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Nova nuvem de gafanhotos no Paraguai coloca MS em alerta

Risco é baixo, mas existe: dependendo do clima, insetos podem entrar no Estado

Rádio Caçula - 24 de julho de 2020 - 18:00

Nova nuvem de gafanhotos no Paraguai coloca MS em alerta

A formação de uma nova nuvem de gafanhotos no Paraguai coloca Mato Grosso do Sul em alerta. A probabilidade é baixa, mas existe: se ninguém acabar com os insetos antes que eles atinjam a fase adulta (quando começam a voar), será o clima que determinará que rumo eles tomarão quando ganharem os céus.

O doutor em entomologia da Empresa Brasileira de Agricultura e Pecuária (Embrapa) de Dourados, Crébio José Ávila, disse ao Correio do Estado que os bichos ainda estão em estágio de ninfa, quando não conseguem se locomover com facilidade. "É nessa etapa que o controle fica mais fácil. É o momento de identificar, encontrar os focos e eliminá-los", disse em entrevista exclusiva a equipe de reportagem.

Porém, se nenhuma medida for tomada, eles ganharão asas em breve e partirão comendo tudo o que encontrarem pela frente. Depois que a fêmea põe os ovos no solo (de 50 a 120 de uma só vez), os filhotes demoram um mês para nascer. A partir daí, trocam de pele constantemente até a fase final, quando faz a última muda para ganhar as asas.

Ávila afirma que isso pode acontecer nas próximas semanas. A previsão do serviço de meteorologia da Embrapa é de queda nas temperaturas e vento contrário a Mato Grosso do Sul, o que vai empurrar a nuvem para a região sul. "Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul têm mais riscos".

Contudo, o clima pode ser mais instável do que se imagina. "As mudanças são grandes. Este ano, por exemplo, tinha 90% de chance de gear em julho e até agora não geou. Isso quer dizer que se o tempo virar, teremos uma desagradável surpresa", recorda o especialista em insetos.

É por isso que o alerta está feito. Acredita-se que esses gafanhotos sejam da espécie Schistocerca cancellata. Normalmente costumam passar despercebidos em seus ambientes naturais de origem, tais como pastagens e reservas. Na maior parte do tempo, vivem em baixa densidade populacional e com hábitos isolados, mas em condições de estresse e com clima adequado, mudam seu comportamento e se agrupam, formando nuvens famintas.

A sorte, segundo Àvila, é que o fenômeno ocorre em época de entressafra. Assim, o risco maior é para cana-de-açúcar e pastagens. "Uma nuvem grande pode ter milhões de gafanhotos por quilômetro quadrado que comem equivalente ao seu peso um dia. Se eles têm 50g, por exemplo, serão 50g de folhas, verdes ou secas, o que tiver pela frente", afirma o cientista.

Vídeos na internet mostram a primeira nuvem, há dois meses. Os insetos se aglomeravam nos troncos das árvores aos montes. A espécie que causa danos normalmente é pequena, diferente dos exemplares gigantes encontrados em Mato Grosso do Sul. Na época, a população chegou a acreditar que se tratavam de dissidentes da nuvem que estava a milhares de quilômetros de distância.

Não é normal que se formem tantos grupos desse bicho, afirma o entomologista. A ciência tem várias hipóteses, a mais aceita é de que as mudanças climáticas e a eliminação dos predadores naturais dos gafanhotos estão permitindo que as ninhadas fiquem cada vez maiores.

Problemas com gafanhotos têm sido recorrentes na Argentina, Bolívia e Paraguai especialmente em 2015 e 2017, mas até então não afetavam o Brasil. Contudo, a ocorrência recente de grandes nuvens deixa as autoridades brasileiras em alerta.

Em junho, os animais pararam na Argentina e não chegaram no país por pouco. Os insetos se deslocam geralmente entre 10 km a 20 km por dia, podendo chegar a 100 km com a ajuda dos ventos, segundo a Embrapa Dourados. Mês passado ela parou a 130 quilômetros da fronteira no Rio Grande do Sul.

Ávila, em um documento assinado com o doutor em Engenharia de Sistemas Agrícolas Éder Comunello e o superintendente do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) no Mato Grosso do Sul, Celso Martins, afirmam a necessidade dos órgãos competentes acelerarem a liberação emergencial de produtos utilizados no controle, já que o Brasil tem poucos inseticidas registrados.

O trio recorda, por outro lado, que a eficiência das substâncias também é prejudicada pela locomoção rápida das nuvens. Isso significa que a solução do problema, agora, está nas mãos dos paraguaios.

Clima quente e seco é muito favorável ao deslocamento da nuvem e podemos ter um grande problema quando o inverno é atípico com temperaturas maiores. O frio do inverno, inclusive com geadas e precipitações, é muito importante para conter a praga no sul do continente, pois diminui o metabolismo dos insetos, o que impede seu o deslocamento e seus danos nos cultivos. Por essas razões, o documento pede que as relações com representantes dos órgãos paraguaios de controle sejam estreitadas.

O Mapa (Mapa) já integra o Grupo Técnico de Gafanhotos do Comitê de Sanidade Vegetal do Mercosul (Cosave), possibilitando monitorar e identificar precocemente qualquer possibilidade de entrada dos insetos em território brasileiro.

Em Mato Grosso do Sul, foi criado o Comitê de Emergência Fitossanitária integrado pela Superintendência Federal de Agricultura (SFA/MS), Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro) e Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul) como representante do setor produtivo.

"Também é oportuno lembrar que o estado possui diversos especialistas em ecologia e entomologia lotados em Universidades e Instituições de Pesquisa em MS que poderão auxiliar nessa tarefa", conclui o trio de especialistas.

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