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Na descoberta do amor, adolescência é período difícil, imagine para quem é gorda

Liziane Berrocal, Campo Grande News - 02 de fevereiro de 2015 - 07:02

Lizi (de preto) e a turma.
Lizi (de preto) e a turma.

Sabe quando eu descobri que ser agressivo é uma arma de “piada” e que você começa a passar dos limites? Quando você não se importa em desfazer de alguém que já desfez de você. Como eu nasci gorda, nunca soube o que é ser magra.

Então, meus principais mecanismos sempre foram de atacar para me defender. Convivi em escola pública e lá tem negro, branco, japonês, alemão, narigudo, gordinho, gordão, gostosa, gorda e magrela. E vivi a adolescência em uma época que não existia “bullying” nem o politicamente correto.

O negro da turma tinha o apelido de “Fumaça”, o pretinho baixinho era chamado de “Neguinho”, o narigudo era chamado de “Pica Pau”, o magricela era chamado de “Vara”, tinha até o fedorento que era chamado de “Fedegoso”. Eu? Era a “gorda”. E todos com os hormônios em ebulição, querem o quê? Namorar, ficar, beijar na boca (na minha época sexo não era essa liberdade toda).

A adolescência é um período difícil? Para quem é gordo é pior ainda. Acredite! Porque os amigos são adolescentes iguais você e mesmo em meio a tantas diferenças, o gordo e a gorda sofrem mais rejeição. Lembro que tinha uma menina na minha escola, que era feia que doía. Sim, porque além de ter um nariz saltado, ela tinha um cabelo horrível. E um dia ela falou para mim: “Mas eu sou magra”. Fiquei pensando naquela frase. E realmente, quando os meninos vão escolher, escolhem as magras. E nisso eu via vantagem, porque era eu quem escolhia.

Como apesar de gorda, era a descolada da turma, muitos meninos me admiravam, e vinham atrás de mim, afinal, eu era gorda, mas uma conquista difícil. Mas eu tinha uma estratégia, como eu sabia que eles nunca assumiam as gordinhas, quando eles chegavam em mim eu até aceitava, mas automaticamente falava: “Só não quero que ninguém saiba”. E com isso, peguei os meninos mais bonitos da turma e aproveitava também da situação. Até que me apaixonava. E isso, era complicado, porque a paixão, ela é dolorida em toda fase da vida, mas na adolescência, é uma loucura, um negócio que dilacera.

E na minha escolha tinha um menino, o nome dele era Paulo Anderson. Eu era apaixonada por ele e achava ele o máximo. Ele era meio maloqueiro, meio doido, estilo adolescente infrator. Lembro que virei um trem atrás dele, a ponto de sair do bairro Cel. Antonino e ir à pé até o bairro Amambai atrás dele nas férias. E a gente “ficava” junto.

Era um ficar diferente, porque o Paulo sempre me dizia que gostava muito de mim, muito mesmo, e demonstrava isso quando estávamos sozinhos. Mas não era uma coisa física, até porque sexo não era uma coisa que fazia parte da nossa vida, assim, livre. Mas quando chegava na escola, a coisa mudava de figura. E foi com o Paulo a grande decepção que eu tive de ser “a gorda”.

No primeiro dia de aula, chegando na escola, com o cabelo crescendo (meu cabelo era horrível, acreditem) e uma calça nova (isso era importante) e sei lá, eu me sentia bem naquele dia. Quando cheguei perto da porta ele soltou a seguinte frase: “Olha a gorda emagreceu e deu jeito no cabelo”. E aquilo acabou comigo, tanto que lembro até hoje deste momento, já que lembro com detalhes. E ali, era a minha paixão, por quem eu tinha me arriscado nas férias, me destratando na frente de todos por ser gorda.

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