Cassilândia Notícias

Cassilândia Notícias
Cassilândia, Sexta, 19 de Abril de 2024
Envie sua matéria (67) 99266-0985

Geral

O recado do Cheida: Estamos Sós?

Luiz Eduardo Cheida - 25 de janeiro de 2008 - 08:21

Como a criança medrosa que, na quietude do quarto escuro, busca um facho de luz, um ruído, uma voz, nós humanos olhamos para a infinita escuridão do céu à busca de companhia.


- Há alguém aí?


Perscrutamos os céus desde tempos imemoriais. A resposta sempre cai sobre nós como uma sentença de morte:


- Estamos sós!


Buscamos um semelhante das estrelas. Alguém cujos dons possam ir além do que a natureza até hoje nos deu. Até porque, numa espécie de desvario megalomaníaco, talvez o homem acredite mesmo ser uma espécie desterrada, sentenciada aos confins do universo, em um pequeno planeta que não lhe confere a dimensão intergaláctica que acredita ter. E que, de sol a sol, cumpre algum penoso despacho divino arrastando, presa aos calcanhares, uma bola de ferro chamada Terra.


É da natureza humana querer sempre sair. A insatisfação parece ser precondição para considerar-se humano.


A existência de um semelhante estelar é a prova de que um dia romperemos estes grilhões. Encontrá-lo, nosso sonho de liberdade. É como assegurar que também iremos além. A Terra é pouca para satisfazer nossos desejos.


Mas, o mesmo ser que, acreditando estar só, procura semelhantes na vastidão infinita, não se apercebe que jamais esteve só. Procura tanto por companhia mas não olha para a multidão de vida que existe em seu próprio planeta e, parece, faz questão de desconhecê-la. Então:


- Não estamos sós!


Toda a vida no planeta está intimamente interligada. Não apenas porque as espécies têm notória interdependência, mas também porque todas elas têm uma química e uma herança evolutiva comuns.

Somos todos parentes!


Os seres vivos são produtos bem adaptados. Quem não se adaptou, morreu.

Portanto, somos descendentes das formas de vida bem-sucedidas. Há um lampejo de vitória em cada mecanismo fisiológico de cada uma das espécies. Em verdade, um clarão, já que cada um deles é um produto de sucesso, após milhões de anos de testes e embates evolutivos.


Estar vivo, e aparentado com o resto do que existe, é o grande sonho realizado.


Então, vamos combinar assim: doravante, ao invés de só olhar através de telescópios, caçando planetas e rastros atmosféricos nos rincões do universo; ao invés de aguçar as orelhas em radiotelescópios tentando ouvir mensagens alheias, nos ocuparemos em enxergar nossos primos animais e vegetais, cujo número, diga-se de passagem, é pavorosamente declinante.

Quem sabe assim, atentos a este verdadeiro tecido vivo que se estende por sobre a Terra, entendamos finalmente que:


- Nunca estivemos sós!

(E, se formos inteligentes, nunca estaremos sós).


Um forte abraço e até sexta que vem.


P.S. É fundamental que pesquisas astronômicas e projetos espaciais, como o Darwin (Agência Espacial Européia) e o Terrestrial Planet Finder (Localizador de Planetas Terrestres, da NASA), que procuram vida ou condições de vida em mundos distantes, e projetos similares, continuem. Esta crônica, portanto, é uma crítica aos que enxergam só um lado da moeda. Até porque, avançar sobre outros mundos, sem fazer a lição de casa é procurar chifre em cabeça de cavalo.






--------------------------------------------------------------------------------

Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.


--------------------------------------------------------------------------------
Esta mensagem não pode ser considerada SPAM pela possibilidade de se descadastrar.

SIGA-NOS NO Google News