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O recado do Cheida

Luiz Eduardo Cheida* - 23 de março de 2007 - 21:44

O REI ERISICTÃO

O Rei Erisictão ousou abater com seu machado um carvalho protegido pela deusa Deméter.

Na Antigüidade, as árvores tinham um valor sagrado. Quem derrubasse uma delas, sem motivo, era severamente castigado, inclusive com a morte.

Após muitos golpes, a árvore caiu e, em sua queda, destruiu boa parte do bosque onde vivia.

Indignada, como castigo, Deméter condenou o rei aos suplícios da fome eterna, ordenando aos ventos que a levassem ao seu palácio.

Era noite. E a fome, penetrando os aposentos reais, dirigiu-se ao leito onde o monarca dormia.

O rei, enganado por um sonho, pede para comer. Sua boca se abre e se fecha, sem parar. Seus dentes rangem e a garganta, insaciável, devora os banquetes de sua imaginação. Mas, o vazio é o único alimento que encontra na noite escura.

Ao despertar, sua fome é tamanha que, enlouquecido, tudo passa a engolir. Ordena que do ar, da terra e das águas, lhe tragam tudo, a fim de saciá-lo.

Os manjares chegam a sua mesa e ele os devora, sem parar.

O que seria suficiente para alimentar cidades e povos inteiros, não lhe é suficiente. Seu apetite cresce quanto mais devora o que consegue.

Finalmente, todo o seu patrimônio desaparece no fundo de suas próprias entranhas.

Os amigos, servos, e todos os habitantes, abandonam o reino que, celeremente, se transforma em deserto.

Esgotadas todas as suas riquezas, nada mais lhe resta senão a filha. Contudo, prisioneiro de seu desejo insaciável de comer, vende-a como escrava, para comprar mais comida. A filha volta, e ele a vende outra vez. E uma vez mais. E mais outra, até que, também ela, o abandona para sempre.

Então, cada vez mais enlouquecido pela fome, começa a devorar sua própria carne, até que nada mais lhe reste para comer.

E, assim, morre.

Quem não respeita e destrói a natureza acabará devorando a si mesmo.

É de se lamentar que a humanidade seja tão cega para esta verdade, envolta que está em sua alucinada ânsia consumista.

O Rei Erisictão, contudo, é apenas um mito.

Na Antigüidade, os mitos eram considerados a linguagem que os deuses usavam para ensinar aos homens a arte de viver.

Um mito nunca compete com a razão e com a ciência. Apenas ajuda a enxergar o mistério da vida, com seus dramas, angústias, medos, anseios e alegrias, estados que a ciência fracassa ao querer explicar sob o olhar da razão.

Um mito é apenas um mito.

Ou um pito.

Você decide.


Um forte abraço e até sexta que vem.

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*Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Foi prefeito de Londrina, Secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos

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