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O desabafo de um cidadão comum

Paulo Eduardo Akiyama* - 01 de outubro de 2015 - 09:52

Cansado de assistir noticiários, ler colunas políticas e econômicas, buscar uma resposta ao que os brasileiros estão passando hoje em dia, lembrei-me de rever alguns apontamentos que tinha da época de estudante de economia, que cursei o último ano em 1979.

Considero-me uma pessoa privilegiada neste ponto, pois iniciei minha vida profissional no mercado financeiro muito jovem, com apenas 21 anos de idade e na qualidade de subgerente de banco comercial. Lembro-me bem que iniciei trabalhar naquele banco sem ao menos saber como controlava o saldo de uma conta corrente, mas já tinha metas a cumprir. Tive que me dedicar muito, como autodidata, acumulando ainda minhas aulas no curso de direito, que conclui no ano de 1983.

Era uma época muito difícil, em especial para estudar, pois quando prestei o exame vestibular a concorrência era enorme, faculdades particulares eram em média 60 candidatos para uma vaga, muito diferente dos dias de hoje. A universidade pública então, dependendo do curso, haviam mais de 300 candidatos para uma vaga.

No ano de 1979, quando iniciei minha carreira bancária, ainda sob o comando militar, tínhamos uma inflação desgovernada em torno de 100% ao ano, em 1980 no governo Figueiredo, quando o ministro Delfin Netto ocupava a pasta da agricultura, Mário H. Simonsen como ministro do planejamento e Mario Andreazza ministro do interior. Batalhas entre estes ministros não faltaram, pois, a incumbência de Delfin era implantar um novo milagre. Parece-me que esta palavra “milagre” sempre se perpetuou nossos governos, desde o início de nossa civilização.

Em 1979 o Brasil sofreu com uma maxidesvalorização frente ao dólar de 30% (me parece que a história é a mesma), em 1983 repetiu-se mais uma vez a maxidesvalorização de 30% da moeda frente ao dólar.

Estamos falando em torno de 35 anos atrás, apesar de parecer recente. Medidas do governo com redução de investimentos, busca de empréstimos junto ao FMI, crise interna nas industrias, reflexos das greves sindicais da década de 70, em especial os metalúrgicos, eram cenários que tínhamos à época.

Lembro-me bem que os bancos possuíam uma linha de crédito que se chamava resolução 388 e posteriormente resolução 695, destinadas a pequenas empresas com juros de 6% a.a. Houve momentos entre 1981 a 1983, com a queda na indústria de 52% aproximadamente, não havia para quem emprestarmos estes recursos devido à falta de liquidez da indústria brasileira. Lembro-me bem, na região do grande ABCD paulista, onde eu atuava como subgerente de banco e posteriormente como gerente geral de agencia bancária, o desespero dos industriais, sem pedidos, demissões em massa, maquinas nos galpões cobertas.

Quem tinha seis prensas apenas duas estavam com serviços e as outras quatro cobertas. Momentos difíceis em nossa economia e como sempre, sacrificando a população. Em 1982 já como gerente geral de agencia bancária, inédito, pois tinha apenas 23 anos de idade, sentia-me orgulhos por ter conseguido chegar a este cargo, considerado ser o único gerente geral daquele banco com esta idade e na história do banco, e triste ao mesmo tempo por estar passando este período vendo empresas familiares quebrando, não por má administração, mas por falta de encomendas de seus clientes habituais. Não havia tanta tecnologia como há hoje, o meio de comunicação era telefone e telex, as maquinas dependiam muito do homem. Se as maquinas não trabalhavam não haviam razões e nem mesmo condições de se manter os homens.

A inflação estava na casa dos 210% a.a., salários foram desindexados da inflação e vinham dia a dia perdendo o poder aquisitivo. No final de 1983 ensaia-se uma recuperação da economia, com superávit da balança comercial e crescimento do PIB. Em 1984, mesmo com crescimento, enfrentávamos uma inflação de mais de 235% a.a.

O ano de 1985 ocorreu a quebra de vários Bancos, iniciando com a intervenção no Banco Sul Brasileiro, grupo Brasilinvest, depois liquidação do Comind, Auxiliar, Maisonnave.

Para não ficarmos adentrando em história econômica do país, vamos apenas pincelar mais algumas coisas.

Com a nova república, em 1986, tomando posse o Presidente Jose Sarney, após a morte de Tancredo Neves, mais uma vez o PMDB deixa de apoiar o governo, adotou-se o plano cruzado, orquestrado pelo então ministro Dilson Funaro, trazendo congelamento de preços e salários, a famosa tablita de redução de valores e demais.

Levou a economia a um desastre, expirando se no segundo semestre de 1986, mais uma vez a criação de outro plano econômico denominado cruzado 2, tentando assim controlar o consumo e o déficit público (veja que o déficit público sempre aparece em nossa história), onde se reajustou preço dos automóveis em 80%, combustíveis em 60%, energia elétrica em 35%, mantendo os demais preços congelados. Porém, a população estava pagando ágio sobre os demais produtos, o que já estava sendo praticado anteriormente.

