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Pais entram em choque depois de estupidez no trânsito

Ângela Kempfer e Danúbia Burema, Campo Grande News - 18 de novembro de 2009 - 20:03

A família ainda não sabe como dar a notícia ao avô João Afonso Pedra, de 52 anos. O neto caçula, Rogerinho, de apenas 2 anos, morreu no fim da tarde, depois de ser baleado durante uma discussão de trânsito.

“Eles eram apegados demais, vai ser um choque. Tudo foi uma estupidez, que mostra como uma pessoa armada pode ser perigosa”, comenta o irmão do pecuarista, Oswaldo Pedra.

O menino chegava de Jardim, por volta das 11 horas. No banco traseiro da camionete L-200, estava também a irmã Ana Maria, de 5 anos. O tio, Aldemir Pedra Neto, de 22 anos, dirigia o veículo quando no cruzamento das avenidas Ernesto Geisel e Mato Grosso começou a briga com o jornalista Agnaldo Gonçalves, que dirigia um Pálio.

Segundo testemunhas, o avô ainda pediu ao filho que acabasse com a discussão, mas sem sucesso. Depois de duas quadras com ofensas aos gritos, os dois desceram, trocaram chutes e pontapés, retornaram ao volante e metros depois o que começou com um bate-boca por motivo fútil teve desfecho trágico.

Armado, o jornalista sacou o revólver e, de dentro do carro (conta ele) disparou cinco vezes contra a camionete, municionou novamente a arma e fugiu.

Na L-200, ficaram o menino e o avô, baleados. A irmã, Ana Maria, assistiu a tudo em choque, conta a tia Giordana Mendonça, de 19 anos. “Ela chegou em casa transtornada, com sangue no rosto, falando que o irmão foi baleado”, lembra.

Levados à Santa Casa, o avô passou por cirurgia no maxilar, ferido pelo tiro. Rogério também enfrentou operação, mas teve uma parada cardíaca, foi levado ao CTI e não resistiu.

No fim da tarde, a mãe da criança atendeu telefonema do Campo Grande News, que buscava notícias do menino, sem dizer uma palavra, a jovem começou a chorar e entregou o celular ao cunhado Aldemir que confirmou a notícia. "Ele morreu". Eram 16h20 da tarde.

Na delegacia, minutos antes, o autor soube que ficaria preso. Agnaldo se apresentou às 12h15, prestou depoimento até por volta das 16h e saiu da sala do delegado direto para a cela, depois da Justiça decretar prisão preventiva.

Na Santa Casa, a família de luto repetia uma palavra "revolta". Além de atacar o homem que em uma reação brutal disparou contra um carro com duas crianças, os parentes tentavam compreender como uma briga de trânsito acabou de forma tão triste.

Durante toda a tarde, cerca de 30 pessoas da família, alguns amigos mais próximos foram mobilizados para doar sangue.

Ao saber da morte do filho, o pai sentou no chão e chorou. Ele ficou sabendo da notícia em Jardim, veio para a Santa Casa e não consegue falar sobre o assunto.

"A gente pensou que o quadro era estável, não dá para acreditar", lamenta a tia Giordana .

Outro irmão do avô, Odilon Pedra, de 49 anos, resume o estado do pai de Rogério como "inconsolável".

Ana Cristina Barbosa Mendonça, 42 anos, outra tia do garoto, chama o autor dos disparos de monstro, "não tem explicação".

"Isso acabou com a família, a gente não tem chão", diz Giordana.

O irmão de João Pedra, pecuarista conhecido na região de Jardim como Juca Pedra, diz que a graça dos avós sempre foram os netos, que vieram para Campo Grande morar com o casal, deixando os pais em Jardim. "Eles faziam tudo pelos meninos, o Rogerinho era doce, a felicidade da casa", conta Oswaldo Pedra.

Depois de um dia trágico, Oswaldo tenta tirar alguma lição. "Campo Grande tem uma intolerância no trânsito que precisa acabar. Não dá para sair por aí acabando com a vida dos outros. Outra coisa, uma pessoa que não tem nem controle para assumir uma direção, não pode sair por aí armado, é um absurdo".

Sobre a notícia da morte do neto ao avô, Osvaldo se prepara. "Vai ser muito difícil, ele pergunta a toda hora pelo menino, vai morrer um pouco também hoje", resume.

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