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Geral

Nação brasileira tem deveres para com a América do Sul.

(*) Nelson Valente - 01 de julho de 2009 - 07:40

Sou democrata, adepto do sistema representativo da interdependência dos poderes, de eleições secretas e livres, dos mandatos a prazo determinado, dos intangíveis direitos individuais, da liberdade de pensamento.

Não sou liberal, nem sou marxista.
A terminologia política a quem muitos continuam apegados, na velha Europa, não tem mais o sentido lógico que assumiu em certa fase da história das ideias. Os conceitos que alicerçaram esquerda e direita, na fase que culminou com o embate entre fascismo e bolchevismo, mudaram de natureza, em consequência da Segunda Guerra Mundial e da explosiva evolução que se opera em nossos dias, e que também a nós nos abarca.
De um lado, vemos tradicionais partidos socialistas da Inglaterra e da Alemanha, revendo postulados fundamentais de seus programas, mas, de outro lado, assistimos – sem que os preceda um ideário nítido – a saltos sociais da envergadura dos operados no Egito, na Índia, em Cuba, na África.
A mentalidade política se refaz ao empurrão dos acontecimentos, e destes deverá resultar uma nova definição para velhos problemas.
Nem mesmo as supostas "cortinas" separam homens e não-homens, e a impossibilidade de uma direção monolítica para os povos se evidencia na rebelião iugoslava, na insurreição húngara, na afirmação de independência da Polônia, no atrito entre a China e a União Soviética (hoje Rússia) com o corolário das crises que proliferam nas organizações partidárias internacionais que se inspiram no exemplo desses países.
Cumpriremos, agora, a decisão do Príncipe Regente, baixada desde 28 de janeiro de 1808.
A Nação, entretanto, tem deveres para com a América do Sul.
É evidente que nossos esforços resultarão improfícuos, se não contarmos com a cooperação e compreensão dos nossos irmão do Norte, por vezes imperfeitamente esclarecidos sobre a necessidade imperiosa, incontornável de eliminação de tantas áreas de pobreza.
Concorre, para isso, talvez a concepção unilateral de que só ao capital privado compete papel básico na luta em prol do futuro latino-americano.
Daí as crises periódicas que afetam o Continente.
Nação independente, soberana, o Brasil prescinde da liderança internacional de qualquer potência. Sabe onde estão os seus direitos e os seus interesses. Não os aliena. Não os sub-roga.
Mas, e por igual, fiel às suas tradições, aos seus compromissos, é avalista determinado e espontâneo da intangibilidade do Continente. Aqui, ninguém interferirá.
Não há lugar, na América, para o exercício de curatelas europeias ou asiáticas, a nenhum título.
Sempre soubemos, nesta comunidade de Nações livres, solucionar as pendências emergentes, diria inevitáveis, sem que tais desacordos justificassem malignas intervenções extracontinentais.
Não as concebo, nem as tolero. Insisto, entretanto, em que a melhor, quiçá a única maneira de exorcizarmos os fantasmas que rondam o Continente, está na imediata efetivação e consolidação do MERCOSUL.
Povos economicamente desenvolvidos, libertos da miséria e do medo, aptos a se realizarem, não teme, e por isto mesmo, não agridem.
Tarda, por outro lado, que fortaleçamos as nossas relações comerciais, para não falarmos nas culturais, com os países da Europa e da Ásia.
Temos caminhado para trás, nos nossos processos de intercâmbio e de trocas, suplantados até pelo atilamento e pela tenacidade de diplomacias mais bisonhas, embora mais resolutas do que a nossa.
Não acredito nas ditaduras do neoliberalismo.
As exercidas em nome de uma classe, traem-lhe as prerrogativas mais elementares. Negam-lhe a liberdade de trabalho. Destroem-lhe os sindicatos. Proíbem-lhe a luta pelo acesso legítimo. Convertem em crime o que é de direito. Cerceiam a livre expressão do pensamento. Suprimem as assembleias. Desmancham a família. Subtraem, ao convívio humano, o calor da amizade e a ternura da confiança.
As ditaduras exercitadas a pretexto de interesse nacional cometem as mesmas ferocidades, incidem em violências idênticas.
O século XXI têm sido um crematório implacável de filosofias políticas, e é preciso, para que encontremos o justo caminho, que, servidos por mente arejada, animados de ideais amplos e generosos, guiados por espírito de luta e afirmação, dispostos a encarnar a soberania da Nação, ávidos de liberdade e só entendendo a política em função do amor ao povo – não nos metamos, por vontade própria, em prisões que por toda a parte estão sendo arrebentadas.
O Brasil não deve mentir à esperança de outros povos. Mas, via de consequência, não pode mentir à esperança de seus próprios filhos. Não recuaremos, porque chegamos até aqui. Não recuaremos, porque estamos dispostos a todos os sacrifícios para atingir o completo desdobramento da potencialidade do nosso solo e subsolo e da capacidade da nossa gente.
As dificuldades naturais de desbravamento de um País de porte gigantesco como o nosso, só podem ser superadas mediante a aplicação sistemática dos seus recursos, em obediência a uma hierarquia de prioridades. A ausência da Administração nos problemas da educação e da saúde, agravando, criminosamente a grande chaga da nossa atualidade, realizou, também, um dos maiores escândalos dos nossos dias.
Ao governo não lhe será lícito, a qualquer título, ainda que sonoro ou pomposo, procrastinar o atendimento das necessidades basilares de saúde, educação e cultura.
A Federação deverá constituir uma expressão vigorosa e harmônica no seu conjunto, elidindo-se as fundas arritmias de seu crescimento.
Dar atenção especial para agricultura e à pecuária, que tudo nos tem dado para ser o que somos, tratamento generoso de assistência técnica e financeira, a fim de que prossigam com vigor renovado na marcha do nosso enriquecimento.
Para a indústria em geral e, sobretudo, a indústria de base, para o comércio interno e o de exportação, alinharemos todos os estímulos de que carecem, na sua missão fecunda de produzir e distribuir riquezas.
Aos trabalhadores além da aposentadoria e assistência médico-hospitalar dos Institutos, tornadas efetivas, além das vantagens de uma previdência social escoimada de compadrio, de filhotismo, de corrupção, tranquilidade mediante a garantia de salários hábeis a mantê-los, e a suas famílias, em padrões crescentes de bem-estar, participando da evolução do País.
Esta nação não precisa propor-se moratória moral, concordata política, falência de qualquer ordem ou natureza.
É uma grande Nação, tão afortunada nas suas riquezas morais, quanto no inesgotável patrimônio ético-espiritual da sua gente.
Povo livre, que, livre de medo, conduz o seu destino.




(*) é professor universitário, jornalista e escritor

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