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Nelson Valente: A vida de Jânio em Quadros

Nelson Valente* - 28 de julho de 2009 - 09:33

ACADÊMICO



Um fato transformou profundamente o pensamento de Jânio, levando-o a uma formação política alheia aos clássicos políticos surgidos no cenário eleitoral do país, que foi a leitura da vida de Abraham Lincoln, que apaixonou a mente de Jânio, que ele quase se identificou, quase se modelou à imagem e semelhança do grande presidente da nação norte-americana. A partir dessa leitura, Jânio ficou introspectivo, ensimesmado, embora não deixasse de ser afável. Um retrato de Lincoln foi colocado na parede da sala de sua casa. Ele decorou trechos inteiros dos discursos de Lincoln e os usou em campanhas eleitorais.


Filiação: Gabriel Quadros, médico, e D. Leonor da Silva Quadros. Nascimento: 25 de janeiro de 1917. Natural de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Em Curitiba, Jânio é matriculado no Grupo Escolar Conselheiro Zacarias .A família transferiu-se para São Paulo em 23 de dezembro de 1930, pois o Dr. Gabriel instalava a clínica médica e a farmácia no Largo do Cambuci. Jânio foi matriculado, nesse ano, no Colégio Arquidiocesano. No terceiro ano escolar, a família transferiu-se para a cidade de Lorena, e Jânio foi matriculado no Colégio São Joaquim. A família morou em Bauru, Garça e Cândido Mota e voltou a São Paulo, de onde não saiu mais. Jânio concluiu, em 1933, no Colégio Arquidiocesano, o Curso de Humanidades (Ginasial). Foi menino levadíssimo, e os padres o castigavam forçando-o a decorar trechos latinos. Já rapaz, Jânio passou a ser calado, sempre lendo e ao lado da mãe. Jânio foi criado como filho único (sua irmã, aos 15 anos, faleceu). Em 1935, ele ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo e, desde o início, militou na política acadêmica, apoiando uma das chapas para renovação da diretoria do Centro Acadêmico XI de Agosto. Jânio saiu pela primeira vez nas colunas dos jornais em 19 de setembro de 1936, no Diário da Noite, ao qual concedeu entrevista. Foi o primeiro secretário da Associação Acadêmica Álvares de Azevedo, e 1948. Em 1939, ocupou esse cargo no Centro Acadêmico XI de Agosto e a cadeira Castro Alves na Academia de Letras da Faculdade de Direito, onde pronunciou brilhante discurso na posse. Jânio bacharelou-se em Direito em 1939. Tinha 21 anos quando conheceu, no Guarujá, Eloá do Valle Quadros e, em 1942, o casamento se realiza. O casal foi morar no Cambuci, na Rua Sinimbu, 198, em modesta casa. Nessa época, Jânio lecionava Português e Geografia e iniciava banca de advogado. O casal teve uma filha: Dirce Maria. Antes de se envolver com a política, Jânio tinha distrações como: jogar xadrez, decifrar palavras cruzadas, ler histórias policiais, ir ao cinema e a bailes de carnaval. Jânio Quadros, homem alto, magro, cabelos finos e compridos, bigodes caídos na boca, olhos grandes com estranho brilho, voz firme, convincente, pausada, sem gestos expressivos e extremamente nervoso. É simples até a extravagância. Dorme tarde. Gosta do campo, da caça, e detesta o mar. D. Eloá descreveu Jânio com estas palavras: “Bom companheiro, feio, inteligente, bom pai, nervoso e desleixado”. Jânio, ao ler a vida de Abraham Lincoln, transformou profundamente seu pensamento, o que o levou a uma formação política alheia aos clássicos políticos até então surgidos. A partir dessa leitura, ficou introspectivo, ensimesmado, embora afável. Jânio Quadros não podia parar quieto, não podia deixar de ter atividades intensivas, causas que pudessem empolga-lo, pois a quietude o levava à melancolia. Os alunos do professor secundário Jânio, no Colégio Dante Alighieri, entusiasmaram o mestre a aceitar a sua candidatura a vereador em 9 de novembro de 1947. Jânio dedica-se à campanha, tem o apoio de todos os ex-alunos e professores da faculdade. Foi candidato pelo Partido Democrata Cristão e foi eleito vereador com 1.707 votos. Homem pobre, desconhecido, sem prestígio, chega ao plenário do legislativo da “cidade que mais cresce no mundo”.















