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Geral

O recado do Cheida - Graxa de pneu

*Luis Eduardo Cheida - 02 de fevereiro de 2007 - 07:31

GRAXA DE PNEU

Morrer, todo mundo morre.

Mas, morrer de forma besta, seja bicho ou seja gente, até porque gente, bicho também é, não se deve aceitar.

Semana passada, falei da morte da onça. Fiquei devendo dizer por que isso acontece e o que se deve fazer para que isso pare de ocorrer.



A maioria dos atropelamentos de animais silvestres, em estradas brasileiras, ocorre nos trechos em declive, onde veículos desenvolvem maior velocidade.

Pouca gente respeita os limites velocidade.

Não é novidade que, em nossas estradas, a sinalização é precária.

Muretas de proteção, entre uma e outra pista, são um obstáculo intransponível. O animal chega à ela e, não a podendo transpor, passa a acompanhá-la do lado interno da pista. Daí a ser atropelado é uma questão de tempo.

Anfíbios são atropelados mais à noite, pois vêm à pista à procura de insetos atraídos pelas luzes dos faróis.

Répteis são atropelados mais ao dia, pois vêm à pista para, no asfalto quente, buscarem o calor de que necessitam para o dia seguinte.

Os herbívoros são atropelados ao crepúsculo quando, no frescor da noite avizinhada, procuram grãos caídos dos graneleiros que trafegaram ao dia.

Os carnívoros vêm às pistas buscar todas estas presas.

Os urubus chegam depois do ocorrido. E, triste ironia! muitos, também por distração, acabam tendo o mesmo fim daqueles a quem vieram buscar.

Mamíferos carniceiros chegam por último, à cata de todas as carcaças que jazem à indiferença dos que passam.

No asfalto, um montículo de pêlos sugere o susto e a agonia de quem morreu. Na roda, uma mistura de sangue e gordura negros, apenas graxa de pneu.

A diversidade da fauna brasileira é tamanha que dá uma falsa idéia de abundância. Por isso, pessoas não se importam com a morte de animais atropelados. Mas, estas mortes, além dos danos às florestas e outros habitats, levam ao desaparecimento de espécies em certas regiões do país.

Ano passado, apenas nas rodovias federais do sudeste, 5.664 animais foram mortos, segundo a Polícia Rodoviária Federal. No primeiro semestre de 2005, 1.541 acidentes: 416 feridos e 18 mortos (os feridos e mortos são humanos).

O prejuízo é ainda maior quando os animais são mortos em áreas de parques ou reservas biológicas pois aí habitam muitas espécies em extinção.

A Alemanha possui as estradas mais corretas do mundo. Quando uma estrada corta uma unidade de conservação, combinam cercas, que impedem acesso à pista, com viadutos onde os bichos podem atravessar de um lado a outro. Em alguns casos, emissões de ultra-sons para afugentá-los, e até rodovias que permitem sua passagem por debaixo, em áreas de maior concentração animal.

Radares fotográficos e redutores de velocidade são mais que justificáveis. Limites de velocidade, rigorosos, e punição dos infratores também.

Não estamos na Alemanha mas devemos, tanto quanto possível, reproduzir o que está dando certo.

Além destes paliativos, é cada vez mais necessário a conexão entre fragmentos florestais. Os corredores de biodiversidade são cada vez mais urgentes.

Também é necessário solidarizar-se com a vida. Qualquer forma de vida.

Também, até por estratégia de sobrevivência de nossa espécie, proteger os que vivem e os que ainda nem nasceram. Quaisquer que sejam eles.

Vamos perder essa mania de achar que bicho não tem importância.

Perca essa mania!

Acredite: tem coisa que é melhor perder do que achar.


Achando que você também acha, um forte abraço e até sexta que vem.



Luiz Eduardo Cheida é médico e deputado estadual. Foi prefeito de Londrina, secretário de meio ambiente do Paraná e membro titular do CONAMA.

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