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Paulo Saeki: Tributo a Simplicidade

Manoel Afonso - 22 de outubro de 2004 - 08:21

Eu fiquei matutando: escrever o que sobre o Paulo Saeki? Ele não foi um político, não participou de entidades de classe e também não se tornou um grande empresário em Cassilândia. Mas depois acabei questionando: ué! Será que estaria sendo correto no meu critério de avaliação de quem deva ou não ser homenageado?
E foi aí neste momento que caiu a ficha: o Paulo Saeki era exatamente o contrário do padrão que a sociedade tem ou exige do cidadão modelo ou desejável. Essa antítese dele, é que acabou fazendo a diferença e servindo de inspiração para essas linhas. Afinal, a cidade não vive apenas dos afortunados e letrados; que por esse ou aquele motivo acabam ocupando lugar de destaque no cenário local. Aliás, não há a mínima pretensão de discutir seus méritos legítimos.
A cidade, tal qual a humanidade, é complexa em sua composição. Seus membros são diferentes tais quais os dedos da mão: alguns maiores outros mais frágeis; mas todos eles absolutamente indispensáveis, porque cada um tem sua função específica, insubstituível. Eu disse insubstituível!
Guardo bem na retina de meus olhos as imagens do nosso último encontro, ali em frente ao escritório. Ele, feliz, com o algum de fotografias com seus familiares, tiradas de sua viagem ao Japão. Com aquela calma conhecida, fez questão de mostrar e explicar foto por foto, dizendo que tinha sido a viagem de sua vida e que havia gostado muito do que viu. Ainda lembro de seu sorriso ao mostrar a foto de seu neto adolescente com o corte de cabelo muito louco e de cores extravagantes.
Mas o interessante no Paulo Saeki, e isso eu observei ainda da época do hotel – lá perto da caixa d’água, é que ele sempre foi um homem ao melhor estilo oriental: tranqüilo, paciente, gentil e incapaz de se enfurecer. Jamais, ouvi alguém dizer isso ou aquilo dele. Era exatamente a imagem da simplicidade, sem arroubos, comuns nos homens modernos. Acho que embora nunca tenha lido, Mário Quintana, o Paulo Saeki seguia os preceitos do poeta que dizia: “ser feliz de uma forma realista é fazer o possível, aceitar o improvável. A felicidade é um sentimento simples. A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio.”
Essa forma simplista como o Paulo Saeki viveu impressiona. Problemas é que não faltaram, mas penso eu que ele enfrentou todas as vicissitudes com o seu jeito de japonês bonzinho. Dores e incômodos? Fazem parte da provação, mas ele certamente já foi regiamente premiado pelo Criador. Não só para a família, fica para todos nós, além da lembrança agradável e serena, o exemplo de quem cultivou a humildade, sem alterar a voz inclusive.
Acho mesmo, que ele, acabou dando uma boa lição a todos nós, sem limites, eternos insaciáveis, sempre em busca de mais e mais. Viveu muito, do seu jeito, devagar e sempre. Para quem acha que o tempo é dinheiro, nosso homenageado foi um homem rico, porque soube cultivar e domar o tempo. Pode ser até ele tenha seguido as recomendações do poeta Carlos Drummond de Andrade: gostar de usar o velho chinelo, ouvir a chuva no telhado, sentir o cheiro do jardim, viver sem inimigos, gostar da lua cheia e ouvir o canto de passarinho.
Cada qual do seu jeito, e ele viveu no seu. E partiu assim, como um passarinho em busca de outro ninho. E penso eu, que já deva ter encontrado.

(O autor é comentarista da TV-Record-MS)

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