Jânio VEREADOR



Posse: 1o. de janeiro de 1948, renunciando ao mandato em 12 de março de 1951 (assumindo a cadeira de deputado estadual).

Câmara Municipal Em 1948, apresentou o maior número de requerimentos, discursos, indicações, projetos de lei, leis. Em 1949 dobrou o número de proposição. E, em 1950, apresentou ainda mais proposições nas sessões da Câmara Municipal, perfazendo a cifra de 2.007 proposições apresentadas no Palacete Prates, abordando uma variedade de temas e assuntos. Jânio dedicou aproximadamente 18 horas diárias ao mandato popular, sem outras preocupações ou interesses, deixando de lecionar e fechando a sua banca de advogado. Ele se descuidou de si próprio, de sua vida privada, sacrificou mesmo o lar para dr integral desempenho à causa pública. Jânio aparecia nas ruas, nos bairros, nas reuniões e até mesmo no plenário da Câmara Municipal de São Paulo numa figura quase espectral: cabelos compridos, despenteados, barba por fazer, roupa amarrotada, suja, gravata com laço feito há meses, enfim, um homem desleixado, “lutando até o limite extremo de suas forças pela causa comum”. Jânio se tornou o mais fiel intérprete das classes mais humildes, daqueles pisados, com mágoas e sede de justiça. Seu exercício de vereador não se restringia apenas ao interior da Câmara Municipal; saía para visitar, inspecionar inúmeros estabelecimentos ou setores que interessassem à vida da população. De fato, Jânio foi um dos mais característicos renovadores que já tivemos neste país. Tomou posição não poucas vezes em favor de causas aparentemente subversivas, mas, na realidade, profundamente democráticas. A tecla em que Jânio batia, repetia, reiterava como uma obsessão, era aquela da recuperação moral e administrativa. Finalmente, no dia 12 de março de 1951, apresentou à mesa requerimento renunciando ao mandato de vereador, por ter sido eleito deputado estadual com 17.840 votos em 3 de outubro de 1950.


DEPUTADO ESTADUAL



Jânio, em 13 de março de 1951, assumiu a cadeira de deputado estadual da Assembleia Legislativa do Estado, demonstrando desde o início que sua atuação seria a mesma desenvolvida na Câmara Municipal. Jânio procedia da mesma maneira: recebia, abria, respondia e batia à máquina. Chegava às 7:30h e atendia 30 pessoas; às 12:30h almoçava; entre 13 e 14h examinava correspondência. Às 14:30h iniciava o expediente do legislativo estadual. Jânio falava todos os dias. Sua presença era como uma sombra pairando sobre os trabalhos da Casa do Povo. Qualquer abuso, tibieza, irregularidade, denúncia, covardia, e lá estava a sombra de Jânio em todos os cantos, nas comissões e no plenário. Os deputados o temiam mais que ao próprio diabo. Entre 15 e 16h, Jânio atendia mais 30 pessoas (intervalo das sessões da Assembleia). As noites eram reservadas para reuniões e conferências. Nas tardes de sábado, recebia os amigos em sua modesta casa. Aos domingos, costumava correr os bairros e ouvir os moradores e tomar-lhes as sugestões. Em 18 meses de trabalho, são ao todo mais de 40 leis. O seu partido, Partido Democrata Cristão, apresenta Jânio Quadros como candidato de confiança popular à Prefeitura de São Paulo e ele parte para a conquista do primeiro posto executivo de sua vida.















