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O recado do Cheida - Por água abaixo

Luiz Eduardo Cheida - 23 de junho de 2007 - 06:24

A árvore que tomba na beira do rio faz adoecer o peixe que mora dentro dele.

A vegetação mais rala diminui as frutas e os insetos que lhe serve de alimento.

Sem as árvores, a luz do sol bate diretamente na água e ela se aquece mais. Água mais quente, modifica as reações químicas e altera a reprodução.

Mas, há um outro caminho pelo qual ele também adoece. E some.

As raízes das árvores seguram o solo da barranca do rio. Sem elas, as águas de uma chuva arrastam-no para dentro d´água. O rio barrento não deixa a luz entrar. Sem luz, não há fotossíntese e as plantas não crescem. Sem plantas, os peixes herbívoros ficam sem comida. Sem peixes herbívoros, os peixes carnívoros também não têm o que comer. Assim, sem luz, o peixe some. O que fica é o peixe comedor de lodo. Os outros estão só de passagem.

Então, sem árvores, o peixe adoece e o rio quase morre.

Mais de 300 espécies de peixes da Mata Atlântica estão em declínio, mostra um estudo dos últimos 30 anos da Universidade de São Paulo. São 309 espécies, das quais 267 só existem neste lugar. Acabou, tá acabado.

O desmatamento, a especulação imobiliária, a mineração, o plantio de pinus e eucaliptus, botam abaixo árvores nativas e alteram tão profundamente seus riachos e rios que, se medidas protecionistas radicais não forem adotadas, não só os peixes, mas toda a vida vai por água abaixo.

Hoje, na Mata Atlântica, resta tão somente 7% da vegetação original.

A Serra do Mar do Paraná é o pedaço de Mata Atlântica melhor preservado do país. Mas não está imune. Nos últimos meses grupos mineradores chineses, ingleses e nacionais rondam a região, solicitando alvarás para a exploração de minério de ferro. O que está em cima, não interessa. Querem o subsolo.

São 24 pedidos que, se autorizados, transformarão a Serra do Mar em uma espécie de serra pelada paranaense.

A Mata Atlântica e a Serra do Mar são patrimônios naturais, pela constituição brasileira.

Com o governador Roberto Requião não há a menor chance de que uma só destas jazidas venha a ser explorada.

Mas, os governos mudam...

Por isso, o próprio governador incumbiu os deputados de mudarem a Constituição do Paraná para que a proibição, deixando de ser uma simples lei, transforme-se em princípio constitucional. Mais difícil de alterar.

Os peixes, as árvores, e toda a bicharada que mora na Serra do Mar, respiram aliviados.

Nós, os que moramos fora dela, mas dentro do mesmo planeta, agradecemos.

E, talvez com esta medida simples, mas implacável, tenhamos fôlego para respirar pelos séculos vindouros.

Quem viver verá!

Decisão firme é o material de que é feito um bom governo.

Um forte abraço e até sexta que vem.


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Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Foi prefeito de Londrina, Secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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