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Nelson Valente: A leitura na escola

Nelson Valente* - 10 de junho de 2009 - 05:59

O progresso da ciência e da tecnologia no mundo de hoje processa-se em um ritmo veloz e ocasiona grandes mudanças em todos os setores. É, portanto, exigido do homem um ajustamento constante a necessidades que estão sempre mudando. A própria instrução que hoje ministramos poderá ser considerada inadequada ou insuficiente amanhã.
Para que o homem possa se manter atualizado deve autoeducar-se de modo constante.
Em vista disso, a leitura e os livros têm hoje um novo significado, que é o de permitir a atualização das pessoas e tornou-se assim, indispensável ao homem moderno.
Cabe à escola não só ensinar ao aluno a ler mas também ensiná-lo a utilizar a leitura como fonte de informação e recreação.

Tipos de leitura e seus objetivos
Existem três tipos fundamentais de leitura na escola, que são:

Leitura fundamental ou básica
Este tipo de leitura é indispensável a qualquer nível de aprendizagem de leitura e deve ser feita diariamente. Utiliza livro selecionado especialmente para esse fim e seu objetivo é aprimorar a habilidade de leitura.
No Ensino Fundamental, especialmente até a 6ª série, o aluno precisa de períodos diários de leitura fundamental.

Leitura para fins de estudo ou informativa ou funcional
Este tipo de leitura é feito para obtenção de informações, ou seja, visa ao enriquecimento de experiências. É chamada também de leitura informativa e exige o desenvolvimento de habilidades específicas e o recebimento de assistência sistematizada do professor, desde as primeiras séries até o momento em que o aluno adquira autonomia e consiga estudar independentemente.

Leitura recreativa
Este tipo de leitura torna possível ao aluno enriquecer os seus conhecimentos por meio da literatura, levando-o a ler, de modo independente, gêneros variados, pelo próprio prazer de ler, o que o leva a valorizar a leitura.

Para que o aluno possa usar a leitura como fonte de informações e recreação, é necessário que a escola possua uma biblioteca variada, atraente e com livros sempre ao dispor dos alunos.
Trataremos da leitura para fins de estudo como um procedimento instrucional individualizado, que requer o desenvolvimento de habilidades específicas para que o aluno adquira independência de estudo.

Leitura Informativa: habilidades de estudo
A partir do momento em que o aluno aprende a ler, passa a usar a leitura para fins de estudo em várias situações de aprendizagem.
Assim, como na leitura informativa são usadas geralmente obras especializadas, torna-se necessário que o aluno adquira habilidades especiais para obter maior rendimento nessa atividade.
Essas habilidades, chamadas habilidades de estudo, são:
habilidades para selecionar informações
habilidades para ajustar a velocidade da leitura aos objetivos visados e à natureza do material
habilidades para compreender o que se lê
habilidades para avaliar as informações
habilidades para organizar as informações
habilidades para reter as informações colhidas


Habilidades para selecionar informações
A fim de que a leitura para fins de estudo se torne, cada vez mais uma atividade independente do aluno, é necessário que ele saiba onde encontrar o assunto que lhe interessa, assim como compreenda que os materiais de estudo têm organizações diferentes, que ele precisa dominar.
Assim a seleção de fontes de informações envolve o desenvolvimento de um conjunto de habilidades como:
selecionar a fonte de informação em função da natureza do problema
consultar diversos tipos de fonte de informação
saber utilizar os auxílios dos livros de consulta.

