos que podem realmente matar os piolhos. Mas, novamente, não têm efeito sobre a lêndea. Como prevenção, estes produtos têm um odor muito forte, por isso podem funcionar como repelentes. Por estes mesmos motivos, não devem ser usados em crianças.

Existem números ou estatísticas sobre o piolho no Brasil?
O Brasil tem a mesma prevalência de crianças infestadas que em países de primeiro mundo. O Brasil está igualada à Austrália ou EUA, com uma média de 30 a 40% de prevalência.

Quais são as espécies de piolho?
São três espécies de piolho: o da cabeça, o do corpo e o da região pubiana. O da cabeça, chamado popularmente de piolho; o do corpo, chamado muquirana; e o da região pubiana, conhecido como chato. Porém, todos eles podem transitar em diversas regiões do corpo.

Como surgiu a idéia de criar o Disque-Piolho?
A idéia surgiu em função da grande demanda da população, que não sabia a quem recorrer. Nosso papel é fazer pesquisa e atender a população. Queremos mostrar que é possível acabar com uma parasitose milenar através de um trabalho educacional.

Como funciona o atendimento?
As pessoas ligam para o Disque-Piolho e recebem orientação em uma linguagem simples. O que é o piolho, que doenças ele pode transmitir e como tratar. Não prescrevemos nenhum tipo de medicamento. Sinalizamos para a população que, se realmente houver um caso de infestação, é preciso recorrer ao médico. É uma prestação de serviço que o IOC, através do Laboratório de Educação Ambiente e Saúde, faz à população.

Qual a média de atendimentos diários feitos pelo Disque-Piolho?
No retorno às aulas as ligações aumentam, chegando a dez por dia. Através do Disque-Piolho também é possível agendar treinamento para capacitação de professores, para que se tornem multiplicadores em seu local de trabalho.

E qual o número do Disque-Piolho?
O número do Disque-Piolho é (21) 2598-4379 ramal 126. Acesse também a página na internet: www.piolho.fiocruz.br.

(Fonte: Agência de Notícias Unimed Brasil, com informações do Instituto Oswaldo Cruz - Matéria publicada em 2009)

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