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MS teve queda drástica na produção de alimentos
Em Mato Grosso do Sul a produção dos principais alimentos presentes à mesa do consumidor teve queda drástica nos últimos anos. É o que aconteceu, por exemplo, com a tradicional dupla arroz e feijão e também com o trigo. A ameaça de falta de alimentos é motivo de preocupação mundial e a discussão já chegou na ONU (Organizações das Nações Unidas). Isso porque ao longo dos anos a produção não acompanhou o crescimento da população e da demanda.
Enquanto culturas mais rentáveis como a soja e o milho tiveram forte expansão desde a década de 70, os alimentos mais consumidos pela população perderam espaço e o consumidor sente estes efeitos no bolso. A disparada no preço do feijão começou no ano passado e agora é o arroz que está bem mais caro.
A área plantada com arroz em Mato Grosso do Sul já chegou a ser de um milhão de hectares e para esta safra a previsão é de pouco mais de 37 mil hectares. Antigamente a maior parte das plantações era de sequeiro e o arroz foi usado para abertura de áreas de pastagem, segundo explica o superintendente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Sérgio Rios. A cultura perdeu espaço e ficou mais tecnificada.
Embora a produtividade tenha aumentado, com a produção irrigada em áreas de várzeas, a produção despencou. Há 30 anos o Estado chegou a produzir 420,1 mil toneladas e para esta safra a previsão é de 194,6 mil. A redução de produção nos últimos anos é apontada como conseqüência dos baixos preços pagos pelo produto.
E é o fator mercadológico também apontado como principal responsável pela redução na produção do feijão. Há 30 anos o Estado chegou a produzir 34 mil hectares com o grão, passando a 27 mil há uma década e para esta safra a previsão é de produzir 14 mil hectares.
Neste caso, a produção é concentrada na agricultura familiar e com preços ruins os produtores acabaram migrando para outras culturas, como o milho. Porém, a redução do plantio acarretou também na redução da reserva de sementes e os custos da produção subiram. Os insumos estão caros e o produtos descapitalizado, diz Sérgio Rios.
Não há anúncio de incentivo para produção de arroz e feijão, mas o governo federal, diante da discussão sobre o desabastecimento mundial, já adotou algumas medidas para incentivar a produção do trigo. A intenção é elevar em 25% a área plantada nos Estados. Hoje nível de dependência do trigo importado no País é de 70%.
Em Mato Grosso do Sul o trigo já chegou a ocupar uma área de 428 mil há 20 anos, mas na última safra somente 31,7 mil hectares receberam a cultura. Recentemente o governo federal anunciou aumento de 20% no preço mínimo do milho e aumentou o limite de financiamento. Diante do incentivo, a previsão é que a próxima safra ocupe área de 37 mil hectares rendendo 59 mil toneladas em grãos. Sérgio Rios.
Ele explica que a cultura é de risco e que a produtividade no Estado é bem menor que em outros locais com maior aptidão, como o Paraná. Enquanto em Mato Grosso do Sul a média de produtividade oscila entre 1,4 mil quilos a 1,5 mil quilos por hectare no Paraná é de 2,1 mil quilos. Até os anos 70 e 80 a comercialização era estatizada, quem comprava era o governo.
Quando acabou o incentivo o risco ficou muito grande e a produção foi diminuindo, conta Sérgio Rios. O governo brasileiro começou a apostar nas importações como alternativa mais barata, mas como a falta do produto se tornou um problema mundial agora está retomando os incentivos.
Mais rentáveis Enquanto, principalmente por uma questão de preços, os principais alimentos perderam espaço nas terras de Mato Grosso do Sul, culturas mais rentáveis como a soja e o milho avançaram a largos passos. O milho que na década de 70 ocupava cerca de 100 mil hectares na safrinha agora passa dos 800 mil. No ano passado o grão teve forte valorização puxada principalmente pela destinação da produção norte-americana para o etanol. As exportações brasileiras de milho atingiram um volume recorde.
A soja que há 10 anos ocupava uma área de 494 mil hectares hoje está em 1,7 milhão de hectares. Além do aumento da área plantada o grande impulso na produção foi pela adoção de tecnologias que elevaram a produtividade. A safra deste ano atingiu 4,9 milhões de toneladas, dez vezes mais que na safra de 1997/98 embora a área plantada seja 3,5 vezes maior.
A vedete do momento, porém, é a cana-de-açúcar. Embora a expansão da cultura seja franca e não faltem incentivos para o plantio, Sérgio Rios não acredita que o produto esteja avançando sobre a produção de alimentos e sim sobre áreas de pastagens degradadas.
A discussão tem de existir para se ter limites, mas não acredito nessa essa invasão. Em Maracaju, Rio Brilhante e Sidrolândia, pode ter entrando onde tinha soja e milho, mas as novas usinas estão fora do eixo de produção de grãos e alimentos. Estão em áreas de pastagem como Paranaíba e chapadão do Sul, finaliza Rios.
Historicamente a área plantada com cana no Estado era de 150 mil a 160 mil hectares. Nesta safra passa a 260 mil e há uma projeção de que até 2012 chegue a um milhão de hectares.