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Geral

O que disse Lula no "Café com o Presidente"

Rádio Nacional - 19 de abril de 2004 - 11:24

Jornalista: Luiz: - Tudo bem presidente?

Presidente: Tudo bem Luiz.

Jornalista: Presidente, durante muito tempo o senhor foi um dirigente sindical, liderou greves, movimentos. Como é que o senhor está vendo agora essas reivindicações que nós estamos vivendo no Brasil, passeatas do Movimento dos Sem-Terra, alguns setores do funcionalismo em greve solicitando aumento de salários. Como é que o senhor vê essa movimentação?

Presidente: Eu vejo com muita naturalidade. Algumas pessoas tentam fazer disso uma coisa muito grave, às vezes até tentam vender como se fosse maior do que é. Quando nós temos que entender que passeatas, manifestações e greves são uma conquista universal da sociedade em todo o mundo. E nós temos que conceber que isso significa o exercício da democracia, gostemos ou não. Um governante não pode se contentar apenas com aplausos. Um governante não pode se contentar apenas com elogios. Ele tem que ter a mesma sensibilidade para as pessoas que o elogiam, mas também pra pessoas que o criticam, até porque às vezes os que criticam o governo estão mais certos do que os que elogiam. Então, é apenas ter sensibilidade para entender o seguinte: no Brasil, os problemas sociais têm a receber uma dívida quase que impagável. Ao longo de muitos e muitos anos o povo foi cerceado no direito de fazer suas manifestações, de reivindicar. Você vê o setor do funcionalismo público: ficaram oito anos sem receber nenhum reajuste. E é normal que essas pessoas agora queiram receber reajuste. Até porque as pessoas vêem no meu governo e na vitória do PT a possibilidade deles poderem extravasar mais, na sua prática democrática, na sua prática de reivindicação, do que em outro governo. É só você perceber que no nosso governo tem aumentado o número de servidores públicos, por quê? Porque pra melhorar a qualidade do serviço, nós estamos contratando mais gente. Ao contrário de outros que resolviam o problema do Estado, mandando funcionário embora. Ao mesmo tempo, o bom dirigente sindical sabe que, quando a gente se dispõe a reorganizar a economia de um país, a gente não pode atender a tudo o que as pessoas querem no primeiro momento. E o dirigente sindical sabe que, quando nós estamos preocupados (para) em controlar a inflação, reconquistar a credibilidade e retomar o crescimento da economia, não adianta fazer uma reivindicação absurda. Se você quer chegar a controlar a inflação a 5%, a 5,5%, aquele dirigente sindical que tiver reivindicando 80% ou 70%, ele não está sendo verdadeiro com a sua categoria, porque ele sabe que não vai conquistar aquele reajuste, nem que fosse ele o presidente da República. Como eu já vivi muito do lado de lá, com os meus companheiros e sei como se dá uma assembléia, sei como se dão os discursos, eu só queria que as pessoas entendessem o seguinte: ninguém na história do Brasil vai tratar o funcionalismo melhor do que eu vou tratar. Entretanto, as pessoas têm que entender que eu os vejo, como eu vejo os meus filhos. Eu não dou tudo que os meus filhos querem, eu dou apenas aquilo que eu posso dar, e não faço dívida pra dar um presente para filho que eu não posso pagar depois. Então, eu acho que essa seriedade que eu quero ter com os meus companheiros() é que me permite dizer para sociedade brasileira que ninguém precisa ficar preocupado com greve, com passeata ou com manifestação, isso é o exercício da democracia levado à sua plenitude, isso é bom pra todos nós. Ai você fala das passeatas dos sem terra. Eu conheço o movimento sem terra há vinte anos, eles sempre fizeram passeatas. Fizeram no governo Collor, no governo Sarney, fizeram no governo Itamar, no governo Fernando Henrique Cardoso, fizeram em todos os governos e eu acho importante que eles façam. O que me dá tranqüilidade, é dizer que fui o único presidente da República que foi no encontro do Movimento Sem-Terra, da Contag, da CPT e de outros movimento aqui em Brasília, onde tinham mais de três mil delegados e publicamente assumi um compromisso com eles, ninguém discordou. Nós nos comprometemos a fazer reforma agrária até o final de 2006 assentando 430 mil famílias, nós nos propusemos a regularizar 130 mil títulos para as pessoas que já estão na terra e esse é o compromisso que nós vamos cumprir e vai ser feito da forma mais tranqüila possível, da forma mais pacífica possível, porque eles sabem que este país tem lei, tem regras e elas valem para o presidente da República, elas valem para os sem terra e valem para os com terra. Portanto, quem quiser fazer as suas manifestações, saiba que esse país é um país democrático, é um país livre, as pessoas podem fazer. O que as pessoas não podem é perder o senso de responsabilidade. Agora, se as pessoas quiserem radicalizar, as pessoas sabem que isso não (n)os ajuda. Eu já fui dirigente sindical, já radicalizei muitas vezes, já tive bom senso outras vezes e toda vez que prevaleceu o bom senso eu ganhei. Todas as vezes que eu radicalizei eu perdi Se eu posso dar um conselho aos meus companheiros do movimento social é esse, ajam com a maior responsabilidade possível, porque todos nós seremos vítimas das nossas palavras.

Jornalista: Obrigado presidente e até ao nosso próximo programa.

Presidente: Obrigado a você Luiz

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