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MS tem 2 mil crianças trabalhando, estima Secretaria

Aline dos Santos e Marina Miranda / Campo Grande News - 12 de junho de 2006 - 16:46

A conscientização de pais de 29.650 crianças de Mato Grosso do Sul garante que meninos e meninas com idades entre 7 e 16 anos fiquem longe de atividades de laborais. São as crianças e adolescentes que, nos últimos anos, deixaram de trabalhar na coleta de lixo, de vender objetos em semáforos ou até o serviço doméstico e nem por isso pararam de contribuir para o orçamento familiar, uma vez que são assistidas pelo Peti (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil). Mas pelo menos 2 mil crianças do Estado ainda trabalham, segundo estimativa da coordenadora de Desenvolvimento de Programas e Projetos da Setass (Secretaria de Estado do Trabalho, Assistência Social e Economia Solidária), Marina Rosa de Sampaio Bragança.

A reportagem do Campo Grande News comprovou facilmente isso hoje, no lixão da saída para Sidrolândia foram vistas pelo menos três crianças, de no máximo 12 anos, recolhendo lixo. Isso depois de diversas ações do Ministério Público que já determinou, inclusive, que a Polícia Militar vigie e impeça as crianças de entrarem no local.

Elas estão expostas a riscos que, segundo quem cuida do assunto, muitas vezes ocorrem por falta de conhecimento sobre o quanto o trabalho envolvendo as crianças pode representar problemas, incluindo distúrbios psicológicos, desvios na coluna e até fobia social. “Tem pessoas que entendem que o trabalho não faz mal e isso desestimula a denúncia. Precisamos desmistificar a idéia”, ressalta Marina. Hoje é dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, data escolhida para discutir os avanços obtidos com a erradicação da prática.

“Lugar de criança é na escola”, defende Marina, que atua no programa desde 1996, quando as atividades foram instituídas em Mato Grosso do Sul, primeiro Estado a desenvolver o Peti. Na ocasião, os maiores problemas foram observados na região de Três Lagoas, onde muitas crianças trabalhavam em carvoarias. A inserção de meninos e meninas no trabalho rendia às famílias R$ 50,00, portanto, para retirá-los do mercado, o governo precisaria ressarcir os valores aos pais, que começaram a ser contemplados com o benefício, proveniente do Fundo Nacional de Assistência Social.

Em 1996, pais de 1.500 crianças identificadas pelo Peti começaram a receber R$ 50,00 para manter os filhos na escola. Com a universalização do programa, o valor foi reduzido, porém o número de garotos e garotas assistidas aumentou. Há dez anos, as 1.500 crianças de 14 municípios de Mato Grosso do Sul eram assistidas pelo Peti, enquanto hoje a cobertura alcança 29.650 meninos e meninas espalhadas pelas 78 cidades do Estado. Somente em Campo Grande, 1.763 crianças são assistidas pelo programa.

Pais de crianças residentes na zona rural recebem R$ 25,00 para manter os filhos longe das atividades laborais enquanto na área urbana os valores variam de R$ 25,00 a R$ 40,00, por criança. Mensalmente o investimento é de R$ 928.585. Marina explica que o objetivo do programa é manter as crianças na escola e garantir que tenham ações complementares, que incluem atividades sócio-educativas, de lazer, além do acompanhamento escolar.

Mudança familiar - Na casa do padeiro Paulo Pereira de Arruda, 41 anos, os filhos Kely (16), Danilo (16) e Daniele (15) estudam pela manhã e participam de atividades esportivas e educativas de tarde. Há seis anos, contudo, o quadro era diferente.

Depois da escola, Kely e Daniele trabalhavam de babá e Danilo saia pelas ruas a procura de alguém para engraxar os sapatos. “Foi um momento muito difícil. A mãe deles havia morrido e eu estava desempregado, daí eles mesmos decidiram que iriam ajudar em casa”, relembra. Arruda tem mais três filhos para cuidar, todos do primeiro casamento.
“Depois que eu casei com a Maria ela bateu contra essa história do trabalho e a gente foi atrás do Peti. Conseguimos bolsa para os três e eles pararam”, conta. “Hoje eu fico mais tranqüilo. Aliviado deles não terem de ficar na rua. Criança na rua é sinal de problema”, emenda.

Arruda diz que os filhos aproveitam mais a infância hoje e que divide o benefício recebido (R$ 80,00) com os jovens. “Aqui a gente conversa muito. Eu sempre digo que a gente faz parte de uma engrenagem, cada um faz sua parte e acaba ganhando” - o ganho não é apenas moral, mas financeiro, observa. Cada uma das meninas recebeu um celular de aniversário, comprado, em parte, com o dinheiro recebido.

Para Kely, o período de trabalho ficou para trás. Entretanto, embora admita que prefere a vida que leva hoje – ela passou do Peti para o agente jovem - ela garante que se tivesse, faria tudo de novo. “Meu pai sempre me ajudou em tudo, eu tive que ajudar”.

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