Porém, não durou muito está tentativa de ajustes e a inflação continuava a crescer.

Em 1987 surge o plano Bresser, criado pelo ministro Jose Carlos Bresser Pereira, mais uma vez congelando preços pelo período de 3 meses, retira o gatilho de reajuste salarial, que estava sendo praticado a cada vez que a inflação chegasse a 20%, desvaloriza a moeda em 10% frente ao dólar, previa um corte do déficit público, reduzindo despesas (a história se repete), porém não conseguiu e em dezembro do mesmo ano deixa o ministério com uma inflação de mais de 365% a.a.

O ano de 1988 foi muito sofrido para o povo brasileiro, uma inflação galopante, aplicações em over night para aqueles que ainda tinham recursos, porém, o povo sem ter como se defender, cada dia mais esmagado, causado por tanto desmando na economia.

Em janeiro de 1989, temos o famoso plano verão, cortando 3 dígitos da moeda, mais um congelamento de preços e a proposta de cortes de gastos do governo. Busca extinguir a correção monetária e extingui as OTNs – Obrigações do Tesouro Nacional. Sem qualquer sucesso, cria-se um novo índice de correção e a inflação entra em uma escalada desesperada atingindo ao final de 1989 a 1.972% a.a.

Novas eleições, eleito o presidente Fernando Collor, que em março de 1990 implementa o famoso plano Collor, confiscando a poupança dos brasileiros (conta corrente bancária/caderneta de poupança/investimentos diversos). Retira bruscamente a circulação de moeda da economia, corte de gastos do governo (a história se repete) e dos poupadores, congelamento de preços (mais uma vez) e correção dos salários com base na previsão de inflação do mês seguinte.

Abertura dos portos com a facilitação de importações. A economia entra em retração, medidas judiciais contra o confisco do governo “brotam” no judiciário, não há sucesso do plano e a inflação retoma o crescimento.

Em janeiro de 1991 é lançado o plano econômico denominado Collor 2, congelando salários, tentativa de incentivar a produção (retraída pelo Collor 1), desestimula a indexação acabando com o famoso over night, uma aplicação diária realizada pelos bancos aos seus clientes que corrigia o dinheiro de um dia para o outro para preservar investimento da corrosão da inflação.

Em menos de um mês os empresários tiram seu apoio e demonstram a insatisfação com o resultado que este plano apresentou não conseguindo o governo levar este plano adiante, a inflação retorna aos 475% a.a.

Com a queda de Fernando Collor, assume seu vice Itamar Franco, tendo como seu ministro da fazenda Fernando Henrique Cardoso e em fevereiro de 1994 é implantado o Plano Real, iniciando-se com a famosa URV (unidade real de valor), sendo um momento de transição e acomodação da população para adaptarem-se a nova política econômica e a nova moeda, o Real, que a partir de 1º de julho daquele ano entraria em circulação. Há de se lembrar que um ano antes o governo já havia cortado 3 zeros da moeda e criando à época o Cruzeiro Real.

Por fim, em 1º de julho de 1994 entra em circulação o Real, sendo que um real valia 2.750 cruzeiros reais (então uma URV). A base do plano era a mesma do plano cruzado (Sarney), onde entendia-se que a raiz da inflação era inercial, ou seja, os reajustes tentavam recompor as perdas da inflação passada, criando assim um redemoinho de aumentos.

Inicialmente os preços estavam fixados em URV, a qual diariamente era corrigida e posteriormente transformaram-se em Real. Alinhando-se os preços evitou-se a recomposição de perdas derrubando assim a inflação logo no primeiro mês. Restringiu-se o crédito, com a economia mais aberta os importados supriam parte do mercado e da demanda, ficando assim o consumo contido de forma indireta, mas, eficaz.

O plano, sem sombra de dúvidas foi vitorioso, porem a sua manutenção sempre era requerida.

Eleito Fernando Henrique como presidente, mantiveram-se as metas do plano Real e a população começou a experimentar pela primeira vez a vida sem inflação. Veja que iniciamos este texto em 1979, e a inflação sempre foi nossa história.

Ao longo dos oito anos de governo de Fernando Henrique na presidência, inúmeros ajustes foram realizados, inclusive com Armínio Fraga na presidência do Banco Central, o qual foi de suma importância, pois profissional da área de investimentos e finanças, não permitia que especuladores viessem a tentar destruir a estabilidade econômica do Brasil.

Investimentos estrangeiros, novos mercados, aumento da oferta de empregos, entre outros iniciaram e de forma crescente.

Em 2002, com a ameaça do PT assumir a presidência, houve um descolamento do dólar chegando a R$ 4,00 cada USD 1,00. Acomodando-se com a assinatura da famosa Carta aos Brasileiros, prometendo que, caso viesse a ser eleito, não realizaria mudanças bruscas na política econômica do Brasil.

