Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Terça, 23 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

Papa vem ao Brasil para superar desafios

Redação 24HorasNews - 18 de março de 2007 - 07:45

O papa Bento XVI realizará em entre 9 e 13 de maio sua primeira viagem à América Latina, o continente mais católico do planeta, quando visita o Brasil. Ele colocará à prova o seu carisma e capacidade de diálogo com um mundo distante e em plena transformação.

Acostumado às penumbras das bibliotecas, mais concentrado em temas teológicos e espirituais do que em conquistar as massas, Bento XVI deu até agora poucos gestos especiais ao continente latino-americano, onde residem 48% dos 1,1 bilhão de católicos.

Segundo vários especialistas em assuntos vaticanos, contrariamente a seu antecessor João Paulo II, que durante 26 anos de pontificado transformou o Vaticano em uma referência para os latino-americanos, recebendo presidentes e ministros, percorrendo quase todos os países da América Latina, onde era adorado por sua curiosidade, abertura e alegria, o Papa alemão não vem mostrando a mesma dedicação a esta região do globo.

Muitos vaticanistas lembram de seu primeiro deslize como pontífice, em abril de 2005, ao receber na sala Paulo VI do Vaticano jornalistas de todo o mundo que haviam acompanhado a morte de João Paulo II e a escolha de Bento XVI.

Após ter feito declarações em italiano, inglês, francês e alemão, esqueceu a saudação em espanhol, apesar de conhecer o idioma e de já ter visitado vários países de língua espanhola como cardeal. Outro fator a ser destacado é que até agora não nomeou autoridades eclesiásticas da América Latina para a Cúria Romana, governo central da Igreja, com exceção do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, que desde novembro do ano passado é o responsável pela influente Congregação para o Clero.

A chegada de Hummes a esse cargo, como representante de uma das nações mais católicas e populosas do mundo, desperta muitas considerações e não é casual. Recentemente, o vaticanista da revista Espresso, Sandro Magister, recordava o impacto ocasionado dentro da Igreja e no então cardeal Joseph Ratzinger pelo grito de alerta lançado pelo cardeal brasileiro durante o Sínodo de Bispos realizado em 2005.

"No Brasil os católicos diminuem em uma média de 1% ao ano. Em 1991, os brasileiros católicos eram 83% da população, hoje (2005) diminuíram para 67%. Nos perguntamos angustiados: Até quando o Brasil será um país católico?", declarou Hummes na época.

Espera-se então que o tema do preocupante crescimento das igrejas pentecostais no Brasil e em outros países da América Latina domine a visita do Papa e a conferência do Celam, sobretudo após a divulgação de uma série de estudos que constatam a perda de poder e presença dos sacerdotes católicos em todo o continente e o aumento de pastores protestantes.

"Para cada sacerdote católico há dois pastores protestantes", denunciou Hummes.

Só no Brasil, nas grandes metrópoles, os pentecostais representam 15% da população, enquanto que os carismáticos são 34%. Somados são quase a metade da população, segundo um estudo do Pew Forum on Religion and Public Life.

É necessário lembrar que tanto os pentecostais como os carismáticos se opõem decididamente ao homossexualismo, à prostituição, ao sexo fora do casamento, à poligamia, ao divórcio, ao consumo de álcool, ao suicídio e à eutanásia, todos temas-chave do papado de Bento XVI. Outra crítica ao Papa que os prelados do continente fazem com discrição ocorre à respeito de seu excessivo "eurocentrismo", sua obsessão pela "morte de Deus" e pela "cultura do relativismo", temas e palavras que dificilmente chegam aos católicos latino-americanos.

Outra pedra no caminho de sua viagem é a Teologia da Libertação, doutrina que ganhou força nos anos 60 e se estendeu por todo o continente, principalmente no Brasil, onde atuam as comunidades eclesiásticas de base, comprometidas com a ação social e a política, postura que aos olhos da Santa Sé possui um forte cunho marxista.

A condenação por parte do Vaticano há três dias de um dos ''padres'' da Teologia da Libertação, o salvadorenho de origem espanhola Jon Sobrino, por sua visão humana de Jesus reaviva o confronto entre esses setores da Igreja.

Não há dúvidas de que essa viagem, dois anos depois de sua designação, representa um verdadeiro desafio tanto em nível pessoal como espiritual.

SIGA-NOS NO Google News