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Paraguassú alerta para números da desigualdade racial

Maria Matheus - 20 de novembro de 2003 - 14:52

“Não basta que a nossa causa seja pura e justa. É preciso que a pureza e a justiça existam dentro de nós”. Com essa frase de Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola depois da dominação portuguesa, o juiz aposentado Aleixo Paraguassú começou seu pronunciamento, logo após receber o Título de Cidadão Sul-mato-grossense das mãos do deputado Pedro Kemp. A homenagem aconteceu durante a sessão solene realizada hoje pela manhã, em comemoração ao Dia Nacional da Consciência Negra.

Natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, Paraguassú contou que tem a sensação de que estava “predestinado a ter uma ligação insuperável” com Mato Grosso do Sul. “Tenho com esta terra um indiscutível caso de amor, uma ligação atávica, como se aqui fora nascido. Por isso, faltava-me tão só a certidão de nascimento que este título agora me confere”.

Aleixo Paraguassú já foi secretário de Segurança e de Educação do Estado. Atualmente é assessor jurídico do Tribunal Regional Eleitoral, presidente e um dos fundadores do Instituto Luther King, um cursinho pré-vestibular gratuito para estudantes carentes. “É uma entidade de ensino dedicada à preparação para o ingresso no ensino universitário de jovens brancos, negros, índios e portadores de necessidades especiais. É uma instituição plural e de caráter compensatório de desigualdades historicamente acumuladas pelas minorias sociais”, explicou. Ele informou que o Instituto tem 70 alunos matriculados, todos de baixa renda.

Durante seu discurso, Paraguassú trouxe em números uma triste comprovação da realidade brasileira: “A pobreza neste país tem cor, a cor dos afrodescendentes”. Segundo dados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), “os brasileiros afrodescendentes constituem a segunda maior nação negra do mundo, atrás somente da Nigéria.” Os negros representam 45% da população brasileira, são 76,4 milhões de pessoas. No entanto, dos 55 milhões de pobres, 65% são afrodescendentes e dos 22 milhões de miseráveis, 68,3%.

“Acredito ser muito importante a Assembléia Legislativa colaborar com esta luta do movimento negro do Brasil e também da sociedade civil organizada. O preconceito e a discriminação existem. E em função disso, os negros sofrem dificuldades para se inserir na educação e no mercado de trabalho”, afirmou o deputado Pedro Kemp, propositor do evento, em entrevista à imprensa.

Kemp é autor da Lei nº 2.605 (06/01/2003), que institui cotas para afrodescendentes na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul. O vestibular deste ano será o primeiro a utilizar este sistema. O deputado informou que 500 estudantes negros se inscreveram para o processo seletivo utilizando o sistema de cotas, que reserva 20% das vagas para afrodescendentes.

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