CAMPANHA PARA PREFEITO



Por volta de 1928, a reforma constitucional levada a efeito cassou a autonomia da capital de São Paulo. Os prefeitos foram nomeados por governadores e interventores federais (após 1930). Em 1945, com a volta do Brasil à normalidade democrática, o deputado Antônio Feliciano apresentou um projeto de lei que dava de novo autonomia às cidades de Santos e São Paulo. O Partido Democrático Cristão lança seu candidato à Prefeitura paulistana, Jânio Quadros, que era o parlamentar mais combativo, mais agressivo e ativo do Palácio 9 de Julho. Jânio não admitia colaboração com o governador do Estado, Lucas Garcez, que conseguira domínio completo do poder legislativo estadual através da Coligação Interpartidária, composta por 64 deputados. Por toda essa força, tudo indicava que Lucas Garcez chegaria à Presidência da República, seus candidatos venceriam e chegariam ao governo do Estado e à Prefeitura. Entre vários indicados, a Coligação Interpartidária escolhe o professor Francisco Antônio Cardoso como candidato à Prefeitura de São Paulo e este instala seu comitê central à Rua 7 de Abril, contando com o apoio do mando oficial de São Paulo. O candidato Jânio Quadros localizou o seu comitê central à Rua Augusta, 935, e era uma das figuras mais conhecidas pelo povo dos bairros humildes e afastados da cidade. Sua campanha se desenvolveu de rua em rua, de casa em casa. Por isso dizia: “Não ganho eleições em conchavos palacianos, ganho-as na rua!”, e bradava em praça pública: “Mais vale acender uma vela do que amaldiçoar a escuridão!” O povo acorria em massa aos comícios do candidato do PDC-PSB, com velas acesas nas mãos. O candidato professor Cardoso dispunha de verbas enormes pra comprar espaços nos jornais, rádios, televisão e até cinema. O candidato Jânio apresentou a sua réplica: "O tostão contra o milhão!" Foi um dos slogans da sua memorável jornada para as eleições de 22 de março de 1953. A máquina do Município estava arruinada, desmoralizada, corrompida, as finanças à beira da ruína e da falência. Cumpria uma nova política, recuperar moral e administrativamente o Município, os serviços públicos prestados pela Prefeitura. Para isso, seria necessária uma verdadeira limpeza, uma varredura em regra... a vassoura era necessária para varrer os ladrões, os negocistas, os relapsos, os ineptos, todos os que tiraram vantagens do poder, ao invés de servir ao povo. Nas praças públicas, multidões se concentravam, todos vibravam com fala do novo líder. Era o despertar de forças surdas e inconscientes. Formava-se uma nova mentalidade social e política, e Jânio representava o protesto do povo, ele era o tostão humilde e explorado contra o milhão dos poderosos. Empunhava a vassoura que prometia, à luz das velas, como um bruxo, varrer os corruptos e ladrões, os políticos desonestos. “Recuperação moral e administrativa!”, dizia Jânio nos comícios, com voz firme, enérgica, sincera. Ele teve que superar várias resistências, pois os seus inimigos tentaram indispô-lo de toda forma possível contra o povo paulista. Alardeavam que ele era mato-grossense; quiseram impugnar sua candidatura no Tribunal Regional Eleitoral; acusaram-no de ter o apoio dos socialistas, o que era contrário à fé católica; falara que era um homem feio, magro, mal vestido, mal barbeado, demagogo etc. No dia da eleição, Jânio declarou: “Como simples expressão dos homens e mulheres de bem, empenhado na recuperação moral e administrativa deste Município, aguardo o resultado com humildade, mas com confiança”. A 22 de março de 1953, quando se desferiu a eleição, Jânio foi votar na Escola Brasílio Machado, à Rua Galvão Bueno, 707, às 16:20h. O povo, fotógrafos, jornalistas cercavam o edifício, aguardando a sua chegada. Jânio chegou na companhia de Marrey Júnior e de sua esposa Eloá Quadros. Estava doente, afônico, abatido pela dura campanha, deixara o leito para vir botar. A multidão o recebe com entusiasmo, o que comove D. Eloá. Conduzido à 30a. Sessão Eleitoral, diante da cabina, Jânio pergunta: ”Vocês têm aí uma das minhas cédulas?” As eleições foram a 22 de março de 1953 e, no dia 24, os jornais já publicavam a vitória de Jânio Quadros em manchetes espetaculares. O povo se manifestava em passeatas nos bairros e no centro da cidade.

O resultado proclamado pelo TRE:

Jânio Quadros -284.922 votos

Francisco A. Cardoso - 115.055 votos

André Nunes Júnior - 18.663 votos

Ortiz Monteiro - 3.756 votos

Estes resultados provaram a falência dos partidos políticos no Brasil, bem como a destruição da “máquina eleitoral” que todos os velhos políticos supunham invencível. O povo encontrou em Jânio o seu líder, aquele que poderia superar um estado de coisas já falido e ultrapassado. Todas as condições sociais existentes colaboraram para a reação popular. Para o povo, Jânio era o mais fiel intérprete das suas aspirações. Adhemar de Barros declarou à imprensa, ao saber do resultado: “O resultado das urnas é o desabafo do povo”. Já o governador Garcez foi honrado e franco, dizendo: “Os votos foram contra o meu governo. Recebo-os com serenidade”. O senador Assis Chateaubriand disse: “- Estamos diante de um fenômeno dos mais impressionantes da vida política brasileira. Vimos um homem sozinho, capitaneando um partido minúsculo, derrotar o conjunto de oito partidos, que dispunham das simpatias de poderosos jornais, de uma imensa rede radiofônica e outros recursos de propaganda”.







