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O recado do Cheida - Onde menos se espera

Luis Eduardo Cheida - 17 de novembro de 2006 - 05:41

Em 1988, pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina encontraram os agrotóxicos BHC e DDE em 100% das análises do leite de mães do Norte do Paraná. Ambos acima do permitido pela Organização Mundial de Saúde.

O BHC (hexaclorobenzeno), utilizado nas lavouras do café e do algodão, fora banido anos antes.

A pergunta que se seguiu foi exatamente esta:

- Como um agrotóxico, proibido há anos, está no leite destas mulheres?

E, a constatação:

- Se está no leite das mães, está no corpo dos pais! Afinal, homem e mulher, biologicamente semelhantes, estão imersos no mesmo ambiente...

Na tentativa de escondê-lo das autoridades, quando da sua proibição, parte do veneno foi atirada em poços e cacimbas; outra parte, enterrada em local incerto; uma outra, sem cautela alguma, depositada nos porões das próprias casas. Não se sabe quanto dele foi parar dentro de nascentes e rios. O fato é que, de festejado e popular o BHC, num passe de mágica, evaporou.

Hoje, 20 anos depois, ainda não se sabe quanto de hexaclorobenzeno existe no Paraná. Sabe-se, entretanto, que ele está onde menos se espera: no corpo de humanos que, diretamente, conviveram com ele ou que, mesmo sem conviver, o tenha ingerido através da água e alimentos.

Agrotóxicos são produtos químicos usados contra insetos e seres tidos como pragas. Todos, em maior ou menor grau, são tóxicos para os seres humanos.

Há cidades em que é vedada a sua aplicação dentro da malha urbana.

Entretanto, as cidades tem terrenos baldios onde se planta, tem hortas, tem gramados e tem mato. Então, seja em lavouras, hortas, ou na capina química, os agrotóxicos estão por toda a parte da malha urbana brasileira. Sem contar os inocentes sprays mata-inseto que, dentro dos lares amedrontados, proliferam na mesma proporção que as moscas que eles prometem exterminar.

Todo este veneno, através das chuvas, do vento e mesmo através das asas dos insetos, espalham-se pelo solo, lagos, rios, lençol subterrâneo e residências. Aí, chegam a permanecer por mais de 20 anos sem serem degradados.


Quais as conseqüências?

Agrotóxicos selecionam pragas, tornando-as resistentes, exigindo doses cada vez mais fortes. Portanto, danos cada vez maiores.

Atualmente, conhece-se no mundo, mais de 500 espécies de insetos e 70 espécies de fungos resistentes a todo tipo de agrotóxico. Insetos, peixes, aves e outros animais, são mortos ao ingerirem este veneno.

Nos humanos, os agrotóxicos provocam lesões no cérebro, nervos, fígado, rins, pâncreas e aparelho digestório. Muitos são cancerígenos.

Por exterminarem espécies de forma indistinta os agrotóxicos são poderosos fatores de desequilíbrio ecológico.

Que fazer para melhorar:

Consuma apenas alimentos produzidos através da agricultura orgânica.
Na medida do possível, cultive seus próprios alimentos.
Conheça quem produz os alimentos que você consome.
Não admita agrotóxico na malha urbana da cidade. Se a cidade ainda não possui, sugira lei específica aos vereadores.
A redução do uso de agrotóxicos, até sua completa eliminação, é quem vai restabelecer parte do equilíbrio ambiental que se perdeu.

Por isso, o meio mais eficaz de se matar uma barata ainda é o chinelo. E o melhor combate às pragas na agricultura é a produção diversificada (segredou-me dia desses um sobrevivente das Sete Pragas do Egito).

Vamos pelo caminho da sensatez que a coisa entorta mas não quebra.

Um forte abraço e até sexta que vem.


Luiz Eduardo Cheida é médico e deputado estadual eleito. Foi Prefeito de Londrina (1992 – 1996), Secretário de Meio Ambiente do Paraná e Membro titular do CONAMA (2003 – 2006).

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