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Para especialista, inovar é importante em 1% dos casos

Por: Andreas Müller / Redação de AMANHÃ - 01 de dezembro de 2009 - 06:40

O escritor Roberto Menna Barreto se notabilizou por se especializar em uma área ainda inexplorada pelos consultores: a criatividade. Ex-redator da J. Walter Thompson, no Rio, Barreto hoje presta consultorias e ministra seminários em todo o país sobre como favorecer a criatividade no trabalho - e também fora dele.

Nesta entrevista, ele critica os estereótipos e mitos que transitam em torno do assunto e garante: muitas empresas brasileiras são inovadoras apenas no discurso - na prática, fazem questão de se manter à sombra das "matrizes que vêm do exterior". Confira:

Qual é o espírito que deve vigorar em um ambiente que pretende estimular a inovação?
É o espírito saudável. O cara mais criativo é aquele que consegue otimizar o pensamento. Mas olha... Sinceramente, pra mim, criatividade é uma palavra de 12 letras. Já se colocou tanta lantejoula nesse troço! Tem tanta gente que diz: "ah, eu sou muito lógico, não sou criativo". Isso é uma bobagem. Criatividade não tem nada a ver com essa baboseira do lado esquerdo ou direito do cérebro.

Mas existe um método para que todos sejam criativos?
Veja: 99% dos problemas que enfrentamos na vida não exigem criatividade nenhuma. Basta seguir o "manual de instruções" de experiências prévias. Por exemplo: você quer viajar e o seu carro está com o combustível reserva. Você sabe como resolver esse problema sem precisar de criatividade nenhuma. Você apenas segue o manual de instruções. A verdadeira criatividade começa quando você enfrenta um problema real - um problema de vendas, um problema de guerra, etc. Aí você consulta os manuais de instrução, pede ajuda a todas as pessoas que você conhece, mas não adianta: ninguém sabe como resolver a questão. É nesse momento que você tem de assumir uma abordagem diferente, mais infantil, primária e espontânea, que é a abordagem da descoberta e do aprendizado.

As empresas devem estimular as pessoas a buscar essa abordagem mais infantil e primária que leva à criatividade?
Depende. Se uma pessoa passa 20% do expediente usando o pensamento criativo, manda embora: é caso de demissão por justa causa. Pois o cara fica borbulhando, é um excêntrico. O espaço corporativo não tem lugar para esse sujeito. No dia-a-dia do trabalho é preciso ser mais pé no chão e otimizar o pensamento. Você tem que utilizar os 99% do pensamento lógico e analítico. Tem que seguir os manuais de instruções. Só não pode ser 100%, que aí você também sai perdendo - não consegue agir em nenhuma situação desconhecida.

Quais são as características que se destacam nos profissionais criativos?
Não existe um perfil do homem criativo. As pessoas dizem: "Ah, ele é curioso, tem energia, é arrogante...". Isso é uma estupidez. Todo mundo tem essas características. Todos nós somos curiosos ou arrogantes em determinado momento. Não há como postular um ser humano com essas facetas pseudotecnocráticas. O que se pode dizer é que, em determinadas condições, as pessoas tendem a ser mais criativas.

Quais?
Sob pressão, por exemplo. Muita gente produz mais sob pressão. Mas tem que ser uma pressão valorativa, algo que dê segurança ao indivíduo e estimule o pensamento criativo. Se não houver pressão, não há criatividade, o cara vai ficar curtindo a vida. Mas é preciso saber pressionar o cara de forma que ele se sinta bem. Aí, sim, ele espirra criatividade como se fosse uma laranja.

Ser o primeiro a copiar uma ideia que só existe em outro lugar é uma forma de inovar ou ser criativo?
Não, de forma nenhuma. A cópia sufoca a criatividade. Plagiar é mortal para o homem criativo. O cara entra num ciclo vicioso e passa a se tornar dependente de quem efetivamente criou. Roubar a ideia é terrível para quem rouba. Veja o caso das pessoas que usam macetes para resolver problemas. Ora, o macete é apenas uma ideia que poucos conhecem. Mas ela não foi criada, ela já estava lá. O computador também é assim: utiliza milhares de leis, princípios e macetes, mas não cria nada.

O que falta para as empresas brasileiras se tornarem mais criativas?
Tem que agir. As empresas ficam badalando aí que querem inovação, mas na realidade elas não querem. Elas não inovam nada, elas dependem das matrizes que vêm lá do exterior. As equipes das multinacionais aqui no Brasil são quadradíssimas. Há equipes aqui que são verdadeiros templos, seitas, cheias de rituais... A pior coisa possível para a criatividade é ritualizar. Tem que criar gente saudável, o ambiente tem que ser estimulante, e a maioria não é. A maioria são lugares de sofrimento, de ansiedade, depressão, rivalidade e fofoca. O nome disso é dor. Para ter criatividade, o ambiente tem de estar ligado ao entusiasmo.

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