Jânio, PREFEITO DE SÃO PAULO

A posse de Jânio na Prefeitura da Capital paulista se deu a 8 de abril de 1953 e inaugurou um novo estilo de governo. Trabalhava das 7 horas da manhã até às 10 horas da noite. Às quartas-feiras e aos domingos dava audiências ao povo nos diversos bairros, prestando contas da sua administração à população. Dava audiências particulares às pessoas que o procuravam. Jânio procedeu a uma varredura na Prefeitura de São Paulo, chegando até a ser impiedoso, tal o rigor que empregava na sua administração, mas necessitava cumprir a promessa de campanha: ”recuperação moral da administração da cidade”. Jânio, ao assumir, encontrou o setor econômico-financeiro em déficit tremendo, mas, através da mais rigorosa economia de gastos e corte de despesas dispensáveis ou adiáveis, já em dezembro de 1953, o orçamento d Prefeitura acusava saldo. Jânio procurou melhorar os bairros da periferia, os bairros proletários, de gente humilde, os mais populosos. Ele angariou a simpatia e confiança das massas trabalhadoras esquecidas. Um dos problemas mais graves da época era a situação da companhia Municipal de Transportes Coletivos (CMTC), e Jânio comprou 600 ônibus novos, recuperou a maior parte da frota paralisada, valorizou e aumentou o salário dos empregados da CMTC e, assim, consegui contornar e resolver os problemas. Outra preocupação de Jânio foi o embelezamento dos parques, praças e jardins públicos, o que dava novo aspecto à fisionomia da metrópole bandeirante. Jânio foi áspero com as empresas estrangeiras, como a Light e a Companhia Telefônica, que não cumpriam os contratos, aplicando multas, chamando-as ao cumprimento dos compromissos. Recolheu carros oficiais desnecessários e os vendeu em concorrência pública. Outra novidade é que Jânio cortou qualquer espécie de lançamento de pedra fundamental de obras, inaugurações, corte de fitas, o que era comum entre administradores passados, para efeito de propaganda das “realizações da administração”. Jânio termina com os “atravessadores” no setor de abastecimento de gêneros e verduras, o que foi objeto de grande sensação e polêmica na opinião pública e nos jornais. Algumas atitudes abalaram profundamente a opinião pública, como a punição que Jânio deu a Adhemar Ferreira da Silva (atleta, campeão olímpico de salto triplo), pois este se afastou do cargo que exercia na Prefeitura Municipal sem autorização. O Prefeito assim explica: “- Infelizmente era um funcionários relapso. Compreendo que seja um grande atleta, que muito bem representou o Brasil nas provas olímpicas, mas a Prefeitura ainda não é clube de atletismo, de sorte que, para o bom cumprimento de meu programa, fui obrigado a afastá-lo”. Um fato marcante na época foi quando Jânio mandou interditar a Casa de Apostas do Jockey Club de São Paulo, pois esta não oferecia a segurança necessária, em virtude da precariedade do prédio em relação ao número de pessoas que ali entravam. Assim foi o prefeito Jânio Quadros.







