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Geral

Nilton Bustamante escreve para pensar

Nilton Bustamente - 10 de janeiro de 2004 - 11:23

Mais um trabalho do poeta e escritor Nilton Bustamante. Leia Contramão.


Imagina-se que devemos buscar caminhos fáceis nas relações interpessoais, mas nem sempre há sinalizações indicadoras.



Ficamos perdidos.


Quantas mulheres se sentem amparadas e, ao mesmo tempo, sufocadas por um teto, por um prato feito, com direito a não reclamar ou exteriorizar suas necessidades mais íntimas ao homem macho cumpridor de suas obrigações, incluídas as sexuais. Este tipo de homem, com este comportamento, canta como galo orgulhoso de sua virilidade que dá conta de muitas galinhas. - ele não sabe, mas as mulheres assim “confundidas” e tratadas, é certo, todas serão insatisfeitas o tempo todo.


E as preocupações com as particularidades dos sentimentos? O ser humano necessita sonhar, ser bem tratado, bem cuidado, respeitado, em todas as questões e momentos -principalmente a mulher.


Não dá para viver de faz de conta.


Será que a vida é só comida? Só roupa? Só abrigo?


Há aquele homem que fica no sofá, hipnotizado, sendo comandado pela televisão, proibindo qualquer interrupção, ordenando servidão; quando não, fica todo o tempo sempre com os amigos consolado pela cerveja, tomado de glórias dos feitos do dia e da noite: é o futebol, é a sinuca, é a p...; toma atitude após a outra, sem cerimônia, esquecendo-se ou neutralizando a companheira para ser único e absoluto, sem contestação.


Justifica-se, o homem, na enferrujada frase “ninguém é de ferro”. Sim, todos querem desfrutar a “confraternização do ócio”, mas e a mulher esquecida nos afazeres domésticos não tem lugar para esse “grandioso momento”? Ser lembrada, sentir-se notada é isto que ela quer.


- “O quê? Estudar, trabalhar, crescer intelectualmente, conquistar, esbarrar-se com outros homens - todos safados-, nem pensar, minha mulher não. Dê um tanque de roupa que faz passar todas essas idéias anarquistas; vá pilotar fogão...”- bufa o maridão coçando a parte baixa, que julga ser sua melhor.


Há também o tipo intelectual, refinado, todavia inescrupulosamente impõe chantagens psicológicas ordinárias. Arma uma disputa que só existe em sua cabeça, numa estratégia doentia, a supremacia do lar. Nem pensar em ver a mulher-companheira ser bem sucedida.


O homem que esmaga sua companheira com rancor, sem razão alguma, perde uma grande chance de ser feliz; perde o respeito, o carinho, e todas as delícias do ápice sexual só conseguido com a intimidade e cumplicidade entre o casal amigo.


Mulher, vá tomar o seu “sol”, até os prisioneiros têm esse direito, não fique na sombra.


Faz prevalecer que sua vida também é importante, e você estará pronta para o relacionamento maduro e verdadeiro. Caso contrário não vale a pena. Não é amor.


Muitas vezes nos conformamos que devemos descer o rio, aproveitando a correnteza, parecendo ser o natural, contudo, devemos lembrar que para haver a eclosão da vida, a continuidade da espécie, os peixes seguem rio acima, indo contra a correnteza, se arriscando e lutando.


O que se eterniza são as relações bem cuidadas, e não as mais fáceis. O carinho no falar, no calar, no ouvir; valorizar as qualidades; a vida a dois com preocupações mútuas tem que prevalecer sempre.


Mulher, nenhum ditador doméstico tem “direitos estabelecidos” para lhe impor o sofrimento. Ele não pode ser um cavalheiro com os amigos e um pré-histórico com a família. Tome uma atitude de valorização de sua própria vida. Aquela velha máxima ainda é válida: “aprender a se respeitar, antes de exigir o respeito dos outros”.


Mas e os filhos? E a idade? E o despreparo profissional desses anos todos? E toda a dedicação, tudo perdido? - poderá perguntar assustada a mulher prisioneira.


Todos têm o livre arbítrio, não é mesmo? Quem gostar ou aceitar ser escravizada num papel submisso, ser maltratada como doméstica sem direito a remuneração, ou tipo “ele me bate, mas me ama”, o que se pode fazer?


Mas aquela que se gosta como pessoa, e quer ser valorizada, ainda que mantendo a “relação com seu homem” tem que ir à luta e mostrar seu valor e exigir respeito através das atitudes diárias.


Liberdade, ainda que tarde, liberdade sempre a liberdade, pois a sensação da conquista valerá todos os sacrifícios, todas as lutas. E o homem que estiver ao seu lado deverá lhe dar o devido valor, e saber claramente que ele está com você não porque ele é seu dono, e sim porque você o quer. Mas sem amor, e todas as coisas inerentes, como carinho, respeito, plano de luta conjunta para um melhor futuro... sem acordo!


Tanto homem, como mulher, em certas circunstâncias na vida devem vomitar as coisas ruins, e o vômito nada mais é que o reverso, a contramão do natural, tirar o sofrimento, os “sapos”; é subir rio acima, contra a correnteza para ter possibilidade da vida continuar. Conseguir respirar.


Como disse meu grande amigo, hoje, de forma poética:
“Como um náufrago ao avesso não nadei para terra, me arrastei para o mar”.


É uma luta diária, difícil, que cansa, que decepciona muitas vezes, no entanto para ser feliz e livre, tudo vale a pena, pois o bom relacionamento liberta, não escraviza

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