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Pesquisa compara vida em família e em abrigo

Agência Notisa - 25 de abril de 2005 - 09:30

De acordo com os pesquisadores, o adolescente que tem relacionamentos familiares afetuosos tem mais condições de enfrentar experiências estressantes.

A depressão é uma doença que pode afetar indivíduos independente do sexo, raça, classe social ou idade. Entre seus principais sintomas estão desânimo, baixa auto-estima, apatia, dificuldades para dormir e perda de energia. Crianças e adolescentes também não estão livres de desenvolver estas complicações. Débora Dalbosco Dell`Aglio e Cláudio Simon Hutz, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, avaliaram as manifestações da depressão em crianças e adolescentes de 7 a 15 anos de idade, associadas ao desempenho escolar. O estudo dividiu os participantes em um grupo composto por residentes em abrigos residenciais ou institucionais – e outro de indivíduos que moram com suas famílias.

Os abrigos residenciais são pequenas unidades que buscam simular o ambiente familar. Nestes Moram, em média, 12 a 15 crianças e adolescentes de ambos os sexos, que recebem cuidados de seus monitores. Os abrigos institucionais são grandes, com uma capacidade de 50 a 70 crianças e adolescentes, divididos por sexo. Segundo a pesquisadora Débora Dalbosco, “atualmente existem poucos abrigos institucionais no Rio Grande do Sul. A maioria das crianças foi remanejada para abrigos residenciais, onde passaram a ser agrupados com seus irmãos e a não serem discriminados por critérios de ingresso baseados em tipologias como sexo e idade”.

Foram analisadas crianças e adolescentes de ambos os sexos, estudantes de escolas públicas da periferia de Porto Alegre e Viamão. O estudo propõe o apoio familiar como a principal forma de proteger crianças e adolescentes de sintomas depressivos. Segundo artigo publicado na Revista Psicologia: Reflexão e Crítica (vol.17 no.3/ 2004), “o adolescente que tem relacionamentos familiares afetuosos e próximos tem mais condições de enfrentar experiências estressantes do que aqueles sem tal apoio.” Os vínculos familiares também exercem importante papel no desempenho escolar. No entanto, os abrigos institucionais não oferecem condições para o estabelecimento de laços afetivos, que podem ser alcançados mais facilmente num ambiente familiar. Segundo Débora e Cláudio, “a diferença entre o grupo institucionalizado e aquele que mora com a família, com relação ao desempenho escolar, foi encontrada apenas entre as crianças. Além disso, o grupo residente em abrigos apresentou médias mais baixas. Este resultado confirma a idéia inicial de que a família desempenha um papel importante no desempenho escolar das crianças. Não houve diferença significativa entre os adolescentes, provavelmente porque, neste período, além da família, outros fatores contribuem muito para o processo de desenvolvimento. O trabalho e as relações com os amigos podem afetar positivamente o desempenho escolar de adolescentes.

Traumas ocorridos na infância podem levar à depressão em adultos. De acordo com a equipe, “diversos estudos apontam para o fato de que vivências traumáticas na infância, como perda de vínculos afetivos devido à morte de pais ou irmãos, ou ainda, a privação de um ou de ambos os pais por separação ou abandono, seriam importantes fatores associados à depressão na vida adulta. Por outro lado, um contexto familiar que se caracterize por trocas afetivas, intimidade e comunicação apropriada tem sido identificado como um importante fator de proteção, ajudando as crianças a manterem um senso de estabilidade e rotina frente a mudanças, mesmo que o relacionamento positivo seja apenas com um dos pais”.

Os resultados obtidos na pesquisa apontaram maior índice de depressão entre as meninas residentes em abrigos institucionais. Com relação ao desempenho escolar, as meninas, em geral, apresentaram uma média mais alta e as crianças que moram em abrigos uma média mais baixa. Segundo a equipe, “os resultados encontrados comprovam a necessidade de maiores investigações sobre a incidência dos diferentes tipos de agentes causadores de estresse e seus efeitos associados à depressão e ao bem-estar psicológico de crianças e adolescentes”.



Agência Notisa (jornalismo científico - science journalism)

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