Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Quinta, 18 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

O recado do Cheida - Por um fio

Luis Eduardo Cheida* - 07 de julho de 2007 - 05:55

Os ensacadores de café cerzem a boca do saco com uma corda de sisal.

Os caiçaras juntam as malhas com mesmos fios de juta com que tecem suas redes.

Costureiras e alfaiates aproximam os retalhos de pano com uma fina linha de algodão.

Cirurgiões amarram artérias com fios de nylon e tecidos internos com tripa de carneiro.

Mas, há quem hoje tente aproximar pessoas, costurando seus sonhos e desejos com um fio de água.

São pessoas que já entenderem que a costura com água é terna. E pode ser eterna.

Na escola aprendemos que o rio Paranapanema separa os estados do Paraná e São Paulo. Em verdade, o Paranapanema une Paraná e São Paulo... A água nunca separa. A água une.

Se isso é verdade, costurar com água faz todo sentido.

Poucos se dão conta de que todos moramos em alguma bacia hidrográfica.

Poucos sabem em qual rio vai parar a bituca de cigarro depois de rodopiar no ar e se espatifar no chão. Poucos também são os que sabem que ela vai para algum rio.

É assim: de pequenos aprendemos a nadar em um córrego; a pescar nele; a beber dele. Depois, nos esquecemos dele.

Mas, continuamos a morar perto de algum deles.


Então, todos temos um endereço hidrográfico.


A idéia é essa: juntar as pessoas de um mesmo endereço hidrográfico, costurando-as com a água que é comum a elas.

O endereço hidrográfico é comum. Suas demandas também devem sê-lo.

Assim estão agindo algumas pessoas de Londrina, Paraná, que iniciaram mês passado o projeto Aquametropole, através do qual elegeu-se uma microbacia hidrográfica urbana e optou-se por trabalhar nela.

Moradia, transporte, saúde, esporte, outras demandas e, naturalmente, a limpeza de bueiros, a limpeza do rio, e o desenvolvimento de uma nova cultura em relação ao curso d’água comum a todos.

As pessoas começam aprendendo quem é o rio de sua rua. Conhecendo-o, passam a entendê-lo. Entendendo-o, passam a amá-lo. O passo seguinte é somar esforços com o fim de protegê-lo.

As pessoas sentem-se úteis. Mal sabem elas que, ao juntarem-se para protegerem o rio estão, em verdade, ajudando a si próprias. Quando se derem conta disso, será tarde demais: estarão tão unidas pela água que nada as poderá separar.

Há tempos não se tem idéias boas assim. Esta mesma, quase que a deixamos escapar. Estava passando de fininho.

Mas, tem gente que é danada! Percebe tudo. Esta foi por um fio.

De água.

Um forte abraço e até sexta que vem.

--------------------------------------------------------------------------------
Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Foi prefeito de Londrina, Secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

SIGA-NOS NO Google News