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Militar compra corpo e frauda a própria morte

04 de junho de 2006 - 15:12

O cabo da Aeronáutica Madi da Silva Gomes, 45 anos, fraudou a própria morte ao comprar o cadáver do biscateiro Germano Marcos Brandão, que tinha cerca de 40 anos, por R$ 2 mil, em 2004.

Com a morte do marido, a esposa do militar receberia cerca de R$ 477 mil em seguros e pensões. A família de Germano levou nove meses para saber que seu corpo estava enterrado no Cemitério de Olinda, em Nilópolis, no RJ, com o nome do cabo na lápide.

Germano morreu vítima de atropelamento na Via Dutra, em 9 de dezembro de 2004. A descoberta de que seu corpo foi enterrado como sendo Madi levou à abertura de investigações sobre o esquema na Baixada Fluminense. O militar está preso na Base Aérea do Galeão desde setembro de 2005.

Segundo o advogado de Madi, José Guilherme Costa de Almeida, o militar, lotado na Base Aérea de Manaus, teria recebido a oferta da fraude durante um jogo de futebol, em Itaboraí. Ele estava de licença no Rio quando uma pessoa que disse ter influência no Instituto Médico-Legal (IML) de Nova Iguaçu lhe ofereceu o kit-enterro. Madi foi avisado da existência do cadáver do biscateiro, que, na época, não tinha sido identificado.

O enteado de Madi, João Mariano das Chagas Júnior foi ao IML, 11 dias depois da chegada do corpo, e o reconheceu como o do padrasto. A fraude foi oficializada no cartório de Registro Civil do 1º Distrito de São João de Meriti. A certidão de óbito, obtida por O DIA, tem o selo do Tribunal de Justiça e certifica que Madi "morreu" em 20 de dezembro de 2004. A declaração de óbito do corpo de Germano, assinado pelo legista Marcos Ulysses Freres em 10 de dezembro, atesta a morte de Madi por traumatismo cervical e hemorragia.

Denúncia de parente
Em setembro de 2005, Madi foi preso, em Vilar dos Teles, RJ, pela Delegacia de Defraudações e por agentes do Serviço de Inteligência da Aeronáutica, usando documento de identidade com a sua foto e o nome de outra pessoa. De acordo com o Ministério Público Militar, o golpe foi descoberto porque um parente contou a um militar que o cabo estava vivo.

O advogado José Guilherme alega que seu cliente tem problemas psiquiátricos. Ele argumenta que Madi, dono de uma loja de informática em Manaus, estaria tentando se livrar das ameaças que sofria por causa da cobrança de cheques sem fundo. Ele também estaria se sentindo perseguido pelo comando do quartel onde servia.

Desinteresse gerou suspeita
O desinteresse da família de Madi em comparecer à 64ª DP para acompanhar as investigações do atropelamento levantou suspeitas. Os policiais, então, foram buscar a verdadeira identificação do corpo. Pelo procedimento-padrão, um cadáver que chega sem documentos ao IML, como o de Germano, tem suas impressões digitais comparadas com as que estão no banco de dados do Instituto Félix Pacheco (IFP) e do Detran-RJ. As digitais de Germano, no entanto, foram atribuídas a Madi.

Desconfiados, os policiais fizeram nova comparação com dados do Detran e descobriram parte da fraude. Outra possível falha no trabalho do IML de Nova Iguaçu foi permitir que o corpo sem identificação fosse liberado em nome do militar. Quando não há certeza na identificação, o parente assina termo de reconhecimento, mas o corpo é sepultado como "não-identificado".

Funcionários do IML na mira
Funcionários do Instituto Médico-Legal de Nova Iguaçu que estavam de plantão no dia da liberação do corpo, são alvo de investigação de policiais da 64ª DP. O principal foco do inquérito é descobrir como o cabo Madi conseguiu comprar o cadáver.

O cabo também é investigado em processo que corre na 5ª Vara Criminal de Nova Iguaçu, por falsidade ideológica e falsificação de documentos, e em inquérito da Justiça Militar em Manaus, onde era lotado.

Jornal O Dia

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