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O recado de Cheida: Nuvem de veneno

Luiz Eduardo Cheida - 29 de fevereiro de 2008 - 10:22

O Paraná, campeão nacional na produção de grãos, joga no ambiente 4 mil toneladas de agrotóxicos por ano. Isso perfaz a assustadora cifra de 66 Kg de veneno por minuto! No solo, dentro dos rios, no ar, no interior dos alimentos, dentro da gente e de outros animais.

Além desta estonteante cifra, há os agrotóxicos contrabandeados que, entrando pelo Paraguai, já se constituem em 30% do veneno utilizado no oeste do estado.

Somando-se o oficial e o pirateado, acredita-se que o Paraná destine ao ambiente 5 milhões de quilos de veneno a cada ano.

Mas, uma outra quantidade de veneno estoca-se dentro das propriedades rurais desde há mais de 20 anos, quando foram banidos por lei. Destes, mais de 2 milhões de quilos é BHC e outros 2 milhões de quilos que atendem pelos apelidos de Eldrin, Aldrin, Dieldrin, Clordane, Lindane, Heptacloro, Gama BHC, Parathion, Azodrin, Nuvacron, Temik, Gelecron, Fundal, 2-4-3 T ou agente laranja, EDB, DBCP, Paraquat, e fungicidas à base de mercúrio. Enfim, estima-se que o Paraná tem, em lugar incerto e não sabido, 4 milhões de quilos de veneno proibido.

Somando-se o que se usa anualmente na agricultura ao que está em lugar ignorado, direta ou indiretamente, as pessoas entram em contato com 9 milhões de quilos de agrotóxicos todos os anos.

É uma nuvem de veneno!

O Estado não sabe onde o veneno proibido está e quem sabe tem medo de contar. Sabe por que?

Há 23 anos, o hexaclorobenzeno, o popular BHC, organoclorado útil no combate à broca do café e à lagarta do algodão, foi proibido no Brasil.
Já impedido no Primeiro Mundo, sua última grande partilha chegou como uma gigantesca promoção comercial. Em verdade, o que se pretendia era transferir os estoques mundiais proibidos para os nossos agricultores. Um ano depois de desovado, também foi proibido por aqui. Quem segurou o produto na propriedade, respeitando a lei, tornou-se fiel depositário. Alguns, entretanto, mantiveram-no de forma clandestina, no porão da casa, enterrado no terreiro, dentro do poço, na tulha ou dentro do rio.

E o tempo passou. E muita gente esqueceu.

Resultado: o veneno proibido, embora guardado ou escondido, continua ativo, mas muito dele não mais se consegue localizar.

Só há um modo de fazê-lo, que é estimular quem o tem sob guarda a dizer. Sem medo de sansões penais ou administrativas.

Por isso, a deputada Rosane Ferreira e eu fizemos um projeto de lei que confere período de seis meses para que qualquer pessoa que tenha agrotóxicos proibidos sob sua responsabilidade possa declará-los sem que recaia sobre si alguma punição. O projeto também obriga o Estado a ampla campanha de esclarecimentos sobre onde e como proceder a auto-denúncia. Além disso, autoriza o governo a firmar acordos de cooperação técnica para a retirada deste veneno e sua incineração.

O passivo ambiental que este modelo agrícola nos traz é por demais nocivo. Diria, mortal. Nenhuma sociedade mantém-se equilibrada dessa forma. Devemos buscar um outro modelo. Mais natural, mais lógico, mais responsável.

Nossas crianças merecem esta chance.

Um forte abraço e até sexta que vem.


Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.


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