Jânio EXPULSO DO PDC





O PDC lança Jânio Quadros a concorrer às eleições de 3 de outubro de 1954 para governador de São Paulo. Jânio ingressou no PDC em 1947 e levou esta legenda como vereador, deputado estadual e prefeito de são Paulo. Após indicar o nome de Jânio a governador, dias depois, o PDC o expulsava do partido, alegando que Jânio coordenava sua própria candidatura, não dava ouvidos, não cumpria compromissos e alegava que o PDC lutava por ideias e não em torno de pessoas. O partido lançou Jânio a candidato no dia 7 de janeiro de 1954, inesperadamente. Todavia, Jânio não concordou que o candidato a vice-governador da chapa saísse também dos quadros do partido. A situação agravou-se e, no dia 30 de janeiro, romperam-se os últimos liames: o PDC expulsou Jânio Quadros do partido com grande espalhafato dos jornais, provocando um escândalo político de grandes proporções. O próprio Jânio ficou profundamente chocado com a atitude dos velhos companheiros de luta, e os jornalistas só conseguiram do prefeito a seguinte frase: “Não confirmo e não desminto nada. Sou um homem muito feliz”. A partir daí, Jânio não foi mais visto. Sumiu da Prefeitura e de sua casa. Cria-se um suspense e logo vem a resposta: daria uma entrevista coletiva à imprensa no dia 4 de fevereiro de 1954, em sua residência à Rua rio Grande, 812, às 20 horas. É lógico que os fatos por ele expostos foram contestados pelos seus ex-partidários e pelos Drs. Queiroz filho, André Franco Montoro, governador Garcez, deputado Juvenal Sayon.










CAMPANHA PARA GOVERNADOR





Saindo do PDC, Jânio apoiou-se nas legendas do Partido Socialista Brasileiro (PSB) e mais o Partido Trabalhista Nacional (PTN). Este passou a ser o bloco chamado “janista”. Nas eleições de 3 de outubro de 1954, houve quatro candidatos ao governo do Estado: Jânio Quadros, pelo PSB e PTN; Prestes Maia apoiado pelo governador Garcez; Adhemar de Barros; Wladimir Piza. Jânio Quadros mandou fazer 2 milhões de vassourinhas, o símbolo de sua campanha. Os cartazes de sua propaganda tinham uma grande vassoura fazendo correr os ratos (políticos) assustados. No interior aparecia a frase: “Jânio vem aí!”. A campanha se desenvolveu nos moldes da que o levou à Prefeitura de São Paulo. Ninguém acreditava na vitória de Jânio, porque todos sabiam que no interior do Estado havia a influência de delegados, escrivãos, coronéis, que eram ligados ao governador Garcez, o qual apoiava Prestes Maia. Todos sabiam que só ganhava no interior quem tinha a máquina montada, a famosa máquina eleitoral. Outra força na época estava com Adhemar de Barros, que já fora ex-interventor no Estado e ex-governador do Estado. Seu partido era organizado tanto no interior como na capital: Partido Social Progressista. Jânio não tinha partido forte, não tinha amigos em todos os cantos do Estado. Como pretendia, então, ganhar as eleições? Todos os prognósticos falharam e Jânio passou por todas as cidades do interior de São Paulo em comícios espetaculares. Ele repetia a frase maliciosa dos seus adversários nos comícios nas praças: “– Dizem que quero ganhar essa eleição com a palavra, com a conversa. E como queriam que eu ganhasse as eleições? Com palmadinhas nas costas? Com churrascos? Com chopadas? Com dinheiro gasto em propaganda paga, cuja origem ninguém confessa?” Jânio atacava o governador Garcez e, consequentemente, seu candidato Prestes Maia, dizendo que este pretendia ser o “continuador de obras inexistentes, com finanças públicas à beira do descalabro”. Já sobre Adhemar de Barros, como respondeu a processo-crime de automóveis adquiridos ilicitamente, embora o Supremo Tribunal tivesse declarado ser ele inocente, Jânio dizia: “– Aprendi, no berço, com minha mãe, que não há homem meio honesto e meio desonesto. Ou são inteiramente honestos ou não o são.” Alguns setores começaram a espalhar mentiras a respeito dos bens de Jânio. Este deu à publicidade a sua “declaração de bens”. No auge da campanha, aconteceram três episódios marcantes: atentado contra o jornalista Carlos Lacerda, morte do major Rubens Vaz, renúncia à própria vida de Getúlio Vargas. Estes impactos foram de grandes proporções e atingiram os candidatos. As eleições de 3 de outubro de 1954 revelaram os seguintes resultados:

Jânio Quadros- 660.264 votos

Adhemar de Barros - 641.960 votos

Prestes Maia - 492.518 votos

Wladimir Piza - 79.783 votos



Jânio ficará no Palácio dos Campos Elíseos até 31 de janeiro de 1959.










