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O recado do Cheida: quando é bom parar

Luiz Eduardo Cheida* - 12 de outubro de 2007 - 08:49

Um cachorro faminto via descer pelo rio o quarto traseiro de um boi. Desesperado, tentava abocanhar a carne, sem sucesso. Foi então que pensou:


- Se eu beber o rio, posso secá-lo, e aí este banquete será todo meu.

Assim ele fez. Porém, bebeu tanta água que explodiu antes de alcançar o que desejava.


Nosso apetite de curto prazo é mais forte que nossos ideais de longo prazo.


Um apetite desmesurado. O planeta está eivado de exemplos assim.

Nada destrói mais os seculares mecanismos de equilíbrio que a natureza pacientemente estabeleceu, do que a voracidade com que abocanham-se os recursos naturais.

E como os humanos são natureza também, hoje, mais que em qualquer época, a certeza da finitude dos recursos coloca diante de todos a possibilidade da extinção da espécie.


Cerca de 12% da Terra está protegida, na forma de parques ou outros tipos de unidades de conservação. Isso corresponde a 2 milhões de quilômetros quadrados. É pouco, se soubermos que nos ecossistemas mais frágeis, que ocupam apenas 1,4% da terra firme (dentre eles, a Mata Atlântica) estão 35,6% dos anfíbios, répteis, pássaros, mamíferos e 43,8% das plantas conhecidas.


Unidades de Conservação são áreas delimitadas a partir de um sonho: conservar a natureza como ela é, protegendo as condições físicas e biológicas do local. É a forma mais segura e barata de salvar espécies.


Salvá-las não é nenhum ato de caridade. Todos têm direito à vida.

Salvá-las é também salvar a própria pele. Não há sobrevida possível, para uma espécie com tamanha sanha predatória, em um mundo de reduzida biodiversidade. Como um cão faminto, beberemos do rio até estourar.

Essa tem sido a lógica.


Mas a ética da conservação é sentir-se responsável. Assim, cuidar do que ainda temos é a prioridade.


Cuidar das florestas virgens, como as florestas temperadas da Finlândia, Escandinávia, Rússia, Canadá e do Alasca.


Cuidar das zonas críticas, como as florestas tropicais do Amazonas, Nova Guiné e Congo; das florestas úmidas de Madagascar, Filipinas, Myanmar, Havaí, Equador, África Ocidental, Mata Atlântica e Índia; dos cerrados da África do Sul, da Califórnia e da Austrália.


Cuidar das florestas antigas e dar uma chance às florestas nativas para que se regenerem.


Cuidar dos rios e lagos, por serem eles os ecossistemas mais ameaçados e que contêm a maior concentração de espécies em vias de extinção por metro quadrado.


Cuidar dos recifes de coral, verdadeiras florestas tropicais oceânicas.


Cuidar dos que são também de nossa própria espécie.


Frear a ciência que busca tão somente vender. Conter qualquer técnica predatória. Banir o consumo exagerado. Já nos empanturramos à beça.

É preciso estourar?


Um abraço forte pra cachorro e até a sexta que vem.





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*Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Foi prefeito de Londrina, Secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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