Consultar diversos tipos de fontes
Esta outra habilidade de seleção de fontes de consulta se baseia no fato de que existem várias fontes de informação, cada qual com características próprias que exigem habilidades específicas para o seu manuseio e uso eficiente.
Textos impressos
Enciclopédia
Atlas
Catálogo telefônico
Jornais
Revistas
Mapas

Para a consulta às diversas fontes de informação, o aluno deve aprender gradualmente a manuseá-las. De início, o professor explorará tarefas preparatórias, desenvolvendo as habilidades necessárias a esse fim. O conhecimento da organização do dicionário, uma das mais utilizadas fontes de consulta, por exemplo, envolve uma série de atividades preparatórias como:
dizer o alfabeto em sequência
dizer a letra que antecede a outra
organizar listas de palavras, ordenadas pela primeira letra, primeira e segunda letras, primeira, segunda e terceira letras
organizar caderninhos de endereço e telefones
identificar o sinônimo mais adequado
identificar as palavras-guias
organizar glossários ilustrados.
Somente após o domínio dessas tarefas é que o aluno estará apto a manusear sozinho o dicionário, sempre estimulado a tornar este um hábito de estudo.

Saber usar os auxílios dos livros de consulta
A seleção das informações envolve as habilidades de selecionar a fonte de informação, consultar diversos tipos de fontes de informação e, finalmente, saber usar os auxílio dos livros de consulta. Já foram feitos comentários sobre as duas primeiras. Agora é a vez da última.
Alguns livros apresentam auxílios como índices, gráficos, tabelas e gravuras que, para ser interpretados, requerem habilidades especiais.

Índices
Os índices podem ser de capítulos e alfabéticos.
Para utilizar o índice de capítulo, o aluno deve saber:
localizá-lo e interpretar sua organização
reconhecer palavras-chave
selecionar tópicos e subtópicos
encontrar com rapidez a página
localizar o assunto pelo índice.
A utilização do índice alfabético requer as mesmas habilidades para a consulta a índices de capítulos e mais as seguintes:
encontrar palavras em ordem alfabética
usar referências indiretas
interpretar sinais convencionais usados nas informações.

Tabelas e gráficos
Para a consulta a tabelas e gráficos, o aluno deve:
distinguir as várias espécies de tabelas e gráficos
saber como são organizadas as diferentes espécies de tabelas e de gráficos
interpretar os tipos de tabela e de gráficos
encontrar informações isoladas em tabelas ou gráficos
usar tabelas e gráficos como meios de esclarecimento e fixação de conhecimentos.
Voltamos a enfatizar também que essas habilidades são desenvolvidas desde as séries iniciais de escolaridade, em tarefas adequadas ao nível do aluno e sempre em grau de complexidade progressivamente maior. Tais habilidades, por outro lado, partem sempre da vivência concreta do aluno, o qual começa inicialmente a fazer registros simples das experiências escolares para, posteriormente, compreender registros de outras realidades.

Atividades que promovem a compreensão da estrutura e
a utilização das fontes de consulta e seus auxílios
Uma das condições fundamentais para a boa utilização desses recursos é que os alunos tenham, em todos os níveis, a oportunidade de expressar suas vivências através deles, pois é fazendo que os alunos ficarão preparados para ler e interpretar gráficos, tabelas, mapas etc.
Para desenvolver as técnicas materiais e as operações intelectuais necessárias a fim de que o aluno se utilize corretamente de diferentes fontes de informação, o professor deve desenvolver atividades como as sugeridas a seguir:
Atividades que podem promover o uso de seções, capítulos e parágrafos;
Atividades que podem promover o uso do índice dos capítulos;
Atividades que podem promover o uso do índice alfabético da matéria; e
Atividades para familiarizar o aluno com o uso de auxílios visuais como mapas, gráficos, gravuras, termômetros, tabelas.

Habilidades para ajustar a velocidade da leitura aos seus objetivos
A velocidade da leitura depende de vários fatores:
número de fixações por linha
tempo gasto em cada fixação
velocidade e exatidão na passagem de uma linha para outra e
número de retornos a palavras ou frases lidas.
O aluno, no seu processo de alfabetização, vai desenvolvendo a velocidade de leitura, sempre no sentido de fixar frases inteiras ou partes significativas delas, com vistas à compreensão efetiva. Posteriormente, vai tomando conhecimento das três técnicas de leitura dependentes da velocidade, as quais são utilizadas em função dos objetivos da leitura:

Leitura exploratória – ler passando os olhos – para localizar informações como na consulta a índices, catálogos, dicionários, ou mesmo a capítulos quando o objetivo é localizar um assunto;
Leitura dinâmica – ler rapidamente – para apreender o todo do texto e adquirir visão geral sobre o assunto: e
Leitura compreensiva – ler intensamente – para apreender as ideias e detalhes do texto.
Na leitura para fins de estudo, o aluno utiliza as três técnicas: a leitura exploratória para a seleção de fontes e consulta a índices; a leitura dinâmica para a visão geral sobre o assunto; a leitura compreensiva para adquirir as informações e organizá-las.
Comentemos agora, rapidamente, a compreensão da leitura, cujas habilidades são desenvolvidas sistematicamente na leitura fundamental ou básica.

Habilidades para compreender o que se lê
As habilidades de compreensão da leitura são desenvolvidas habitualmente pela leitura fundamental e pelo incentivo à reflexão em todas as atividades pedagógicas. É um processo gradual, que envolve uma série de habilidades como:
correlacionar o texto de leitura com experiências anteriores
estabelecer relações de tempo, causa e efeito etc.
reconhecer o significado das palavras desconhecidas
identificar as ideias principais, pormenores e ideias implícitas
localizar palavras-chave e organizar esquemas ou quadros sinópticos
perceber a intenção do autor
apreciar textos, julgando-os pelo interesse que despertam.
Como em todas as outras, as habilidades de compreensão são de aquisição gradual.

Habilidades para avaliar as fontes de consulta
A habilidade de avaliar as fontes de consulta, entendida esta avaliação como julgamento sobre a qualidade e a fidelidade das informações, embora muito importante, é, porém, uma das mais difíceis de ser adquirida, pois envolve níveis mais elevados de conhecimentos.
A avaliação das fontes de consulta considera critérios como:
atualidade das informações, em termos do ano da publicação em confronto com o desenvolvimento científico-tecnológico
credibilidade do autor, em função de sua especialidade na área
expressividade da corrente de pensamento à qual se filia o autor
qualidade da tradução
conceito da editora.
Durante o Ensino Fundamental, a avaliação das fontes é feita normalmente pelo professor, que ora indica a bibliografia a ser utilizada, ora apresenta uma lista de opções acessíveis aos leitores, numa escolha orientada. No entanto o julgamento quanto à atualidade das fontes, a amplitude da tiragem ou do conceito da obra ou da editora deve ser incentivado.


HABILIDADES PARA ORGANIZAR, RETER E USAR INFORMAÇÕES

O aluno, ao fazer uso da leitura para fins de estudo, tem em mente algum objetivo específico.
fazer uma palestra
escrever um artigo
participar de discussão
adquirir conhecimentos
responder a uma pergunta
esclarecer dúvidas etc.
assim, torna-se necessário, nesse tipo de leitura, garantir a retenção das informações. A memorização porém, não é um fato puramente mecânico que se adquire pela repetição pura e simples dos dados. É, ao contrário, um processo inteligente, cuja eficácia depende de muitos fatores como a atenção e a concentração na leitura, a compreensão do que se lê e sua utilização posterior.
No entanto, um dos fatores mais decisivos para garantir a retenção é o estabelecimento de relações significativas entre os dados, ou seja, é a habilidade de organizar as informações.
A organização das informações mostra-se muito mais eficiente quando, em vez de um processo puramente mental, o leitor as registra buscando suas inter-relações. O tipo dessas anotações depende do objetivo específico da leitura e pode constituir-se em anotações breves ou pormenorizadas, assim como pode variar quanto ao estilo (resumos ou esquemas).