MANDATO DE GOVERNADOR



No dia 31 de janeiro de 1955,às 8 horas da manhã, o prefeito Jânio Quadros entregou a sua renúncia à Prefeitura de São Paulo, a fim de ser empossado no cargo de governador do Estado. Em sessão extraordinária, às 9:30h, Jânio dirigiu-se à Assembleia Legislativa do Estado, juntamente com o Sr. Porfírio da Paz, vice-governador, onde prestou o compromisso constitucional. Dirigiram-se a seguir ao Palácio dos Campos Elíseos, para as cerimônias de praxe, onde o governador Lucas Nogueira Garcez transmitiu o cargo a Jânio da Silva Quadros. Já no dia 7 de fevereiro de 1955, o governador Jânio concedia a primeira entrevista coletiva à imprensa, na qual esclarecia que as finanças públicas haviam sido encontradas à beira da ruína e ao secretário da Fazenda, professor Carlos Alberto de Carvalho Pinto, todos deveriam consultar antes de qualquer medida econômica-financeira. Logo depois, 11 mil servidores extranumerários foram dispensados, num gesto firme de uma administração ímpar na história política. Foi uma medida de economia. Logo que as condições financeiras melhoraram, o governador readmitiu todos os dispensados que desejaram retornar. O professor Carvalho Pinto foi um eminente técnico em finanças, e as características da sua política econômico-financeira eram: a) evitar o quanto possível a majoração de impostos; b) solução dos problemas administrativos dentro dos recursos orçamentários; c) compressão de despesas, demitindo funcionários supérfluos; d) recuperação da confiança da opinião pública através do pagamento pontual de todas as compras; e) fiscalização constante e implacável do pessoal e dos serviços executados. As preocupações do governo paulista eram três: recuperação econômico-financeira, saneamento moral e obras realizadas em favor do povo. Jânio Quadros, em seu mandato de governador, aplicou a lei S/C Ltda. qualquer espécie de contemplação, moralizou impiedosamente a administração pública, colocou-se ao lado dos funcionários honestos e trabalhadores. Jânio, QUASE CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA (Juarez Távora)

No dia 3 de abril de 1955, sábado, cerca das 21 horas, grande massa popular se aglomerava defronte à sede do governo estadual. Jornalistas, fotógrafos, locutores aguardavam ansiosamente a decisão do governador Jânio Quadros: seria ou não candidato à Presidência. Este era o dia da decisão, pois o candidato deveria se desincompatibilizar do cargo para concorrer ao pleito em 3 de outubro de 1955. Todos se agitavam. Alguns apostavam que ele seria candidato, outros não, pois estava há dois meses como governador e “cumpriria o mandato do primeiro ao último dia”. Finalmente, após longa espera, Jânio recebe a imprensa para seu pronunciamento, no qual deixou claro que, apesar de todas as garantias, segurança e êxito que lhe trouxeram em relação à campanha para a Presidência, ficava como governador do Estado de São Paulo, porque necessita promover a recuperação administrativa, econômica, financeira e moral de nossa terra e manteria fidelidade aos anseios paulistas. Permaneceria no ponto que o povo lhe havia confiado. Passou a apoiar Juarez Távora, que entrou na luta. Saiu derrotado da campanha, mas levou a melhor das impressões do governador Jânio Quadros.


CAMPANHA EM FAVOR DE JUAREZ



03/10/1955 – resultado do pleito para presidente:

Juscelino Kubitschek -3.060.899

Juarez Távora - 2.601.166

Adhemar de Barros - 2.221.123



Jânio empenhou-se até o extremo limite de suas forças, na mesma luta do general Juarez Távora, por quem tinha grande admiração.


Jânio DEPUTADO FEDERAL



Deixou o governo paulista em 31 de janeiro para assumir a cadeira de deputado pelo Paraná, que conquistara em 3 de outubro do ano anterior, com o recorde estadual de 78.810 votos. Em abril, o Partido Trabalhista Nacional lançou-o candidato à sucessão de Juscelino Kubitschek. Apoiado pelo PDC, começou a campanha, mas renunciou em 25 de novembro, numa manobra que levou Carlos Lacerda a promover uma bem-sucedida campanha para que reassumisse a candidatura. Conquistou também o apoio da UDN e do PL. Jânio jamais foi ao Congresso Nacional. Aproveitou para viajar pelo mundo com a mulher Eloá e a filha Dirce Tutu Quadros. Jânio disputou nove eleições: 1947 – eleito vereador suplente em São Paulo (PDC); 1950 – deputado estadual de são Paulo (PDC-PSB); 1953 – eleito prefeito de São Paulo (PDC); 1954 – eleito governador de São Paulo (PSB-PTN); 1958 – eleito deputado federal (PTB); 1960 – eleito presidente da República (UDN-PDC-PTN-PSB); 1962 – ficou em segundo lugar na eleição para governador de São Paulo (PTN-MTR); 1982 – foi candidato ao governo do Estado de são Paulo pelo PTB – terminou a disputa em terceiro lugar; e 1985 – eleito prefeito de São Paulo (PTB).

