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O recado do Cheida: Banana de dinamite

Luiz Eduardo Cheida* - 01 de maio de 2009 - 05:23

Estes são os instantes finais da adaptação do vírus da Influenza ao planeta.

Todo vírus se reproduz, tem hereditariedade e faz mutação. Estas três características fazem dele um ser vivo. Entretanto, ele só se reproduz dentro de células. Fora delas, é apenas uma partícula inerte. Assim, precisa de outro ser vivo. Por isso, é um parasita.

Durante os últimos milênios o Influenza seguiu uma extenuante jornada, até tornar-se específico para cada animal que infectava, adaptando-se a eles. Por isso, temos a gripe do homem, do porco, das aves, dos cavalos, dos animais marinhos... Cada um deles com seu tipo de vírus, já adaptados, através de milhares de anos de evolução conjunta (parasita e hospedeiro).

- Parasita adaptado, infecta mas não mata – diz meu porquinho de pelúcia.

- Acho que seu cérebro é de pelúcia! Penso, mas não digo.

Entretanto, quando uma grande população (de porcos, por exemplo) é acometida pelo seu vírus, ele se multiplica incontavelmente. A multiplicação intensa faz surgir formas mais agressivas ou até formas com capacidade de infectar outros animais. Por exemplo, animais humanos.

Se este vírus adaptado ao porco, agora dentro de um humano, transformar-se a ponto de infectar um humano a partir deste humano infectado, pode ter início uma epidemia.

Se é a primeira vez que humanos adquirem esta nova forma do vírus, não estarão adaptados a ela. O resultado é uma alta mortalidade.

Portanto, ajuntamentos cada vez maiores de criações (porcos, aves...) são uma banana de dinamite que faz explodir novas formas do vírus da gripe, viu, mofíu?

A Gripe Espanhola (1918-1919), pandemia que matou de 20 a 40 milhões de pessoas, tirou a vida de médicos brasileiros que haviam ido fechar a tramela da Primeira Guerra Mundial nos campos de Dacar. O Instituto de Patologia das Forças Armadas Brasileiras manteve em parafina, pedaço dos pulmões destes militares. Em 1990, com as técnicas atuais, recuperaram neles o material genético dos vírus da Gripe Espanhola e confirmaram traços de origem do vírus que acomete humanos e porcos!*

Por isso o pavor desta gripe do porco? A OMS (Organização Mundial da Saúde) sabe disso, mas os oms da OMS não falam pra nós. Eu falo.

Os vários tipos de vírus Influenza podem infectar um animal e misturar-se dentro dele. Assim surge um novo vírus que é um mosaico feito de pedaços de outros vírus.

Nos mercados asiáticos, onde se vende centenas de espécies de aves vivas, que evacuam e ingerem água contaminada por outras espécies, é altíssima a probabilidade de formação de novos vírus. Não é a toa que o Sudeste Asiático é o epicentro das epidemias de gripe no planeta.

O Influenza das galinhas não infecta o homem. Mas, quando o porco é infectado, ao mesmo tempo, pelo Influenza da galinha e do homem, a mistura pode formar dentro dele um novo Influenza com poderio de infectar outros humanos.

As viagens humanas e as freqüentes importações e exportações de animais, unem vírus de lugares longínquos, que dificilmente entrariam em contato de forma natural. Em outras palavras, a globalização, somada à alta aglomeração de animais para o mercado da carne, e alto poder da tecnologia, que faz o percurso do embrião ao prato em semanas, parece ser a resposta que a mãe natureza encontrou para diminuir os humanos estúpidos que provocam tais artificialismos. Embora, infelizmente, inocentes paguem também por isso.

O planeta tem seus mecanismos de autoajustes. Eliminar quem causa danos é apenas um deles. Nós estamos no meio das engrenagens. Mas, o que é que tem? para a natureza, frango, porco, humanos, é tudo a mesma coisa.

Então, deixa a engrenagem girar!

Um forte abraço e até sexta que vem.

* G. F. Thomas et al, “Initial Genetic Characterizations of 1918 ´Spanish´ Influenza Virus”, em Science, 275 (5.307), Washington, 1997, pp. 1793-1793.










Luiz Eduardo Cheida* é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.


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