Organização das informações: produção de anotações e resumos
Ao realizar as atividades de leitura, para fins de estudo, o aluno nunca deverá confiar apenas em sua memória. Ele deve anotar os dados de que vai necessitar, procurando sempre reestruturas as ideias do autor, dando-lhes um cunho pessoal. a anotação deve incluir, é claro, referência à fontes de consulta.
Não há uma fórmula exata que possa ser fornecida aos alunos para suas anotações e resumos. Muito da personalidade de cada um influirá na organização dos dados. Ao professor caberá orientar o pensamento do aluno, analisando com ele o objetivo da pesquisa.
De sua responsabilidade será também dirigir a formação e o desenvolvimento de habilidades essenciais para que as notas possam ser bem tomadas.
Essas habilidades, que se referem à compreensão da leitura, são as mencionadas a seguir.
Selecionar as ideias principais.
Captar minúcias.
Perceber relações entre fatos.
Acompanhar a sequência dos fatos.
Decidir o que é importante e anotar.
Reestruturar as ideias do autor.
Anotar as indicações das fontes de informação.

A fim de que os alunos ganhem habilidades para fazer anotações, deverão participar de atividades graduadas e adequadas ao seu nível, tais como:
dar títulos a partes de textos;
tomar notas sobre um assunto e justificar a escolha dos tópicos;
verificar as notas de leitura tomadas por um colega e comentá-las com ele ou em grupo;
discutir as características de leitura que contribuem para que as notas sejam bem tomadas;
comparar suas notas de leitura com as de um colega;
discutir os pontos fracos e os fortes das notas tomadas por um grupo, antes de se apresentar um relatório;
discutir sobre como tomar notas breves em uma excursão ou em uma palestra;
elaborar fichas de leitura ou completar ficha indicada pelo professor.

Para a habilidade de fazer resumos, o aluno deve:
escrever resumo de um livro recreativo;
tomar parte em uma discussão sobre os tópicos a serem incluídos em um relatório a respeito de determinada atividade;
preparar um resumo de história do livro básico, escrevendo uma sentença, bem clara, sobre cada parágrafo; e
fazer relatório, para orientação dos colegas, sobre uma pesquisa feita.

Organização das informações: estruturação de esquemas
O esquema é um tipo de anotação que acompanha certos padrões previamente estabelecidos.
Para elaborá-lo, o aluno deve descobrir a organização dada ao trecho que consulta, e a relação entre as ideias retirando-lhe apenas as ideias mais importantes, que devem ser anotadas em forma de tópicos e subtópicos.
Se o aluno vai fazer um esquema de informações colhidas em várias fontes, pode organizar uma estrutura adequada ao objetivo da pesquisa e, em seguida, preenchê-la com os dados encontrados.
A escrita é um poderoso instrumento para preservar o conhecimento. Anotar é a melhor técnica para guardar informações obtidas, por exemplo, em sala de aula, livros etc. Manter os apontamentos é fundamental. Logo, nada de rabiscar em folhas soltas. Mas também não se deve ir escrevendo no caderno de anotações tudo o que se ouve ou lê. Tomar notas supõe rapidez e economia. Por isso, as anotações têm de ser:
suficientemente claras e detalhadas, para que sejam compreendidas mesmo depois de algum tempo;
suficientemente sintéticas, para não ser preciso recorrer ao registro completo, ou quase, de uma lição.
Anotar é uma técnica pessoal do estudante. Pode comportar letras, sinais que só ele entenda. Mas há pontos gerais a observar. Quando se tratar de leituras, não basta sublinhar no livro, o que, aliás, não deve ser feito em livros que outras pessoas precisem consultar, pois os inutiliza.
Deve-se passar as notas para o caderno de estudos. O aluno tem de se acostumar à síntese: aprender a apagar mentalmente palavras e trechos menos importantes para anotar somente palavras e conceitos fundamentais. Outros recursos: jamais anotar dados conhecidos a ponto de serem óbvios, eliminar artigos, conjunções, preposições (como na linguagem telegráfica) e usar abreviaturas.
É preciso compreender também que anotações não são resumos, mas registros de dados essenciais que podem ser relacionados entre si por meio de flechas indicativas.



(*) é professor universitário, jornalista e escritor


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