Em setembro de 59, Jânio voltou de viagem à Europa e começou sua campanha para a Presidência da República. Com os principais partidos políticos (UDN e PSD) enfraquecidos, a candidatura de Jânio – que sempre se manteve à margem dos partidos – começou a ganhar espaço. As promessas de austeridade econômica e política externa independente eram as linhas de sua plataforma política. O apoio de Carlos Lacerda foi decisivo para que Jânio conquistasse a UDN, formando uma ampla coligação, que incluía PDC, PTN, PL e PR. Seus adversários eram o marechal Henrique Lott (psd-ptb) E Adhemar de Barros (PSP). Com um programa que se distanciava da UDN (ele defendia o controle das remessas de lucro ao exterior), obteve apoio do PTB. Em outubro de 60, aos 43 anos, Jânio foi eleito com 5.636.623 votos (48,2%), contra 3.846.825 de Lott. Nos sete meses em que ocupou a presidência, Jânio tomou medidas para promover o “saneamento moral da nação”. Introduziu a censura “moralizadora” da TV e proibiu as brigas de galo, a propaganda comercial em cinemas, os desfiles de misses com maiôs cavados, o uso de lança-perfume no carnaval e as corridas de cavalos em dias úteis. Sua cruzada começou no dia da posse, em 31 de janeiro de 61, com a criação de cinco comissões de sindicância para apurar irregularidades no governo de Juscelino Kubitschek. Até 31 de março, Jânio criaria mais 28 comissões de sindicância e inquérito, todas presididas por militares. A intensa utilização de oficiais das Forças Armadas em sua administração e o temor do envolvimento de nomes do governo anterior em processos acirrou a hostilidade dos congressistas. Jânio não fez questão de aprofundar relações com o Congresso. Ele recebia deputados federais duas vezes por mês e senadores uma, em audiências coletivas. No plano externo, Jânio anunciou em 6 de fevereiro que adotaria uma política de neutralidade. Negou-se a apoiar a invasão de Cuba pelos Estados Unidos no dia 16 de abril. Também enviou missões comerciais aos países então comunistas (URSS, Bulgária, Hungria). Pretendendo ampliar a presença brasileira na África, o governo abriu embaixadas no Senegal, Gana, Nigéria e Zaire. Em 19 de agosto, condecorou Ernesto Che Guevara, então ministro da Economia de cuba, com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, provocando protestos dos militares e da UDN. A política econômica de Jânio teve como principal objetivo o combate à inflação, que havia atingido 30,6% ao ano em 1960, a redução da dívida externa e a diminuição do déficit orçamentário. Apesar de a economia em 61 ainda experimentar uma taxa de crescimento em torno de 7% ao ano, o déficit orçamentário atingia nesse ano a marca de Cr$ 113 bilhões (valores da época). O ministro da Fazenda, Clemente Mariani, adotou uma política recessiva. No dia 1 de março, anunciou uma reforma cambial. O cruzeiro foi desvalorizado em 100% em relação ao dólar. Foram eliminados os subsídios para importação do trigo (o que provocou um aumento no preço do pão), petróleo (aumento da gasolina) e dos bens de produção sem similar nacional. Jânio enviou ao Congresso dois projetos polêmicos – a lei antitruste, que visava “embaraçar a criação ou funcionamento de monopólios”, e a lei de remessa de lucros, que só foi aprovada no governo de João Goulart. Seu relacionamento com o Congresso foi se deteriorando. Ele estava praticamente isolado no Palácio do Planalto, quando renunciou na manhã de 25 de agosto. Sua saída foi precipitada por um discurso do então governador do antigo Estado da Guanabara, Carlos Lacerda (UDN). Na noite anterior, Lacerda usou uma cadeia estadual de rádio e TV para acusar Jânio de tramar um golpe contra o Congresso. Ele soube do discurso na manhã do di seguinte. Reuniu auxiliares e disse que iria renunciar. Jânio sempre conseguiu criar fatos políticos. Usava a vassoura como símbolo da promessa de “varrer” a corrupção. Como ninguém, ele falava com a mídia e com o eleitorado por meio de imagens. Ao pendurar um par de chuteiras na porta de seu gabinete na Prefeitura em 86 – indicando disposição de