Num certo dia tomei um ônibus na grande São Paulo. No ponto de ônibus onde embarquei subiu logo atrás, um bêbado. Enquanto esperava, ele já havia se estranhado com uma moça que não lhe deu confiança.
Subiu os degraus do ônibus trôpego e se enroscou na roleta do cobrador. Foi meio desequilibrado pelo corredor e não deixou de pisar nos pés de alguns passageiros. Escolheu para sentar bem à frente e do lado oposto ao motorista, não parou de falar alto, tecer comentários próprios dos efeitos etílicos.
O motorista mandou que se calasse, mas não! Ele conseguiu que todos o olhassem com cara de feio. Depois de várias paradas obrigatórias, entra uma gestante que no mínimo estaria no oitavo mês de gravidez. Pagou a passagem e forçou a barriga contra a roleta do cobrador. Infelizmente aconteceu o inesperado: ela soltou um estridente “pum”. Todos olharam espantados! Desesperada, aquela pobre senhora se pôs a chorar de vergonha e não havia como reter seu choro.
O bêbado falava alto e gesticulava; o motorista nervoso e de cara amarrado. De repente, o ônibus desviou para direita e parou rente a guia da sarjeta. O motorista deixou seu assento e partiu p’ra cima do bêbado, pegou-o pelo pescoço e sacudiu aos berros: - Dessa jaaaá! Agora seu mallllditoooo!
No ambiente reinou o silêncio absoluto. O bêbado calado diante da ameaça levantou cambaleante, calmamente se dirigiu rumo à saída. Desceu lentamente o primeiro degrau, no segundo degrau parou, deu o tempo suficiente para uma reflexão. Olhou para traz para todos aqueles olhos faiscantes de ódio, com voz própria de quem havia bebido todas naquele dia, disse:
- Este mundo é mesmo injusto!
O motorista pronto para a agressão gritou na cara do bêbado, por quê? Com voz chorosa esclareceu o bêbado:
- A Dona aí que solta o “pum” e eu é que tenho que descer pô!
Ela voltou a chorar copiosamente, desceu na primeira oportunidade sem olhar para traz, enquanto o bêbado na calçada exigia Justiça.

Nasan Xantox

NR: ele reside em São Paulo/Capital