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Mutirão distribui alimentos para evitar novas mortes

Helio de Freitas, de Dourados - 04 de março de 2005 - 14:40

Sopão, cestas básicas, suplemento nutricional e reforço no atendimento de saúde são as medidas que já foram colocadas em prática na reserva indígena de Dourados para tentar mudar o triste quadro de miséria e desnutrição que assola os guaranis-caiuás. Seis crianças com menos de cinco anos de idade, comprovadamente desnutridas, morreram de janeiro até agora na mais populosa reserva indígena de Mato Grosso do Sul, com 11 mil moradores.
Na manhã desta sexta-feira, homens do Exército e funcionários da prefeitura e do governo do Estado começaram a distribuir cestas básicas a 136 famílias cujos filhos são considerados em risco nutricional. A distribuição é emergencial, mas deve seguir por pelo menos seis meses. Os alimentos, 31,2 toneladas ao todo, foram enviados pelo Programa Fome Zero. Ananias Rodrigues Viana, da Secretaria Municipal de Assistência Social e que está coordenando a distribuição das cestas na aldeia Bororó, garantiu que todo o estoque de alimentos será entregue aos índios. A entrega das cestas acontece de casa em casa.
Outro reforço alimentar é o sopão, que está sendo feito pelos próprios índios em microrregiões das aldeias Bororó e Jaguapiru. A base de carne, miúdos, legumes, verduras e macarrão, a sopa é feita sob a supervisão de nutricionistas da Funasa. Antonio José Passoni, um dos nutricionistas que trabalham com os índios, afirma que o sopão ajuda os agentes de saúde a reunirem os moradores das aldeias para orientações.
Médicos, enfermeiros, agentes de saúde e nutricionistas da Funasa, reforçados pela equipe que veio de Brasília na semana passada, estão percorrendo as aldeias Bororó e Jaguapiru, orientando os moradores, medindo e pesando as crianças. Na semana que vem começa a distribuição do complemento alimentar conhecido em todo o país como “multimistura”. O suplemento, desenvolvido pela Pastoral da Criança com a mistura de farinha de soja, de trigo e de milho e sementes, está sendo fabricado desde ontem na máquina instalada no Núcleo de Atividades Múltiplas da aldeia Bororó. Doado por uma empresa privada à Unigran (Centro Universitário da Grande Dourados), que mantém o núcleo, a máquina estava desativada desde 2003.
“Não existe ação de milagre. Não haverá resposta imediata e só o trabalho emergencial não vai resolver os problemas, que são crônicos”, afirma o médico Zelick Trajber ao comentar a força-tarefa governamental que está sendo desenvolvida para socorrer os índios. Trajber, que trabalha com a saúde dos índios e já esteve ameaçado de ser demitido pela Funasa – as ameaças diminuíram após o caso ser amplamente divulgado – defende mudanças profundas no trabalho de atendimento aos índios. Segundo ele, problemas estruturais que as equipes de saúde enfrentam, como falta de profissionais, falta de medicamentos, falta de viaturas e baixos salários, precisam ser resolvidos para que o trabalho comece a apresentar resultados em 60 dias, no mínimo.
Segundo o médico, está havendo uma discussão entre as esferas governamentais, a Funasa e os profissionais para se corrigir esses problemas. “É preciso reforçar o trabalho que nós já vínhamos realizando”, cobrou. Trajber defende também mudanças no sistema de distribuição de alimentos. “A burocracia do cadastramento não pode continuar impedindo que famílias índias recebam as cestas. Teve caso de índio que não recebe os alimentos pela falta de um documento”, reclamou. “Tem que romper o esquema burocrático para que [a distribuição de cestas] seja funcional”.
O médico disse que os problemas estão sendo discutidos, mas as mudanças profundas ainda não aconteceram. “Tem que se ouvir a base, quem está com o pé na lama”.

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