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MS experimenta criação "ecológica" de gado

João Humberto, Campo Grande News - 29 de dezembro de 2009 - 12:30

No sistema silvipastoril, gado convive com árvores, consome energia por conta da sombra disponível e produtor pode obter lucro em longo prazo com a venda de madeira, por exemplo.

Um projeto simples e ao mesmo tempo benéfico ao meio ambiente é o sistema silvipastoril, em que numa mesma área o gado é criado em meio a árvores, resultando na produção conjunta de madeira e carne e evitando erosões ao solo. Em Mato Grosso do Sul, esse tipo de consórcio ainda é desenvolvido por poucos pecuaristas, talvez pela demora no crescimento das árvores e rendimento em longo prazo.

A integração do sistema “lavoura, pecuária e floresta” é desenvolvida experimentalmente desde 2004 na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Gado de Corte, em Campo Grande. O segundo experimento começou em 2007.

Conforme o engenheiro agrônomo e pesquisador da Embrapa, Valdemir Antônio Laura, o objetivo inicial do sistema era garantir a produção de sombra para o bem estar dos animais. Ele explica que a região Centro-Oeste tem grande parte do seu território formado por cerrado e apresenta temperaturas muito acima das de conforto térmico ao gado.

Com sombra no rebanho, o gado sente menos calor e automaticamente não consome muita energia. Dados de pesquisas feitas em outras regiões em que o consórcio é implantado apontam que a fertilidade do gado é alterada, resultando em taxas significativas de prenhes, aumento da libido do touro, interferência no cio das fêmeas e até mesmo no peso dos bezerros.

Outro aspecto interessante ao animal que tem sombra disponível é a diminuição no consumo de água, que cai até 20%. Uma vaca costuma beber cerca de 50 litros de água por dia e pelo sistema, ela poderá beber dez litros a menos.

No entanto, antes da junção do gado com as árvores, é necessário que o agricultor plante a floresta, geralmente usando o eucalipto, que é a espécie florestal que cresce com mais rapidez. A partir de um ano, o gado já pode ser colocado na área.

É necessário que antes da chegada do gado, as árvores estejam medindo 8 centímetros de diâmetro. Caso contrário, os próprios animais destroem a árvore.

De acordo com Valdemir, a implantação do sistema garante maior produção de carne e ajuda na conservação do solo e da árvore, evitando significativamente casos de erosões, principalmente as causadas pela chuva. Com isso, a pastagem deixa de ser degradada, se tornando fértil e protegida por folhas.

Mas, para que o sistema seja eficaz, o engenheiro agrônomo ressalta que é necessário a plantação de quantidade adequada de árvores, afinal, se for plantado um número muito grande, a produção pode cair e prejudicar o pasto e em casos de plantio de poucas árvores, haverá menos sombra.

No primeiro momento da experiência, são avaliadas de 180 a 1,3 mil árvores por hectare, o que identifica uma floresta pura. A densidade e o crescimento das árvores, produção de capim, umidade relativa do ar e velocidade do vento também são analisados.

Na sequência, o agricultor precisa pensar na diversificação da produção, que pode interferir diretamente em vários aspectos, como: produção de carne, safra, entressafra, preço e saúde do boi.

A quantidade de gado na área depende do tamanho do pasto. No entanto, o sistema permite de 200 a 300 árvores por hectare, que é um número suficiente para preencher o sombreamento.

Não é todo pecuarista que arrisca implantar esse sistema em sua propriedade, afinal, a receita só começa a girar depois de um período de três a quatro anos, embora quando a floresta completa um ano e o gado é colocado já seja possível obter lucro. Por isso é que o sistema vem sendo desenvolvido com mais intensidade nos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

A colheita do eucalipto, por exemplo, acontece entre sete e oito anos. Mas se o mercado estiver em queda, a árvore pode continuar plantada no local a custo zero, só engrossando. Automaticamente o valor dela aumentará.

Custos - O custo para a implantação do sistema silvipastoril não é alto e depende da quantidade de árvores, porém o principal limitante é o tempo.

Atualmente, para o plantio de um hectare de floresta pura de eucalipto, o pecuarista teria de investir de R$ 2,5 mil a R$ 3 mil por hectare, num espaço com 1,3 mil árvores plantadas. Se forem plantadas 400, o custo aproximado cai para R$ 1,2 mil.

As vantagens são muitas, mas para que não ocorra prejuízo na produção, deve ser feito um planejamento. “É necessário escolher a espécie certa, fazer a adubação correta, matar as formigas e implantar um asseio para evitar a propagação do fogo em casos de incêndio”, destaca Valdemir.

No Brasil, o maior projeto envolvendo sistema silvipastoril é desenvolvido pela empresa Votorantim no cerrado de Minas Gerais, numa área de 12 mil hectares. Em Mato Grosso do Sul, no município de Três Lagoas, recentemente o sistema foi lançado pela VCP (Votorantim Celulose e Papel) como uma forma de chamariz e incentivo aos pecuaristas locais.

Rentabilidade - O pecuarista Francisco Maia, presidente da Acrissul (Associação de Criadores de Mato Grosso do Sul), começou a desenvolver o sistema há três anos, tendo colocado o gado na área há um ano e meio.

Segundo ele, o sistema é vantajoso, pois agrega valor ao negócio e multiplica o ganho. “Mesmo assim, a rentabilidade da madeira é maior que a da pecuária”, garante.

Maia classifica o sistema como sustentável e acrescenta que os lucros com a produção são variados, já que a madeira serve para produzir energia, ser vendida a indústrias moveleiras e também a usinas.

Em sua propriedade, o Rancho Cayman, o sistema é desenvolvido em aproximadamente 500 hectares.

Em proporções maiores, numa área de 1,4 mil hectares destinada única e exclusivamente ao sistema silvipastoril, o diretor do Grupo Mutum, Geraldo Mateus Campos Reis, começou sua produção há quatro anos.

Na fazenda Ilha da Mata, em Ribas do Rio Pardo, onde o sistema é implantado, a criação do gado com árvores permite a entrada de capital mais cedo. A informação é do pecuarista Moacir Reis, filho de Geraldo.

Para ele, manter o gado com mais de uma fonte de renda se torna mais rentável, mesmo que os lucros sejam obtidos em longo prazo.

Com terras altamente férteis, Mato Grosso do Sul vem se destacando no cenário do sistema silvipastoril por começar a engatilhar suas primeiras produções. A Embrapa Gado de Corte tem um papel de destaque nesse cenário, pois através de seus experimentos tem difundido a idéia de um sistema totalmente ambiental e produtivo, em que o principal objetivo é garantir o amplo desenvolvimento do solo no consórcio “lavoura, pecuária e floresta”.

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