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Pedreiro haitiano diz que país precisa de trabalho e de outra classe dirigente

Agência Brasil/ Rivadavia Severo - 22 de janeiro de 2010 - 07:51

O pedreiro haitiano Sergio Derat, 44 anos, trabalha para os militares brasileiros no Haiti. Antes, foi cozinheiro e, nos bons tempos, deu aula de francês para crianças em seu país. Ele diz que o Haiti precisa de trabalho e que vai se reerguer com a ajuda humanitária internacional, mas que é necessária outra classe dirigente, que reduza a diferença entre os 10% que detém 90% da riqueza e o restante da população. “O Haiti precisa de um Plano Marshall” (investimento dos Estados Unidos na reconstrução da Europa no período pós-guerra).

Derat fala quatro idiomas e, em entrevista à Agência Brasil, diz estar esperançoso com o seu país. Ele conversou com a reportagem em um orfanato localizado no subúrbio da capital, construído pela Companhia de Força de Paz Haiti, composta por engenheiros brasileiros, duas semanas antes do terremoto. Só o muro externo do centro de proteção aos menores ruiu e já está reconstruído. Derat também estudou contabilidade e diz que seu sonho, por enquanto, é voltar a trabalhar na cozinha dos engenheiros brasileiros no Haiti.

A seguir, a íntegra da entrevista:

Agência Brasil - Como o terremoto afetou o senhor?

Sergio Derat - A minha casa só rachou. Mas o importante é que o povo do Haiti vai se levantar. É um povo alegre, que sorri. Somos como fênix , que ressurge das cinzas.

ABr – Mas depois do impacto desse terremoto, não será necessário um tempo para reconstruir o país?

Derat – O terremoto não é uma maldição. É um fenômeno natural que se repete no país. É um problema da falha sismológica que atravessa o Haiti. Não tem nada a ver com crenças religiosas.

ABr – E o que deve ser feito para reerguer o país?

Derat – Precisamos da ajuda da comunidade internacional. O problema do Haiti é político. Temos 90% da riqueza do país nas mãos de 10% de ricos. Como explicar isso? Somos um povo pacífico. Se não fosse assim, não sobraria um país. É um povo que canta e dança na miséria. Somos solidários, senão não viveríamos.

ABr - Em que a comunidade internacional pode ajudar, além de distribuir água e alimentos como está fazendo agora?

Derat – Espero que este mal sirva para que o Haiti seja visto como um povo que necessita de trabalho e não de pão. Mostrar para o povo como pescar e não dar o peixe a cada dia. O importante é o trabalho.

ABr - O problema então é político?

Derat - Bel Air era um bairro de ricos que subiram para os morros, quando a pobreza chegou. O problema é dos dirigentes que não organizam e não gestionam o Haiti.

ABr – A ajuda humanitária será coordenada pelos Estados Unidos. Isso é bom para o Haiti?

Derat – Os americanos vão cuidar do Haiti? Somos um país rico. Temos ouro, petróleo. Só que o petróleo é uma reserva para os Estados Unidos. Não sabemos como explorar e exportar nossas riquezas. Temos muitas riquezas como as praias, florestas, cidades maravilhosas, mas só falam de Cité Soleil. O Haiti não é Cité Soleil (um dos bairros mais pobres da capital).

ABr - O que a comunidade internacional pode fazer pelo Haiti?

Derat - Espero um Plano Marshall para o Haiti. Os nossos dirigentes são corruptos. Necessitamos de energia, ruas, trabalho. Somos um país com dignidade. Fizemos a independência da França, sem ajuda, com nossos braços.

ABr – O relacionamento dos haitianos com os brasileiros da Força de Paz é boa?

Derat – Não temos problemas com o Brasil. Gostamos de samba e de futebol. Mas não gostamos dos Estados Unidos. O que uma superpotência vai fazer aqui? O que fizeram em 1915? Outra coisa, não sou de um partido político, sou haitiano. Temos bandidos, como todos os países. Mas eu pergunto: que país pode viver nove dias sem energia? Somos pacíficos. Mas vamos brigar para defender a nossa dignidade.


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