se aposentar – conseguia o efeito desejado: políticos e jornalistas passavam a especular sobre o gesto. Jânio não saída do noticiário. Ele cultivava também uma imagem austera. Sua mulher, Eloá, sempre viveu na sombra de sua carreira política. Estava próxima quando o marido precisava. Segurava o microfone nos comícios, cuidava de sua roupa e da alimentação. Jânio morreu apenas dezesseis meses depois da mulher. A marca de Jânio sempre foi a surpresa. Apesar de conservador, encontrou-se com o ex-guerrilheiro Che Guevara. Inspirado no ídolo Abraham Lincoln deixou a barba crescer imitando o seu estilo. Colocou uma estatueta do ex-presidente dos EUA em sua mesa. Ao assumir a Prefeitura, desinfetou a cadeira usada pelo seu adversário Fernando Henrique Cardoso. O candidato do PMDB havia se deixado fotografar na cadeira dias antes da eleição. Suas expressões animavam os fotógrafos. Irritado ou de bom humor, sempre oferecia um bom ângulo. A renúncia à Presidência da República em razão de pressões de “forças terríveis” foi um mito mal digerido pelos próprios janistas. Os mais fiéis seguidores de Jânio acreditariam no máximo que na manhã de 25 de agosto de 61 o presidente acordou deprimido, tomou umas e outras e redigiu a carta que chutaria para os ares o mandato legitimado pelas eleições de 3 de outubro de 60. A história foi, no entanto, mais trivial. Centralizador e autoritário, Jânio enxergava o Congresso como um obstáculo para o exercício de seu estilo de comando. Um golpe de Estado permitiria o fechamento da Câmara e do Senado e ele exerceria o poder de forma discricionária. O raciocínio de Jânio e de seu grupo mais próximo de assessores – como o ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, e o chefe da Casa Civil, Quintanilha Ribeiro – era de que as Forças Armadas se veriam encurraladas caso ele abandonasse o Executivo. Elas se recusariam a empossar o primeiro homem na linha sucessória, o vice-presidente João Goulart (Jango), originário do getulismo e adepto de um trabalhismo que tinha o apoio do leque de organizações da esquerda. Prova cabal de que a renúncia não foi um gesto individual de um presidente destemperado: a carta em que a decisão seria tornada pública estava desde 20 de agosto em poder de Horta. Ele a mostrou a um grupo de conspiradores que se reuniu na casa de um industrial em Bertioga (SP). Entre os participantes do encontro estava o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade (PSD-SP), e o ministro da Guerra, Odílio Denys. O golpe começou a falhar pela não adesão do ministro da Aeronáutica, brigadeiro Grum Moss. Ele e o então governador de São Paulo, Carlos Alberto Carvalho Pinto, eleito pelo janismo e escudeiro do presidente, abortaram do roteiro a cena que teria uma importância fundamental. Jânio planejava, já com a renúncia divulgada em Brasília, aterrissar no Aeroporto de Congonhas, onde o Viscount presidencial seria cercado pelas “massas” – o que seria o pretexto para voltar ao poder “nos braços do povo”. Moss e Carvalho Pinto forçaram a aeronave a descer em Cumbica, base aérea na época isolada na zona rural. O senador Moura Andrade também roeu a corda. Convocou imediatamente o Congresso, fez a leitura da carta de renúncia e declarou vaga a presidência. Desencadeou assim o processo de negociações que levaria os militares a aceitarem Jango no Planalto, em troca da limitação de seus poderes pela aprovação da emenda parlamentarista.


OS PASSOS DA RENÚNCIA



3 de outubro de 1960 Jânio é eleito presidente .31 de janeiro de 1961. Toma posse 15 de março. Envia ao Congresso projeto de nova lei antitruste. 7 de julho Manda ao Congresso projeto de lei sobre remessa de lucros ao exterior. 19 de agosto Condecora Ernesto Che Guevara com a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul .24 de agosto Carlos Lacerda, governador da Guanabara, faz violento ataque ao governo federal em discurso na TV .25 de agosto Jânio renuncia.



(*) é professor universitário, jornalista e escritor














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