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Pedagoga diz que o amor é fenômeno e não sentimento

Camila Cotta/ABr - 15 de fevereiro de 2004 - 09:01

O que é o amor? Essa é uma pergunta de difícil resposta e de múltiplas interpretações. Os pesquisadores do comportamento humano têm tentado ao longo do tempo explicar o conceito de amor com uma reação do cérebro para estímulos. Mas, para a maioria das pessoas, o amor é um filme (colorido) de final feliz e de relacionamentos bem sucedidos. Buscando esclarecer melhor o conceito dessa palavra, Rosana Rodrigues Gomes da Silva, pedagoga e pesquisadora do amor, defendeu sua tese de doutorado - "O amor e seus mo(vi)mentos" - com objetivo de clarear os sentidos atribuídos ao que ela prefere denominar de fenômeno.

"No meu trabalho fiz um rastreamento para verificar o que as pessoas e os pesquisadores falavam do amor. Selecionei também uma classe de universitários e fiz a pergunta: O que seria o amor para vocês?" A primeira resposta, conta ela, foi uma pergunta. Um rapaz queria saber se era para ele escrever a sua experiência atual. "As pessoas não conseguem definir o amor, elas não sabem o que é isso. Os entrevistados não conseguiram centrar uma definição", conta Rosana.

Persistente, a professora conseguiu chegar ao que ela admite ser um bom conceito: "O amor se constitui num processo que acompanha o ser humano desde a sua concepção, mas a sua compreensão depende das relações que mantém com os outros e, conseqüentemente, das experiências que a pessoa pode ter frente ao fenômeno. O processo do amor pode favorecer a evolução particular no ser humano, entretanto, é lento e gradual. Compreende uma série de aprendizados, ações e interpretações para a sua dotação de sentido que, invariavelmente, outros seres humanos constroem conjuntamente". Dai pode se concluir o quanto é complexo trabalhar com o sentimento.

"Ao nascer, a criança está ausente de experiência, por isso observa aos outros. A partir dessas observações começa a formar opiniões e atitudes, que num momento futuro possibilitará o relacionamento com as pessoas. Afunilando essa questão do relacionamento até chegar no amor é que compreendemos de uma forma totalizadora, holística, do senso comum, da junção do passado e presente, todas as experiências. Então o amor seria um fenômeno apreendido
que pauta pelo holismo, pela integridade e totalidade do ser", observa.

Devido à dificuldade que as pessoas têm de definir o fenômeno que está presente em suas vidas, desde o momento da concepção até o final de seus dias, Rosana explica que o amor não é um sentimento e nem uma emoção. "Uma pessoa pode experimentar a alegria em várias situações de sua vida, outras terem uma visão pessimista; sentimentos e emoções que não podemos generalizar. No caso do amor é diferente, a pessoa pode amar ou ser amada ou, ainda, observar o amor expresso no relacionamento de outras pessoas, mas independente da forma como é expresso, o fenômeno está presente na vida das pessoas", afirma.

Em sua tese defendida da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pesquisadora diferencia o sentimento da emoção. Ela classifica de sentimento as sensações emocionais que nos acometem e geram reações físicas intensas, ou não. Como exemplo a paixão: ela arrebata o apaixonado em sua fase inicial determinando todas as suas ações, mas sofre uma transformação com o passar dos dias que ou conduz ao amor ou acaba. Já Goleman, um estudioso pesquisado, diz que a emoção se refere a sentimentos e aos pensamentos decorrentes de cada tipo de sentimento, envolvendo estados psicológicos e biológicos, bem com uma série de tendências para agir.

Rosana esquematizou a relação entre sentimento, emoção e amor. Os sentimentos formam a base e a estrutura do ser humano em relação a sua própria vida, atitudes e relações interpessoais; a emoção vem num segundo patamar, englobando valores apreendidos e a opção de vida, que reflete a intensidade e a representação dos sentimentos para a pessoa. Todos são
aspectos interdependentes e, talvez, hierárquicos, visto que por meio do autoconhecimento, conduzem-nos ao comportamento amoroso e ás atitudes afetuosas. "O amor não é, mas engloba, uma série de sentimentos", complementa a pesquisadora.

Na sua visão, o comportamento amoroso, enquanto processo, sofre uma evolução em relação às emoções adquiridas através dos tempos e com o acúmulo de experiências. Esta evolução conduz as pessoas a observarem, decidirem e avaliarem seus comportamentos de forma cada vez mais aperfeiçoada e cada qual com características particulares. "As experiências são as atitudes que
nós temos na vida e quando passamos por uma nova situação semelhante a anterior fazemos o uso da memória. Essas atitudes não são livres de emoção.

A pessoa "fantasia" uma situação. Um exemplo é um casal que o marido viaja constantemente. Durante dias a mulher não recebe notícias dele, com isso ela começa a sofrer pensando um monte de bobagens como, ele não gosta mais de mim, esta com outra mulher. Além dos pensamentos gerarem uma carga emocional muito grande, também envolverá sentimentos. Por isso, tanto o amor como o ódio são fenômenos apreendidos", defende.

Um outro sentimento que está diretamente relacionado ao amor é o ciúme, que seria o resultado da insegurança e das atitudes que criamos. Se as pessoas são completas e seguras de si, o ciúme é apenas o cuidado com a outra pessoa. Mas se o ciúmes é exacerbado provoca uma mudança na configuração, ai a pessoa já abriga um sentimento de posse em relação a outra. "Dependendo da carga emocional, da "fantasia" que a pessoa promove aos fatos de sua vida, ela sentirá mais ou menos ciúmes", explica Rosana.

Ela diz que para seu trabalho procurou a concepção do amor mais dentro de uma visão transpessoal, que é justamente ultrapassar a questão do limite de espaço e tempo, pensar
em um amor não psicológico e sim espiritual. "O amor psicológico pensa em termos de tempo, é passional e o espiritual é atemporal e mais maduro". Na sua opinião, isso acaba influenciando muito nos relacionamentos e no dia-a-dia das pessoas.

Para explicar a curta duração dos relacionamentos de hoje, Rosana se vale da teoria da alma gêmea. A concepção que os pesquisadores têm sobre esse assunto é um complemento. Eu sou uma metade e procuro uma outra metade. Então, com essa visão metafísica as pessoas passam a procurar esse complemento. "Alguns estudiosos defende que a alma gêmea não existe com essa concepção porque seria uma formação monádica, ou seja, a origem de uma seria a mesma da outras". Essas pessoas com a mesma origem seriam muito parceiras, companheiras no sentido de fazer algum bem para a sociedade e não em um relacionamento amoroso.

Na opinião da pedagoga, se tivermos uma visão de integridade para nos compreendermos melhor, conhecermos mais claramente nossos objetivos de vida e formos mais enfáticos nas atitudes, seremos mais completos. Se gostarmos realmente de nós mesmos, teremos maiores possibilidades de encontrar uma pessoa completa também e, nesse sentido, ter um relacionamento mais duradouro e não tão volátil como atualmente.

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