Por fim assume o presidente Lula, e por oito anos comanda o Brasil.

Mais uma vez, me recordo da vinda de Delfin Netto (1979), ao sair da embaixada do Brasil na França, o qual veio para implantar um milagre econômico.

Lula já tinha o milagre nas mãos, o Real. A administração do Real pelo governo Lula, ao criar inúmeros investimentos governamentais, entre eles inúmeros benefícios e subsídios, veio consumindo a nossa estabilidade, culminado aos dias de hoje.

O que nos leva este texto? Ao pensarmos que, militares não sabiam administrar, outros presidentes passaram e não conseguiram administrar, devido a comprometimento político (Sarney) ou descumprimento de acordos políticos (Collor), e aquele que pensavam que era um “louco” (Itamar) foi quem deu o pontapé inicial para que os Brasileiros (com B maiúsculo) pudessem experimentar o doce sabor de viver com baixa inflação. Mesmo com acidentes de percurso, pois não existe mar de brigadeiro na economia, o resultado positivo não se pode negar.

O que vemos acontecer hoje com o nosso país e nossa economia? Total desmando, o poder legislativo, executivo e judiciário estão em pé de guerra, não há bom senso, não há dignidade, não há vergonha, somos medíocres, perdemos valores, criticas, bonecos, desenhos, caricaturas, entre outros de nossos governantes, ministros de todos os poderes, inclusive judiciário, não são poupados. Há uma enorme descrença do povo em seus comandantes. Não há mais credibilidade em qualquer escalão dos três poderes.

Um Juiz Federal é o herói da população. Um ministro aposentado do STF é requisitado pelo povo para ser o novo presidente. Porque? Resposta simples. Colocaram e estão colocando pessoas corruptas na cadeia. Trouxeram ao povo a verdade dos bastidores governamentais.

Nossa maior crise é a crise da falta de ídolos.

Nosso país está indo à falência, seremos em breve uma grande Grécia, sem reservas, sem dinheiro, sem investimentos, sem nada.

O nosso ministro da fazenda, como Zélia Cardoso o fez, vem a televisão e fala “um monte de asneiras”, muitas vezes percebo, ele mesmo tem vergonha do que está falando. Pergunto: porque se presta a fazer este papel?

Estamos voltando ao ciclo inicial de nosso texto, inflação de mais de 100% a.a. e entrando em colapso. Juros de cheque especial e outros tipos de financiamentos chegando a casa dos 800% a.a., e o governo diz que nossa inflação está abaixo dos dois dígitos.

O que mede a real inflação? Os preços que pagamos no supermercado, o preço do cafezinho, a maxidesvalorização do Real perante o dólar, o desmando de nossa economia e o pior de tudo, a corrupção que invadiu o país.

Historicamente não há qualquer explicação para o que estamos passando a não ser a corrupção que nos levou ao desespero, e a não saber como lidar com este monstro que está nos atacando.

Eu, como disse, com a experiência dos planos econômicos que relatei, sou testemunha ocular em dizer, jamais imaginei que um dia estaríamos em uma situação de tamanha desigualdade, ou seja, nós, população, não temos igualdade com nenhum daqueles que se corromperam e se apropriaram de milhões de dólares, não temos igualdade de defendermo-nos das altas taxas de juros, pois, se você possui um “dinheirinho” e vai aplicar em um banco, quanto te paga este banco?

Menos de 1% a.m., mas se você for precisar de empréstimo, fala-se de 5% a.m. para mais, dependendo da linha de crédito. Uma enorme diferença. Se você usa o cheque especial dá-lhe mais de 800% a.a., se usar cartão de crédito, aí sim, você vai quebrar.

Porque este artigo? Apenas como cidadão comum, trago um pouco de esclarecimento para aqueles que não passaram pelo ciclo da nossa economia.

Governo militar? Não funcionou.

Democracia – demorou para funcionar e quando veio o resultado, usaram da democracia para corromperem e se locupletarem de nosso dinheiro (elevada corrupção).

Judiciário, com as decisões que o STF está adotando, sinto que há mais político do que jurista em nossa corte maior.

Legislativo – rifam ministérios aos parlamentares para aprovarem medidas que somente visam tirar ainda mais do povo, sem cortar nada dos gastos. Gastos não são investimentos, mas sim mordomias espalhadas aos quatro cantos de Brasília e demais, crescimento descontrolado da folha de pagamento do Governo, corrupção descontrola em todos os lugares, desde a prefeitura da menor cidade do país até o mais alto escalão governamental.

É isto que o povo Brasileiro tem sofrido.

Não sei mais o que dizer. Só sei que nada sei.

*Paulo Eduardo Akiyama é formado em economia e em direito 1984. É palestrante, autor de artigos, sócio do escritório Akiyama Advogados Associados, atua com ênfase no direito empresarial e direito de família.

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